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Críticas

DOUTOR ESTRANHO NO MULTIVERSO DA LOUCURA – Que filme ótimo! (mas nem tanto…) | Crítica (tardia e com SPOILERS) do Neófito

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O Universo Cinematográfico Marvel (UCM) ou Marvel Cinematic Universe (MUC), após 14 anos de sucesso audiovisual – levando-se em consideração a média de produções de alto-nível, seja no cinema, seja nas plataformas de streaming – deixou o público, dentre o qual este colunista, mal-acostumado.

A expectativa, criada acerca de cada nova produção do UCM, e a partir da conclusão do longo arco de 11 anos de histórias divido em “3” fases – que se iniciou como Homem de Ferro (de 2008) e terminou como Vingadores: Endgame (de 2019) – foi elevada à décima potência. Não se espera menos do que algo arrebatador, grandioso e devidamente conectado a uma narrativa maior. Para piorar, após o megassucesso de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (2021) – com a inclusão tão bem azeitada do Demolidor de Charlie Cox, dos Homens-Aranhas de Tobey Maguire e Andrew Garfield e respectivos vilões – a fome por plot twists e fanservices, que unam tudo o que já foi feito em torno dos personagens da Marvel no audiovisual, ultrapassou o pico do Monte Everest! Some-se a esse hype a volta do Rei do Crime de Vicent D’Onofrio na minissérie do Gavião Arqueiro.

Nessa perspectiva, as séries WandaVision (2021) e Falcão e Soldado Invernal (2021) foram praticamente espécie de fechamento das chamadas três primeiras fases do UCM, mostrando um pouco das consequências dos cinco anos do blip causado por Thanos e revertido pelos Vingadores, principalmente depois da frustração com o que foi sugerido – mas nunca realizado – em WandaVision, como, por exemplo, a introdução do Mefisto e dos X-Men (afinal, o Mercúrio – como bem disse meu amigo Dom Giovanni – era apenas “o vizinho”! Ou seja, “pegadinha do Malandro”!!!!!).

Já a minissérie de animação What If…? (2021) – somada à trama da série televisiva do Loki (2021), envolvendo o surgimento e desdobramento do multiverso – foi outra produção do UCM que contribuiu para que todos os consumidores de cultura pop, apaixonados por HQs, marvetes, nerds e público em geral não esperassem menos do que algo simplesmente grandioso da Galinha dos Ovos de Ouro da Disney.

Abrindo a autodenominada 4ª Fase, Eternos (2021) e Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis (2021) foram obras diferenciadas, com pouco mais de liberdade autoral para seus diretores, no qual o primeiro longa se mostrou algo mais lírico, filosófico e inclusivo (a primeira cena de sexo e a introdução do primeiro casal gay do UCM); enquanto o segundo não teve vergonha de se ancorar na estética dos mangás e animes, tão cultuados pelos otaku’s.

Dito isso tudo, o anúncio de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (2022) – dirigido por ninguém menos do que Sam Raimi e mais uma vez protagonizado pelo irrepreensível Benedict Cumberbatch – causou enorme rebuliço e estardalhaço, principalmente após os trailers instigantes, explosivos e repletos de ação e referências a What If… e WandaVision, que, ainda por cima, soltaram (não se sabe se “acidentalmente”) o spoiler da participação do Professor Xavier, como integrante dos Illuminati!

Foto: Divulgação (que se abram as “Portas da Esperança”!!!)

Com isso, passou-se a esperar que o filme trouxesse muito do que foi mostrado em What If… (como o “Thor festeiro”, o Dr. Estranho Supremo, o Vigia, o Pantera Negra Killmonger, a Capitã Carter etc.), além de participações especiais, mesmo que pequenas, de Wolverine, Deadpool, Luke Cage, Jessica Jones, Namor, Homem de Ferro Supremo (supostamente interpretado por Tom Cruise) e companhia ltda.

Como todo mundo já deve saber – AVISO DE SPOILER!!!! – pelos trailers, o filme traz de volta (mesmo sem citar o nome, por questões de direitos autorais) o Shuma-Gorath (que apareceu em What If…), uma versão alternativa do Barão Mordo (o competente Chiwetel Ejiofor), da Capitã Marvel (a linda Lashanna Lynch) e da Capitã Carter (a sempre bela Hayley Atwell, de Capitão América e Agente Carter). No filme propriamente dito, têm-se algumas versões alternativas de Christine Palmer (Rachel McAdams), da Wanda (Elizabeth Olsen) e do Dr. Estranho (frustrantemente sem o “Supremo”), reservando-se o grande easter egg aos Illuminati, os quais contam com os já mencionados Professor Xavier (Patrik Stewart), Capitã Marvel e Capitã Carter, mais as ilustres presenças do líder dos Inumanos, Raio Negro (repaginado na pele do mesmo ator Anson Mount, da tenebrosa série televisiva de 2017), e da primeira versão UCM de Reed Richards, do Quarteto Fantástico, interpretado pelo preferido dos fãs, John Krasinski, realmente perfeito para o papel!

Tirando isso, o filme introduz a personagem da Miss América (Xochitl Gomez, irretocável), deixando cada vez mais claro o projeto do UCM de dar vida aos Jovens Vingadores, uma vez que Kid Loki, a Gaviã Arqueira, Wiccano e Célere (filhos da Feiticeira Escarlate), conhecidos membros da equipe das HQs, já foram apresentados ao público nas séries respectivas, Loki, Gavião Arqueiro e WandaVision (sem falar da possibilidade da Miss Marvel, cuja série estreia em junho de 2022, também poder vir a integrar o grupo!).

Todavia, considerando tudo isso, o que importa é: Dr. Estranho no Multiverso da Loucura é bom? Vale o preço do (cada vez mais caro) ingresso?

