Críticas
ONDE ESTÁ MEU CORAÇÃO | Um Retrato Sobre a Dificuldade da Recuperação de Dependentes Químicos (Review)
Acompanhamos a vida da médica Amanda, que tinha tudo, mas ao mesmo não tinha nada. Enquanto ela tinha dinheiro, emprego, marido e família, ela sentia-se solitária, depressiva e usuária de drogas, tanto lícitas, quanto ilícitas.
No que diz respeito aos entorpecentes, muitas pessoas de cara acreditam que a série mostrará sem qualquer glamourização, os motivos pelos quais a protagonista se encontrou nessa triste realidade da dependência química.
Porém, a trama focou na tentativa de interromper o ciclo vicioso da intensa abstinência, representada pela recuperação. Mostrar isso em uma produção audiovisual é algo super importante, pois a sociedade brasileira tem muitos tabus em relação aos dependentes químicos, com destaque na pré concepção de pensamentos relacionados ao crack, como o caso de atingir apenas as classes menos favorecidas. Porém, o vício é abundante e ele independe da sua classe social. A partir viés de desconstrução, a principal característica mostrada foi a de que a dependência química é uma doença, não só de drogas, mas, também, de álcool, exigindo um enfrentamento de todos.
No caso de Amanda o “todos” engloba seus pais e seu marido.
Perante a eles, além do choque da situação, ela demonstra o sintoma essencial desse percurso que é a negação, um sentimento que envolve tantas outras sensações, como a angústia, a ansiedade, o desespero e, claro, o sufocamento.
O espectador acaba se sentindo completamente inserido nesse personagem, seja pela interpretação física primorosa: ela conseguiu transparecer sofrimento em meio às várias recaídas ao longo dos episódios.
Amanda consegue não aparentar ser uma coitada, muito menos vilã, e sim vítima de uma doença perturbadora que assola a vida de muitos.
Graças ao trabalho magnífico da diretora Luísa Lima a inserção do expectador torna-se algo perfeito, a partir da captação de planos dramáticos. Houve a focalização nos rostos dos personagens e nas paisagens, em uma surreal fotografia utilizando a captação solar, em diversas cenas. Além da sonoridade, captando o barulho dos pássaros em Santos e do trânsito em São Paulo em conjunto com a trilha sonora. Dá para sentir emoção e sensibilidade com Amanda e de querer oferecer um acalanto.
Seus familiares, repletos de culpa, com exceção da irmã Júlia, demonstram-se dispostos a fazer qualquer coisa para ajudar a jovem doutora, pois não queriam que ela fosse consumida gradativamente pelas drogas.
Porém, o maior veio por parte da mãe: ela não confiou nos trabalhos da clínica de reabilitação da Dra. Célia, retirando sua filha do local, justificando que o cuidado seria domiciliar. Apesar disso dar totalmente errado, necessitamos salientar que tratamento é algo lento e gradual, algo que a família necessita compreender para evitar recaídas sequencialmente.
Amanda sai à procura de drogas por São Paulo, por não suportar a ausência do crack. A cidade, é repleta de viadutos e de becos pichados, lugares que representaram como uma capital pode ser opressora, com pessoas em situação de rua que são esquecidas pela sociedade, algumas delas viciadas em entorpecentes.
A produção chegou a gravar cenas na Cracolândia e no contexto de adentrar a trama nos quesitos negativos dessa triste constatação do nosso século, há a retratação a questão da dívida na compra compulsória de estimulantes ilícitos.
Muitas famílias e pessoas perdem seus bens materiais para a realização da compra desses produtos. E enquanto a dívida não acabar, o vendedor vai atrás do dinheiro para cobrar, na trama quem paga a conta e quase morre é Miguel o marido de Amanda leva uma facada do traficante Beto. Vale ressaltar que Miguel é quem apresenta os entorpecentes para ela e a abandona logo no início do tratamento para ficar com outra mulher.
Miguel, desde o princípio, mostrou ter um relacionamento abusivo com Amanda, sendo autoritário, egoísta e possessivo. Ele termina o casamento culpando ela e não enxerga a necessidade de amparo e fragilidade dela.
Vivian surge na vida de Miguel para abalar as estruturas do jovem casal, ela é uma jovem ricaça dependente química e sobrinha de Edson Rizo, um ricaço. Mas, ela acaba sozinha, sem amor, sem Miguel e sem felicidade.
Já o pai David, desiste de sua filha, postura totalmente diferente da sua esposa. O médico envolve-se com sua colega de trabalho, ele estava 20 anos sóbrio sem ingerir álcool desde a morte de seu filho em um acidente doméstico, dando a entender que foi um afogamento, ele não contou em momento algum para as filhas sobre a seu vício.
Os sofrimentos do presente e do passado fazem com que ele retome ao vício, a atuação de Fábio Assunção é algo surreal, dando veracidade em cada momento e maravilhosamente mostrando para todos todo o seu talento.
O personagem morre em um acidente durante uma ligação com a filha, e acreditava que havia deixado o vício como herança para ela. Amanda, retorna para casa mesmo em meio às abstinências do caminho.
Júlia, é a filha mimada que morre de ciúmes da irmã por não ter a atenção dos pais. Ela fez uma promessa para ver a sua família feliz, para isso optou por apenas ter relações sexuais após o casamento. Ela, se mostrou sempre muito distante, ao querer, por diversas vezes, ir embora pra casa e, no final, a história, em relação ao dinheiro e ao anel da avó das duas irmãs tá na “paz de Deus”. Ela acaba perdendo a virgindade com Miguel mas acaba sendo tarde mais pra ser bem trabalhado esse rebuliço.
O tratamento, a recuperação e a redenção de Amanda supera as falhas da série, apesar das recaídas e der apontado a arma para sua família, ela consegue ser melhor, tanto no que se refere ao uso de drogas, quanto à vontade de tirar a própria vida. Seu tratamento, na clínica de reabilitação que tinha encontros periódicos dos Narcóticos Anônimos, o cuidado com as plantas e hidroginástica, foram essenciais para efetivar o processo de reabilitação.
Amanda, recebe a tão sonhada proposta de emprego no Acre para trabalhar com mães dependentes químicas, com o intuito de elas não se afastarem dos filhos, enquanto realizam o tratamento. No meio desse acontecimento, ela recebe na porta de sua casa um bebê com o seu nome, ela acaba adotando essa criança pertencente a Camila.
Por fim encerra-se a série em um Congresso Internacional com o depoimento de Amanda que expressa as seguintes palavras:
(…) É possível recuperar seres humanos. Hoje, no mundo, há cerca de 250 milhões de pessoas que são usuárias de drogas. É muita gente! E cada uma dessas pessoas têm valor. É notório que a condição das Políticas Públicas, no formato atual, está defasada e, o que a gente precisa, é pensar se o consumo de drogas deve ser tratado como crime. Do quê adianta prender um usuário de drogas? A gente faria a mesma coisa com o alcóolatra? Esse tipo de conduta só dificulta o tratamento e desvia o dinheiro que poderia ser utilizado na recuperação dessas pessoas. É preciso entender e tratar, e esse problema é de todos nós. (…)”
A atriz Letícia Colin foi indicada ao prêmio Emmy de 2022 na categoria melhor atriz, vale lembrar que a atriz venceu essa categoria no Prêmio APCA de Televisão.
O roteiro é assinado por Laura Rissin e Matheus Souza, Luísa Lima assume a direção e o elenco conta com a presença de Letícia Colin, Fábio Assunção,Daniel de Oliveira,Mariana Lima e grande elenco.
Disponível no Globoplay
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