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Críticas

SONIC: O FILME | Crítica do Neófito

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Deixem-me começar esse comentário com um depoimento pessoal.

Quando eu era mais novo, cursando ensino médio e me preparando para o então “vestibular” (para os mais novos, era o exame para ingressar na faculdade, numa época “pré-Enem”) e o dinheiro era beeeeeeem curto, tomei uma decisão consciente de não me deixar levar pelo fascínio que os vídeos games tinham sobre mim.

Apesar de trabalhar desde os 16 anos com “carteira assinada” (outra coisa que logo-logo pode virar relíquia histórica também), eu era muito pobre, do tipo que tinha que escolher lanchar na faculdade ou pagar o ônibus de volta para casa. Meu único luxo eram as revistas em quadrinhos, naquela época, publicadas em “formatinho” pela Editora Abril. E, mesmo assim, tinha que escolher quais iria colecionar e quais apenas “namorar”, pois, a grana realmente não dava para comprar todas as que eu gostaria (seja DC ou Marvel).

A decisão foi acertada: meu bolso não me permitiria a dois luxos! Como não dispunha de condições para comprar ou ganhar um vídeo game, a opção era procurar as lojas de fliperama, cujas fichas eram proibitivas para mim em grande quantidade. Mesmo me permitindo um joguinho de vez em quando, resisti bravamente.

Ainda assim, sempre acompanhei – de fora! – o mundo dos games e sua evolução, mantendo uma distância segura, tal como os ex-dependentes químicos fazem com relação ao objeto de seu vício.

E, assim, vi a criançada, que na minha época jogava Pacman, hoje jogar God Of War ou Battlefront, passando por Super Mario Bros, Minecraft e tantos outros games (atualmente, um amigo me falou entusiasmadíssimo da experiência de jogar um game de Star Wars com óculos de imersão 3D, justificando o quanto o filme de SpielbergJogador Nº 1 – tem mais conexão com uma possível realidade do que se poderia imaginar a princípio: simplesmente viciante!).

Foto: Divulgação

No distante ano de 1991, a SEGA, juntamente com a Sonic Team, criaram um dos grandes ícones dos games – que se mantém entre os 5 mais jogados do mundo -,  Sonic, focado em um ouriço azul com supervelocidade e dotado de anéis que, na verdade, são portais interdimensionais, o qual, junto com seus amigos Miles “Tails” Prower (uma raposa de duas caldas capaz de voar e de alcançar velocidades quase tão grandes como as de Sonic) e Knuckles (o equidna vermelho super-rápido também), entre outros personagens, lutam contra o gênio maléfico Dr. Eggman “Robotnik”.

Foto: Divulgação

Dois anos depois, em 1993, diante do estrondoso sucesso do personagem azul, surge o desenho animado homônimo, que fez bem menos sucesso que a contraparte dos games, mas ainda assim é lembrado com carinho pelos fãs do ouriço apressadinho.

Foram precisos, todavia, 29 anos para que a tecnologia e a arte de interpretar diante de telas verdes e companheiros de cena inexistentes a serem digitalmente inseridos depois se aprimorasse o suficiente para que o ouriço velocista pudesse ganhar uma versão live action, cuja produção foi anunciada em 2017.

Um trailer de abril/maio de 2019, bastante criticado em razão do visual prévio do protagonista, fizeram com que o lançamento do filme fosse adiado de novembro daquele ano para fevereiro de 2020. Foi uma decisão sábia, apesar do aumento de mais de 5 milhões de dólares ao orçamento do filme, pois, a mudança na composição de Sonic, aumentando seus olhos e carregando no cartunesco ao invés da versão mais “realista” primeiramente apresentada, tornou o personagem mais próximo de sua origem nos games e o filme explicitamente mais leve e infantil.

Foto: Divulgação

Os adjetivos acima – “leve e infantil” – no entanto, não representam uma crítica negativa, como pode parecer a princípio. Aliás, muito antes pelo contrário.

O tom simples e fantasioso funcionam muito bem para o filme, surpreendendo como uma ótima adaptação de um game para o cinema, o que não é pouca coisa, haja vista os vários desastres que Hollywood produziu ao tentar capitanear para o formato da tela grande os personagens e tramas de jogos eletrônicos.

Os acertos começam pela escolha de Ben Schwartz (Turbo) para dar voz e sentimento a Sonic. Tarimbado pelo timing cômico e experiência como dublador, o ator confere uma personalidade cativante ao ouriço azul.

James Marsden – que já possuía experiência em interagir com personagem digital, como em Hop: Rebeldes sem Páscoa (que título nacional abominável!!!) – está super à vontade como o insastifeito xerife provinciano Tom Wachowski, que se torna involuntariamente amigo e aliado de Sonic, casado com Maddie Wachowski (interpretada pela belíssima Tika Sumpter), numa bem-vinda amorosa relação interracial, em que é o branco bonitão que sofre bullying da família da esposa!

Foto: Divulgação

Mas, voltando às suas saudosas e inesquecíveis caretas e trejeitos múltiplos, é Jim Carrey quem rouba a cena como o vilão Doutor Eggman Robotnik, inclusive  com direito a uma rápida aparição com o bigodão que o personagem ostenta nos games e desenhos animados. O ator, após algumas imersões em personagens mais complexos e sérios, aceitou voltar à velha performance escrachada, repleta de expressões hilárias e do humor físico que o notabilizaram. E Carrey prova que, assim como andar de bicicleta, não dá para se esquecer da sua capacidade de improviso, mostrando-se super à vontade no papel extremamente caricato que teve que interpretar.

Foto: Divulgação

Os efeitos são corretos e precisos. Não impressionam, mas também não decepcionam em momento algum. X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014, outro filme em que James Marsden atua) já havia explorado de forma muito eficiente o efeito visual de alguém dotado de supervelocidade, com o agravante de ser com um ator de “carne e osso” e não digital, como é o caso aqui. A fotografia é muito bonita, seja em tomadas aéreas de São Francisco, como as paisagens da interiorana Green Hills, passando pelos mundos de Sonic e o dos cogumelos.

Foto: Divulgação

O roteiro e a direção do estreante em longa-metragens Jeff Fowler se casam harmonicamente. Simples em sua concepção, o texto e tramas de Sonic: O Filme não escondem seu direcionamento para um público mais infantil. A evolução da relação de amizade entre Tom Wachowski e Sonic é previsível como respirar oxigênio, mas ainda assim ocorre de forma orgânica. A inexperiência de Fowler transparece em algumas sequências, tornando as interações entre os personagens algumas vezes meio rasas, por exemplo. Mas ele segura bem as pontas no humor e nas cenas de ação e dá a impressão de não ter oprimido os atores, conferindo-lhes liberdade para atuarem sem muitas amarras (principalmente Jim Carrey, claro!).

Foto: Divulgação

Outro acerto do filme é não apelar para sentimentalismos bem típicos do gênero animação ou animação com live action. O final é esperado e anunciado ao longo de todo o filme, mas, ainda assim, funciona, talvez justamente pela honestidade de não querer ser mais do que é.

Em suma, ao final da sessão (recomendo que vocês procurem a versão legendada!), percebe-se, claramente, que não se assistiu a nenhum grande clássico do cinema, mas, no entanto, sai-se da sala de exibição com uma gostosa sensação de leveza e bom humor, além de um sorrisinho nos lábios muito bem-vindo.

Com duas rápidas cenas nos créditos, que venha a próxima fase do jogo!!!

 Foto: Divulgação

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Nota: 4 / 5 (ótimo)

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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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