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Escondido na Netflix

AS GAROTAS DO FUNDÃO | Crítica do Neófito (Escondido na Netflix)

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Se nossos caríssimos tripulantes permitirem, gostaria de iniciar os comentários de hoje com relatos de cunho bastante pessoal, mas que têm total relação com a série que indicamos, As Garotas do Fundão (Espanha, 2022), pérola em 6 curtos e deliciosos capítulos, escondida e disponível na Netflix.

Lembro da turma de minha primeira graduação, em design de produto na antiga FUMA (atual Escola de Design da Universidade de Minas Gerais – UEMG), na qual, no auge de minha juventude – e pela primeira vez! – vi que as mulheres da minha idade tinham vida sexual ativa e gostavam de sexo, quando, numa aula de modelagem, uma colega levou um sabonete de motel, que dizia ser o seu material preferido para treinar a arte da escultura, além do aniversário de outra colega, cuja vela veio na forma de um pênis de borracha.

Nessa época, era o mais novo estudante bolsista da turma e muito pobre, tanto que, constantemente, não tinha dinheiro para lanchar e, infelizmente, nunca concluí o curso, por falta de fazer o estágio, já que, como arrimo de família, não podia me dar ao luxo de largar o serviço na estatal de telecomunicações em que trabalhava pelo incerto futuro como designer.

Mas ainda me recordo do rosto de vários colegas e das histórias inusitadas e marcantes, como a da menina evangélica que, nos dois primeiros semestres, usava roupas vitorianas até que gradativamente nos dois semestres seguintes, foi se libertando até seu figurino passar a contar com curtíssimas minissaias e pintura vermelha nos lábios agora atrevidos.

Muitos anos depois, já pai, resolvi voltar para a Universidade, concluindo o curso de Direito, numa situação completamente oposta: desta vez, eu era o terceiro mais velho aluno do curso vespertino da PUC-Minas, unidade São Gabriel, diante de vários calouros deslumbrados, os quais fugiam para transar nos andares superiores e desocupados do prédio que nos abrigava no turno da tarde e, não raro, entraram em coma alcoólico nas diversas calouradas realizadas.

Infelizmente, apesar de marcantes, mantive amizade e contato apenas com dois (ou três) colegas desta segunda faculdade, sem saber do rumo tomado pelos hoje designers com quem ombreei por quase 5 anos na ex-FUMA.

Percebo, porém, como alguns amigos conquistados em outros ambientes que até hoje mantêm encontros regulares com seus antigos colegas de “colegial” (atual ensino médio) e faculdade ou lá encontraram sua “cara metade”.

O fato é que o período escolar – não importando a idade que se o vive – é verdadeiramente marcante na nossa vida.

Em As Garotas do Fundão – produção espanhola de 2022, produzida e disponibilizada pela Netflix – cinco mulheres (que um dia foram seis) se conheceram quando um professor da escola em que estudavam as colocaram juntas, por uma divisão alfabética, no fundo da sala de aula. Ali nasceu uma amizade simbiótica entre elas, mais forte até que seus laços familiares e afetivos.

A partir dessa premissa, a série se inicia com as cinco amigas – todas em meia-idade e bastante comuns – em frente ao espelho, raspando a cabeça, o que rapidamente sugere que uma delas está em tratamento contra algum tipo de câncer. Elas estão saindo para uma curta viagem de férias em Cádiz, com o objetivo de fazerem coisas que nunca fizeram, antes da quimioterapia que uma delas terá que iniciar. Todas escrevem – em pedaços de papel do mesmo tamanho, em letra de forma e com a mão esquerda – um desafio a ser diariamente sorteado e obrigatoriamente realizado pelas cinco durante o passeio.

Foto: Divulgação (ah, que vontade de pegar o mochilão e viajar com os amigos!…)

Sendo assim, a série nos leva a passear junto com as cinco amigas pelo belo litoral espanhol cadizense, numa estadia de verão durante a qual, respectivamente a cada dia, terão que “experimentar com uma garota”, “experimentar uma droga ilícita”, “cometer um delito”; “resolver questões pendentes”, e “falar somente a verdade”.

A série, mesmo sendo rápida, leve e muito bem-humorada, aborda questões sobre amor, casamento, sexualidade, problemas parentais, questionamentos sobre a maternidade, com excelente desenvolvimento de personagem. Ao final do sexto e último episódio, ficamos quase íntimos da lésbica e digital influencer Alma (Monica Miranda); da deliciosamente rabugenta Leo (Mariona Terés); da contida e certinha Sara (Itsaso Arana); da completamente livre Olga (Godeliv Van den Brandt); e da complexa Carol (Maria Rodríguez Soto), ao conhecermos seus desejos, amores, complexos e dramas explícitos e secretos. Tudo, como dito acima, de forma leve e bem-humorada.

Mostra como questões angustiantes – como a possibilidade de morte iminente; a mudança de rumo na vida afetiva, seja pela saída do armário ou pela intenção de se divorciar; a opção pelo não envolvimento para não se machucar etc. – podem ser abordadas de forma séria e, ao mesmo tempo, sem peso, ainda que se careça de um pouco de aprofundamento.

As atrizes dão um show de interpretação, sendo magnética suas presenças em tela. Todas são bonitas, mas não nos moldes hollywoodianos: elas têm gordurinhas, curvas, estrias, peitos caídos, celulites e, ainda assim, exalam natural sensualidade. Representam a mulher normal e cotidiana, que poderíamos encontrar em qualquer esquina em que dobrássemos desapercebidamente. Emplacam diálogos divertidos e tensos com igual desenvoltura e derramam lágrimas que dá vontade de imediatamente lhes estender um lenço.

A direção é acertada, nunca oscilando ou fazendo bruscas transições entre a atmosfera lúdica das férias e a realidade cotidiana das cinco amigas.

Um final satisfatório e amorosamente afetuoso – ainda que cada uma das personagens tenha que lidar com os problemas às vezes amargos de sua realidade – coroam esta série de fotografia solar; produção modesta, mas caprichada; tema feminista e feminino; e interpretações marcantes e sinceras.

Fácil de se assistir, representa uma verdadeira pequena pérola ignorada e escondida no amplo menu de opções da Netflix.

Recomendamos aos nossos tripulantes mais esta deliciosa viagem! E aproveitem para procurarem antigos colegas de escola nas redes sociais e, quem sabe, marcar um encontro para relembrar os velhos tempos ou reviver antigas paixões juvenis!

Foto: Divulgação (viva cada dia como se fosse o último, pois, uma dia será!)


Nota: 4 / 5 (ótimo)

 


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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