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OSCAR 2020 | Comentários do Neófito

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PARASITA

Foto: Divulgação

A 92ª edição do Oscar foi uma cerimônia memorável!

(para ver a lista de premiação, vejam a matéria do meu amigo Chico Bicalho)

Pela primeira vez, a nonagenária Academia de Cinema norte-americana concede a estatueta dourada para um filme estrangeiro, falado em outra língua que não o inglês.

Trata-se de Parasita, dirigido por Bong Joon Ho, que também levou o prêmio de melhor diretor.

Para não deixar dúvidas sobre a hegemonia de Parasita, o filme sul-coreano ainda se sagrou vencedor nas categorias de melhor Roteiro Original e Melhor Filme Estrangeiro (lembrando que o longa já havia ganhado o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e a tão almejada Palma de Ouro de Cannes).

Mas por que tamanho sucesso?

Muito se escreveu – e ainda se escreverá – sobre o filme (vide a crítica do Marcos Roberto para Nerdtrip, em novembro, que já antecipava que o “melhor filme do ano vinha do Oriente”). A análise aqui manifestada representa a opinião pessoal deste colunista.

Parasita, além de ser um excelente exercício de cinema – roteiro inteligente, reviravolta tanto da história, quanto da atmosfera (gênero) do filme – ainda conta com um elenco afiadíssimo – difícil dizer quem se sai melhor – uma direção extremamente segura e sensível e uma mensagem incômoda e realista, apesar de contada por meio de metáfora.

Aliás, a Arte, em Parasita, mostra sua relevância ao que vem acontecendo no mundo atual.

A Coreia do Sul sempre foi utilizada como exemplo de um país que, abraçando os princípios capitalistas e liberais com veemência, conseguiu se elevar a um patamar econômico e social invejável.

Mas a questão da desigualdade estrutural – num paralelo muito forte com o Chile, que seria o modelo liberal positivo nas Américas – está lá, explícito na obra de Bong Joon Ho. O crescimento econômico, manifesto em índices da Economia Oficial, ao que parece, não necessariamente se converte em benefícios sociais gerais, tendo, pelo contrário, o condão de concentrar renda de forma, às vezes, cruel. Sem nenhum apelo ao discurso socialista, o filme sul-coreano cutuca essa ferida, mas de uma forma não maniqueísta, pois não há vitimização da “pobreza”, nem demonização da “riqueza”.

Ao final da obra, não dá para saber ao certo quem “parasita” quem: se é a família pobre que tenta se virar, ainda que desonestamente; se é a família rica, que explora e discrimina a mão de obra barata; se é a família que literalmente se esconde nos porões e vive dos restos dos ricos. E é isso que é instigante no longa de Joon Ho. Propõe questionamentos e perguntas e deixa a resposta no ar, pois, a vida tem o costume de não colaborar com os planos que a gente faz (emulando uma fala do filme).

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BONG JOON HO

Foto: Divulgação

O cineasta sul coreano realmente parecia não acreditar na sua façanha, chegando a se desculpar por tantas estatuetas!

Ao ganhar o Oscar de melhor diretor, o cineasta citou uma frase de Martin Scorsese como uma das suas inspirações, provocando uma acalorada aclamação da plateia e a genuína emoção do veterano diretor (cujo filme concorrente – O Irlandês – saiu de mãos abanando). E enalteceu seus concorrentes de forma sincera e humilde.

Certamente Bong Joon Ho será capitaneado por Hollywood, restando saber se ali ele terá liberdade para continuar fazendo filmes tão marcantes como seu multipremiado Parasita.

Mas mesmo que continue em seu país, a expectativa sobre seu próximo trabalho será enorme!

Torço muito para a continuidade do sucesso deste talentosíssimo cineasta!

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JOAQUIN PHOENIX

Foto: Divulgação

A vitória de Joaquin Phoenix era, talvez, a maior barbada e a menos surpreendente de todas (como Parasita ganhar o Oscar de melhor filme estrangeiro).

Seu discurso repleto de ativismo confirmam o tom político da cerimônia deste ano, ou, pelo menos, a preocupação que os membros da Academia e classe artística hollywoodiana – por conseguinte o ramo cultural dos EUA/mundo – estão tendo com o cenário político mundial.

