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Críticas

VIDAS PASSADAS – Quando o simples é magnífico | Crítica do Neófito

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Nesta fase pós Vingadores Ultimato indiscutivelmente irregular (e ruim) do MCU, um dos poucos produtos audiovisuais que manteve o bom nível foi a segunda temporada da animação What If…? (tradicionalmente conhecida como “o que aconteceria se”).

A premissa – talvez levemente inspirada no Efeito Borboleta, oriundo da Teoria do Caos, que apregoa que o bater de asas de uma borboleta num certo continente poderia causar um tufão no outro lado do mundo – parte da imaginação de que, caso certos eventos passados tivessem se dado de forma ou pouquinho diferente, todo o cenário, a partir dali, seria completamente outro.

Na animação e no cinema isso pode ser divertido, belo e poético, bastando ver filmes como Peggy Sue: Seu Passado a Espera (1986), Um Homem de Família (2000), De Repente 30 (2004) e Como Seria Se…?, para ficar apenas em alguns clássicos.

Todavia, na vida real, não é incomum que as pessoas – às vezes até com certa amargura – fiquem imaginando como teria sido sua vida, caso tivessem tomado decisões diferentes em algum ponto do passado. “E se eu tivesse beijado ele/ela naquela festa?”; “e se eu tivesse ido naquela viagem?”; “e se eu tivesse aceitado aquela proposta?”; “e se eu tivesse dito ‘sim/não?’”; “e se não tivesse chovido naquele dia?”.

E por aí vai.

O filme Vidas Passadas – recém cotado como concorrente ao Oscar de melhor filme de 2023 – dirigido com sensibilidade ímpar pela estreante Celine Song, aborda com seriedade, lirismo e realidade essa pergunta íntima por vezes tão incômoda: “e se?”.

No caso do filme, ‘e se’ a jovem coreana Nora (Greta Lee) não tivesse ido morar no Canadá e Estados Unidos com seus pais, separando-se de seu amigo e paixão pré-adolescente Hae Sung (Teo Yoo)? A paixão teria prosperado? Eles teriam continuado namorando pela juventude afora e se casado? Teriam constituído família, com filhos, casa e cachorro?

Foto: Divulgação (viver – e navegar – é preciso…)

‘E se’, doze anos após a separação forçada (afinal, como uma criança poderia não acompanhar os pais numa mudança de país?) eles tivessem a chance de retomar a paixão juvenil?

‘E se’, mais doze anos depois, eles finalmente se reencontrassem, agora adultos, já casados, estabelecidos?

Como tudo poderia ter sido? Como dar adeus a uma história pessoal potencialmente possível? Ou aos sentimentos que subsistiram e permanecem na intimidade, apesar de nunca expressados? A “felicidade” seria maior naquele “outro” caminho?

Olhem só quantos questionamentos este texto já trouxe em tão poucos parágrafos! Tudo isso provocado por um filme com uma hora e meia de duração e orçamento de “meros” 12 milhões de dólares!!

Isso demonstra que nem sempre estarão nas superproduções de grandes diretores e grandes estúdios os melhores filmes.

Com uma diretora estreante em longas, elenco pouquíssimo conhecido, baixíssimo orçamento, duração pequena, falado em inglês e coreano, Vidas Passadas não fica nem um pouco atrás dos blockbusters com quem concorrerá à estatueta dourada, apesar de se saber que não terá a menor chance real de levá-la para casa.

Todavia, apesar dos aspectos formais modestos, em termos de conteúdo, o filme beira à perfeição: direção sensível e delicada, capaz de retirar o melhor de seu elenco, por sua vez, profundamente envolvido e comprometido com seus papeis. Por conseguinte, atuações acertadíssimas, realistas, mas sem nunca perder o lirismo. Fotografia inspirada (ainda que sem arroubos ou aspectos de grande destaque). Edição cuidadosa, de modo a conferir um ritmo adequado ao filme, com pouquíssimas “gorduras”. Filmagem embasada em outros filmes excelentes (como a trilogia Antes do Amanhecer, do Pôr-do-Sol e da Meia-Noite). Diálogos inteligentes, respeitosos. Construção e estudo de personagens magníficos. Roteiro inteligente, coeso, coerente, profundo.

Ainda no tocante à direção, reparem a sensibilidade da diretora em sempre colocar os personagens principais, nos seus encontros pessoais futuros, ao mesmo tempo sempre em movimento, mas, ou em “lados opostos” ou separados por algum cenário, anteparo ou pessoa, até a cena final no restaurante (que também abre o filme de forma espetacular), quando, finalmente, estarão lado-a-lado, olhando nos olhos um do outro e falando a mesma língua. Lindos simbolismos. Ah, e para entender a referência do título – que remete poeticamente à tese da reencarnação – só assistindo mesmo e segurando (ou não) as lágrimas no fim.

Não há muito mais o que se falar desta pequena pérola que é Vidas Passadas (aliás, mais um acerto da produtora A24).

Apenas assistam.

Até a próxima viagem, tripulantes!

Foto: Divulgação (“olhos nos olhos, quero ver o que você diz”)


Nota: 4,5 / 5 (excelente)

 


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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