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Críticas

ÁGUAS PROFUNDAS – O erotismo (e o amor) não é mais o mesmo… | Crítica do Neófito

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Quem – da minha geração de cinquentões – não fantasiou com o striptease de Kim Basinger, em 9 ½ Semanas de Amor, de 1986, que atire a primeira pedra!

Há, também, os maridos que passaram a se borrar de medo de pular a cerca após o show de interpretação de Glenn Close, no papel da amante psicopata Alex Forrest, de Atração Fatal (1987).

Por último, muita gente ficou com inveja de Robert Redford, e com extrema raiva de Woody Harrelson, pela negociata feita em torno da então deslumbrante Demi Moore, no divisor de opiniões Proposta Indecente (que ganhou o Framboesa de Ouro de pior realizador, em 1993).

Poderíamos ainda citar o imagético Flashdance, de 1983 e sua inesquecível dança final; ou o denso Infidelidade, de 2002, e seu melancólico epílogo.

O que todos esses filmes têm em comum?

O fato de terem sidos dirigidos pelo diretor britânico Adrian Lyne – atualmente com 81 anos de idade – e a característica de que todos possuem uma alta carga erótica, às vezes mais explícita, outras vezes apenas sugerida, mas sempre perceptível.

Esse erotismo patente na filmografia de Lyne, aliás, fizeram com que o diretor fosse limitado, nas décadas de 1990 a meados de 2000, à realização de várias produções televisivas menores, quase sempre com estética softcore. O que foi uma pena; afinal, Lyne também é o diretor do ótimo e angustiante Alucinações do Passado (1990), cujo tema envolve a Guerra do Vietnã, experimentos científicos e horror psicológico, provando sua versatilidade e capacidade diretivas. Somente com o citado Infidelidade (2002) é que se pode dizer que o britânico retornou às chamadas “grandes produções”, contando com Richard Gere e Diane Lane como protagonistas do longa.

Agora octogenário, Lyne retorna com força ao comando da claquete, lançando o irregular, mas muito interessante, Águas Profundas, produção da Hulu e lançamento pela Amazon Prime Video, estrelado por Ben Affleck e a belíssima Ana de Armas (cada vez mais cotada e badalada em Hollywood).

Trata-se, na chamada oficial do filme, de um thriller psicológico-erótico, que conta a história do rico e bem-sucedido casal do sul dos EUA formado por Affleck e Armas (respectivamente Vic e Melinda Van Allen), pais de linda Trixie (vivida magistralmente pela fofura encarnada Grace Jenkins), os quais dormem em quartos separados e, aparentemente, vivem o chamado “casamento aberto”, mas em que, aparentemente, só Melinda vive aventuras romântico-sexuais fora do casamento, na frente dos demais amigos ricos e para a profunda angústia de Vic.

Na prática, porém, o filme não tem lá muito de erótico (a série global Verdades Secretas, por exemplo, é mil vezes mais erótica, em sentido estrito). Limita-se a algumas cenas que sugerem atos sexuais ou a uma única tomada de nudez (quase gratuita) de Ana de Armas. A parte de thriller também é questionável. Há pequeno mistério em torno da apenas mencionada e repercussionada morte de um dos “amigos” de Melinda, anterior ao recorte de tempo mostrado no filme; mas nada que intrigue tanto o espectador. O fato é usado por Vic como anedota para amedrontar um jovem novo “amigo” de Melinda, mas rapidamente perde força, haja vista a insistência com que rapidamente é repetida. Depois, surgem outros crimes “misteriosos” envolvendo outras “amizades” de Melinda, mas já desprovidas de qualquer sutileza, quanto a sua autoria.

Foto: Divulgação (a perspectiva do marido)

A temática psicológica, todavia, é bem interessante.

O casal Vic e Melinda, apesar de dormirem separados, das turras regulares e do desconforto do marido face à liberdade afetivo-sexual da esposa, não deixam de declararem amor entre si, aparentemente de forma sincera (algumas vezes dúbia) e de permanecerem juntos, lembrando da impropriedade de se divorciarem.