Apesar de certa aclamação nas redes sociais, este não foi o melhor discurso que Phoenix fez em razão das várias premiações que arrebatou por sua impressionante e antológica interpretação de Coringa, no filme homônimo. A parte em que abordou questões ecológicas, por assim dizer, soou panfletária e superficial, mas o ponto em que ele faz uma mea culpa por seu conhecido temperamento irascível nos sets de filmagens foi mais sincero e bonito.

O Oscar mais merecido do ano, pode-se dizer. Afinal, a composição e todo o trabalho de entrega ao personagem levados a efeito pelo ator são, no mínimo, espetaculares!

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DEMOCRACIA EM VERTIGEM

Foto: Divulgação

Em outros tempos, os brasileiros estariam radiantes com a indicação de uma obra 100% nacional para a mais balada premiação cinematográfica do planeta.

Mas, neste ano e contexto atuais, a vitória ou derrota do filme da cineasta Petra Costa viraram como que uma disputa futebolística, sendo sua derrota para o documentário Indústria Americana, comemorada e lamentada nas redes em igual medida, como o final do Brasileirão.

Quase ninguém, todavia, olhou para o aspecto cinematográfico da obra, preferindo execrar ou endeusar a mensagem que Petra quis transmitir com sua produção.

Não Vai Ter Golpe, filme-documentário sobre o mesmo tema e acontecimentos narrados em Democracia em Vertigem, só que produzido pelo MBL direto para o Youtube, nem ao menos é citado nos infindáveis debates nas redes, como contraponto ao filme de Petra Costa, mesmo sendo uma obra de ponto de vista diametralmente oposta e tão parcial quanto o concorrente ao Oscar, apesar de ser, claramente, “menos cinema” (do ponto de vista técnico) que sua contraparte.

De qualquer forma, a vitória de Indústria Americana e seu tema voltado para o subemprego nos EUA e China, bem como a questão (crise) do sindicalismo, também denotam, mais uma vez, o caráter político da indústria cultural norte-americana e mundial, preocupada com o avanço de uma onda planetária que, para muitos, tem o nome de conservadora, mas que, tecnicamente analisada, está muito mais para reacionária (quiçá, autoritária).

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BRAD PITT

Foto: Divulgação

O galã de olhos verdes finalmente abocanhou sua estatueta de melhor ator coadjuvante, e merecidamente!

Depois de 4 indicações por suas atuações (como produtor de Doze Anos de Escravidão ele se sagrou campeão) finalmente o ex-marido de Angelina Jolie levou para a casa uma estatueta dourada por seu trabalho como ator, ainda que como coadjuvante, como o dublê e suposto assassino de sua mulher, Cliff Booth, em Era Uma Vez em Hollywood, de Quentin Tarantino.

Pessoalmente, acho que o ator foi mais marcante em obras como Os Doze Macacos, Clube da Luta e Snatch: Porcos e Diamantes, mas não dá para negar que seu carisma e a composição minimalista para o dúbio personagem tornam Cliff Booth magnético e uma das melhores coisas de Era Uma Vez em Hollywood.

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LAURA DERN

Foto: Divulgação

A veterana atriz de Veludo Azul e Coração Selvagem (ambos de David Linch) reinou desde o final de 2017, quando deu corpo e voz à Vice-almirante Amilyn Holdo, em Star Wars VIII: Os Últimos Jedi. Em 2018, a californiana emplacou o instigante drama O Conto e brilhou em História de Um Casamento, como a advogada Nora Fanshaw, numa composição brilhante, que não ameniza nos defeitos de caráter da personagem, mas ao mesmo tempo a apresenta como uma voz extremamente lúcida naquele contexto litigioso.

Oscar de atriz coadjuvante muito bem entregue!

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RENÉE ZELLWEGER

Foto: Divulgação

A texana de nome complicado já havia ganhado uma estatueta, em 2004, como coadjuvante no belo e esquecível Cold Mountain.

Depois de atuar em vários filmes relevantes e díspares – como Jerry MaguireEu, Eu Mesmo e Irene – seu estrelato veio com a interpretação de uma típica britânica, a personagem Bridget Jones.

