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Críticas

REACHER – O melhor e o pior dos EUA | Crítica (tardia) do Neófito

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Em 2012, o astro Tom Cruise, dando um tempo na persona de Ethan Hunt da franquia Missão Impossível, resolveu se arriscar no papel do ex-policial do exército Jack Reacher, que largou a burocracia estatal ao passar para a reserva, com o objetivo de se tornar nômade a percorrer os EUA, buscando sempre “fazer a coisa certa”, ainda que isso significasse ir contra certas leis (leia-se: fazer justiça a qualquer preço e com as próprias mãos). Tal risco se deu no filme Jack Reacher: O Último Tiro, que ainda contava com a participação de Rosamund Pike, David Oyelowo, Robert Duvall e da luxuosa ponta de Werner Herzog, no papel do vilão da trama. O filme repercutiu bem ao ponto de Cruise retornar àquele universo, no filme Jack Reacher: Sem Retorno (2016) que, claramente menos inspirado do que o primeiro, fez menor sucesso, encerrando o que poderia ser mais uma lucrativa franquia do belo ator que adora dispensar dublês nas suas cenas de ação.

Foto: Divulgação (Tom Cruise fazendo filmes para tratar seu complexo de inferioridade)

Jack Reacher é personagem icônico nos EUA e dos EUA, fruto da imaginação do escritor Lee Child (pseudônimo de James Dover Grant), que escreveu vários romances sobre o ex-major durão, ótimo no combate corpo a corpo, hábil no uso de diversas armas e dotado de inteligência incrivelmente rápida, lógica e diferenciada, atenta aos mínimos detalhes das cenas de crime que investiga. Uma curiosidade interessante – normalmente mencionada como uma das causas do relativo fracasso da franquia a cargo de Cruise – é que, no texto de Child, Reacher é um brutamontes de 1,92m, bem maior do que os modestos 1,70m da estrela hollywoodiana, fato que obrigava sua primeira esposa, Nicole Kidman – no alto de seus 1,80m – a nunca usar saltos altos nos eventos em que compareciam juntos como casal.

Curiosidades à parte, o fato é que o personagem é realmente interessante, e merecia de fato uma segunda chance na mídia audiovisual.

Essa chance se concretizou com o projeto alavancado pela Amazon Prime Video, que bancou (a princípio) uma minissérie sobre o personagem, desta vez mantendo-se mais fiel ao estereótipo imaginado por seu criador.

Eis então que, em fevereiro de 2022, estreou Reacher na plataforma de streaming de Jeff Bezos, com 8 episódios baseados no primeiro livro escrito por Child para o personagem: o romance Dinheiro Sujo (“Killing Floor”), de 1997. Agora, Jack Reacher ganha o corpo do grandão (em altura e físico) Alan Ritchson (Aquaman de Smallville / Rapina de Titãs).

Foto: Divulgação (tá faltando sutiã nessa foto…)

Na trama, Reacher está de visita à Margrave, modesta cidade do interior dos EUA, para saber detalhes da vida e obra do músico Blind Blake (1896-1934), chegando ao lugarejo justamente quando acabou de ocorrer brutal duplo assassinato no município, fazendo com que ele, forasteiro forte e misterioso, seja naturalmente considerado suspeito do crime, sendo detido pela polícia local. Para piorar a situação, com o decorrer da investigação, descobre-se que uma das vítimas era, simplesmente, o irmão de Reacher (“santas coincidências, Batman”!!!), o que, obviamente, vai motivar o instinto de justiceiro do ex-major, gerando uma pilha de corpos e explosões na até então pacata Margrave.

A premissa simples abre campo para ótimo filmão de espionagem e ação de quase 7 horas de duração, protagonizado pelo típico gênero cinematográfico oitentista do “exército de um homem só”, que tem cenas de prisão, coreografias de brigas espetaculares, investigações, trama política, reviravoltas, teorias da conspiração, dinheiro falso, contrabando, assassinos psicopatas, torta de pêssego, um pouco de romance e até certo apelo emocional, que é a parte mais fraca, haja vista os parcos talentos dramáticos de Ritchson, que claramente precisou de efeito especial para conseguir se mostrar derramando algumas lágrimas numa cena de flashback envolvendo sua família.

Foto: Divulgação (exército para quê? esses três detonam tudo sozinhos!)

A série é bem dirigida, raramente perdendo o ritmo. Há algumas incongruências de roteiro meio óbvias, como Reacher tendo dificuldades de se livrar de um único pequeno adversário, uma vez que foi mostrado derrotando facilmente 5 brucutus dentro do banheiro de um presídio. Mas faz parte do divertimento pensar que o protagonista possui vulnerabilidades, além de ética questionável (até mesmo atirando nos inimigos pelas costas). O roteiro também falha em não desdobrar nenhuma séria consequência decorrente de toda confusão e morte que o personagem deixa em seu rastro. Após matar uma dezena de capangas das mais variadas formas – por mais que fossem bandidos – é de se estranhar que nenhum promotor estadunidense tenha caído matando sobre Reacher.

E é aí que a série incorre em seu maior mérito, que também é sua principal falha. Reacher é um grande herói, extremamente patriota, crítico da burocracia estatal, mas devotado aos valores expressados pelo seu país e pelas ideologias do “american way of life”. É realmente divertido vê-lo quebrando pulsos e narizes como um trator buscando limpar o lixo do mundo. Mas, por outro lado, o personagem expressa o imaginário do norte-americano típico: loiro, alto, forte, que resolve tudo sozinho, na força, repleto de testosterona heteronormativa (para matar bandido e amar mulheres), dono de um código de ética rígido com relação ao “bem”, mas flexível o suficiente para exercer essa visão de qualquer forma (qualquer semelhança com o caricato personagem Pacificador, da DC Comics e tornado série na HBO Max, – capaz de matar quantas mulheres e crianças forem necessárias para garantir a “paz” – não é mera coincidência!). Puritano o suficiente para não se lançar sobre a bela policial Roscoe (Willa Fitzgerald, linda, boa atriz, mas magra de incomodar), mas pronto para a ação quando ela toma a iniciativa. Ou seja, Reacher é um estereótipo, tipo ideal do estadunidense, encerrando em si a ideologia norte-americana de que os fins justificam os meios, no sentido de que vale tudo para defender a liberdade.

Mas, se você conseguir desconsiderar essa imagem altamente idealizada para apenas curtir a série como entretenimento de ação e aventura, vai apreciar bem mais o programa.

O elenco de apoio não compromete, mostrando-se à vontade em seus arquétipos: o policial incorruptível Oscar Finlay (Malcolm Goodwin, muito bom); o prefeito claramente corrupto Grover Teale (vivido pelo conhecido Bruce McGill); a esposa dedicada da principal testemunha, que deve ser protegida a qualquer custo, Charlene (na pele da sumida Kristin Kreuk); o milionário capitalista inescrupuloso Kliner (Currie Graham); o jovem sociopata e por aí vai…

A fotografia de Ronald Plante é básica, mas luminosa e nítida; e a direção segura bem as pontas. Destaque para a ótima trilha sonora, que vai de clássicos do blues a músicas contemporâneas, mantendo a coerência.

Se você busca uma boa série para maratonar, sem precisar pensar muito, apenas para se divertir com o típico padrão de ação e de “exército de um homem só”, típico das produções audiovisuais norte-americanas, Reacher – já renovada para uma segunda temporada, após o inesperado sucesso – é do seu tamanho!

Assista sem sustos!

Foto: Divulgação (só há paz após haver guerra… será?)

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Nota: 4 / 5 (ótimo)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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