Há, evidentemente, uma ligação profunda entre os dois, quase um pacto, no qual o já aposentado, tímido e muito sério Vic (rico em razão da invenção de um chip ou aplicativo usado pelo exército norte-americano) parece sempre tenso diante das escapadas de sua mulher, mas, ao mesmo tempo, parecendo depender disso como fonte de vida, para que possa escapar de uma vida tediosa, sem sobressaltos, “entediante” (nas palavras dos próprios personagens) e, porque não dizer, sem sentido.

Melinda explode em extroversão, beleza, sensualidade e vivacidade, principalmente fora de casa e nas muitas festas que o casal frequenta. A rotina doméstica claramente a irrita (apesar do amor à filha, facilmente se aborrece com a argúcia precoce e gostos infantis da pequena, daí a frequente contratação de babás). Ela lança olhares carentes e questionadores a Vic, mas também parece ter certa carência e dívida de gratidão para com ele, o que torna seu comportamento bastante intrigante. Paralelamente, sua quase compulsão em arrumar novos “amigos” e jogá-los na cara de Vic é curiosa e irracional, afinal, seu marido, apesar de “aceitar” aquela situação, mostra-se profundamente ressentido com tudo aquilo e, apesar de poder, não devolve na mesma moeda ou tem a iniciativa de pedir o divórcio (a certa altura, sugere-se que a filha pode ter sido um arranjo entre o casal, como forma de ter mais um pilar sobre o qual manter a relação).

Foto: Divulgação (a perspectiva da esposa)

Desse modo, tentar decifrar a dinâmica que envolve o casal, bem como a motivação que os mantêm juntos – algo que fica mais claramente sugerido na cena final do filme – revela-se como o que realmente instiga na película, já que o erotismo é brando (para dizer o mínimo) e o thriller é fraco.

Apesar das irregularidades mencionadas mais acima, a câmera de Lyne mantém-se firme, conseguindo alta performance de seus atores. O filme é dinâmico, bem fotografo (trabalho competente, mas sem brilho, de Eigil Bryld) e realizado.

Affleck se sai bem no papel do homem taciturno e introvertido, o que aproxima sua interpretação de seus papeis anteriores como Batman ou O Contador. Mas ele é bom ator, compensando essa caricatura com charme e carisma. A composição física do personagem também é questionável. Afinal, seu rosto é caracterizado, o tempo todo, como portador de barba mal-feita (a famosa “cara suja”), mas que, magicamente, mantém-se no mesmíssimo patamar por todo o filme, sem nunca crescer ou ser raspada (quem tem barba sabe o que estou falando).

Ana de Armas é quase uma força da natureza. Bonita de doer, expressiva como poucas, entrega-se aos seus personagens sem frescuras. Suas aparições roubam a cena e reforçam o enorme talento da atriz de origem cubana, o que também explica tantos papeis relevantes nos últimos tempos (como em Blade Runner 2049, Entre Facas e Segredos, 007 Sem Tempo para Morrer etc.).

As quase duas horas do filme passam rapidamente e, apesar das falhas, prende a atenção sem muito esforço.

Por fim, uma outra pequena nota positiva sobre a trilha sonora bem azeitada, principalmente com a canção que a irresistível Grace Jenkins canta em certa cena do filme (inteligentemente completada durante os créditos finais).

Águas Profundas, portanto, tenta – o que o próprio título sugere – ser uma história repleta de camadas, de certa aura de mistério subjacente no tocante ao que realmente mantém aquele casal unido, apesar da tensão que há entre eles. Baseado no romance homônimo, de 1957, da escritora e roteirista Patricia Highsmith (criadora do icônico personagem Tom Ripley), o filme vale ser assistido e confrontado com o livro que lhe serviu de inspiração.

De modo que você pode ver o filme tranquilo, sem medo de sair “molhado” ou “afogado” das águas nem tão profundas assim de tal experiência.

Foto: Divulgação (ah, nada como uma família “perfeitamente” feliz!!)

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Nota: 3 / 5 (bom)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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