Sucessivos fracassos, porém, fizeram com que a atriz e produtora sumisse do mapa hollywoodiano por uns seis anos, retornando fisicamente mudada – a comparação das fotos de seu rosto foram impressionantes.

Sua reestreia, em 2016, ocorre com uma nova visita ao papel que a notabilizou no filme O Bebê de Bridget Jones.

Mas sua volta ao topo da constelação de astros aconteceu ano passado (2019), por meio de sua fortíssima interpretação de outro ícone cinematográfico, a eterna Dorothy, Judy Garland, no filme Judy, que acaba tendo muitos paralelos com a vida pessoal da atriz.

Tomara que, dessa vez, Zellweger saiba escolher melhor os rumos de sua carreira, pois, talento de sobra ela certamente tem.

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VINGADORES: ULTIMATO

Foto: Divulgação

A maior bilheteria de todos os tempos foi escancaradamente esnobada pela academia, não ganhando nem o natural Oscar de melhor efeito especial.

Por quê?

A par da disputa tola e divertida entre “DC” e “Marvel”, pessoalmente eu já esperava que a Academia não fosse prestigiar o filme.
Steven Spielberg levou décadas de cinema de altíssimo nível para conseguir ganhar sua primeira estatueta, mesmo contando, em seu currículo, filmes como A Cor Púrpura (que revelou Whoopi Goldberg), Império do Sol (que lançou Christian Bale) e ET (unanimidade absoluta).

Martin Scorsese – o “avatar” da crítica ao MCU – foi indicado 14 vezes e só ganhou uma única vez, como melhor diretor por Infiltrados, tendo sido esnobado com Taxi Driver (que ganhou a Palma de Ouro), Os Bons Companheiros (seu grande clássico), Cassino, etc. e tal.

Peter Jackson, nos dois primeiros O Senhor dos Anéis, foi solenemente ignorado pela Academia.
Com Retorno do Rei, todavia, era impossível fechar os olhos para aquele fenômeno, que encabeçou a melhor bilheteria do ano por 3 anos consecutivos! Aí resolveram entupir o cineasta de estatueta!

O MCU trouxe uma proposta até então inédita para o universo cinematográfico.
Trata-se quase de uma “série” – como House, Gray’s Anatomy, Law and Order etc. – só que feita no cinema, em 10 anos de construção cuidadosa. Cada filme é um episódio a contar uma história isolada, mas que, juntos, caminham numa trama comum.
Foram bilhões de dólares, num projeto absolutamente nunca feito antes e que estabeleceu um padrão de “cinema” bastante complicado de se sustentar.
Ir ao cinema para assistir ao Irlandês? Que nada! Prefiro sair de casa para ver o show de luzes e cores do MCU!

Acho que a esnobada do Oscar a End Game vai muito por aí.
Premiar esse Leviatã do cinema seria privilegiar uma fórmula que pode complicar cada vez mais a sobrevivência do cinema “comum”, mais autoral.

Parasita, o grande vencedor da premiação deste ano, por exemplo, cresceu sem ter uma bilheteria expressiva.
Seu sucesso se deu mais pelo “boca a boca”, pela reprodução doméstica do que pelo “estouro” nas salas de exibição.
Se a Academia prestigiasse o MCU, ficaria uma pergunta: como filmes como esse (mais “artísticos”) podem sobreviver enquanto “cinema” (para ser visto numa sala de projeção)?

Citando uma fala de meu já mencionado amigo Chico Bicalho: “gosto muito de cinema, mas o que me fazia sair de casa, enfrentar fila, pagar ingresso eram e ainda são os filmaços de ação e aventura como Tubarão, Alien, Guerra nas Estrelas, Homem-Aranha, Exterminador do Futuro, Cabo do Medo etc. E eles sempre foram considerados filmes menores!”.

Valeu galera!

Continuem acompanhando o Nerdtrip, curtindo, compartilhando e debatendo com a gente!

Escrevam nos comentários se vocês concordam ou não com as análises aqui apresentadas.

Até a próxima viagem!!!

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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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