A resposta é mais ou menos!

Foto: Divulgação (mas isto é filme da Marvel ou é Walking Dead?)

Como filme de ficção, ação e aventura, visualmente atrativo e de produção caprichada – efeitos (em sua maioria satisfatórios), atores (todos bons), fotografia, figurinos, cenografia, direção – o longa funciona muito bem, entregando com competência o entretenimento escapista a que se propõe.

Todavia, apesar da já conhecida competência de Sam Raimi atrás das câmeras, principalmente em produções fantasiosas, e da entrega dos atores envolvidos, o roteiro tem alguns problemas, bem como a introdução – ainda que tímida – de certa atmosfera de terror (especialidade de Raimi).

As soluções de roteiro são, muitas vezes, simplistas e incoerentes. As piadas de Strange, mesmo diante da eminente destruição de trilhões de seres vivos, poderiam ser prova da arrogância do personagem – denotada com sua recusa em se curvar perante o verdadeiro atual “Mago Supremo”, Wong (Benedict Wong, ótimo) – mas acabam soando despropositadas. Noutros exemplos, pode-se perguntar por que, diabos, Reed Richards explica à Wanda – revelada como a grande vilã sociopata do filme – o funcionamento dos poderes de Raio Negro, permitindo sua ação prévia, eliminando a boca do líder Inumano? E, já que ela podia fazer algo assim com alguém tão poderoso, bem como retalhar o Senhor Fantástico como num picador de papel, porque simplesmente não fez a cabeça ou os olhos dos demais Illuminati desaparecerem também, encerrando a batalha sem necessidade da carnificina que se segue? Se ela consegue dominar qualquer versão sua e destruir todos os Darkholds nos multiversos existentes, qual o objetivo real dela precisar sugar o poder da Miss América? Aliás, por que apenas com uma fala do Dr. Estranho a menina, que durante todo o filme pula de universo para universo sem aparente controle de suas habilidades, passa a dominar seus poderes de uma hora para outra, quase derrotando a praticamente onipotente Wanda?

Lógico que é bacana ver a Capitã Carter sendo cortada ao meio pelo próprio escudo (de forma sugerida, claro!) e a Wanda, coberta de sangue a la Carrie a Estranha misturada com Jason Voorhees, correndo em fúria assassina atrás dos heróis, mas, em termos de coerência de roteiro, há sérios problemas aí, fazendo com que, numa análise mais distanciada, tudo pareça apenas desculpa para a introdução de tais cenas “legais”, sem maior cuidado com a coesão do argumento a partir das premissas estabelecidas.

Outro problema é que Dr. Estranho no Multiverso da Loucura, como obra/capítulo de projeto maior, não contribui em praticamente nada para o desenrolar de um suposto cerne da Fase 4 do UCM (além, claro, da introdução invulgar – mas sabe-se lá quando – dos Inumanos, X-Men e Quarteto Fantástico). Enquanto toda as fases anteriores desenvolviam, num crescendo, a grande trama de Thanos, inspirada nas HQs que compõem a Saga Infinito (particularmente Desafio Infinito), nesta atual fase, nada de muito concreto ou direcionado acontece. Muitas janelas estão sendo continuamente abertas, mas sem qualquer horizonte definido para se vislumbrar. O multiverso, claro, abre muitas possibilidades para inserção de vários personagens da Marvel, que antes estava a cargo de estúdios e mídias diversas, e apresentou o vilão Kang; mas não há, ainda, nenhum vislumbre de fato para onde se está indo: haverá um grande vilão central? Mefisto vem aí? Ou seria Galactus? Ou o que estaria ocorrendo é a Invasão Secreta? Para onde tudo está levando? Por que não há qualquer menção aos eventos ocorridos em Eternos, a partir dos quais a descomunal mão de um Celestial emergiu do oceano, e dos “anéis” de poder de Shang-Chi? O universo audiovisual da Marvel está cada vez mais parecido da estética dos quadrinhos!

Assim, no ritmo em que as coisas estão se encaminhando, os “jovens” Vingadores serão “senhores” Vingadores antes da equipe ser formada!

Ao que parece, Kevin Faige está pensando muito à frente, plantando as sementes do que o UCM continuará sendo daqui a 20 ou 30 anos, mas é preciso saber se tantos filmes mais “isolados” de um contexto maior mais facilmente vislumbrável continuarão a funcionar tão solidamente quanto os que formaram as fases 1, 2 e 3.

Em tempos em que mais da metade da bilheteria mundial com cinema é devida aos filmes de super-heróis, o filão vai ser explorado como nunca pelos estúdios. Todavia, produções desse tipo são muito caras (acima dos 200 milhões de dólares), demandando, em contrapartida, lucros cada vez mais ambiciosos e estrondosos.

Longas como Dr. Estranho no Multiverso da Loucura (que já serviu de base para o anúncio de um terceiro filme com o personagem, agora com a introdução da Clea, seu grande amor nas HQs, interpretada pela deslumbrante Charlize Theron) ainda farão sucesso de público, por suas inquestionáveis qualidades já mencionadas, mas muito, também, pela memória afetiva do que o UCM já se mostrou capaz de fazer na “7ª Arte”. Mas, até quando?

Todo o cuidado com mínimos detalhes que as fases anteriores denotaram está claramente em falta no atual momento das produções do UCM.

O maior mérito do filme está em dar suposto fechamento para a trágica e sofrida saga de Wanda (a Feiticeira Escarlate), que oscilou entre o heroísmo e a vilania desde que foi introduzida no UCM, ganhando um fim apressado, mas de toda forma digno para sua trajetória (se é que foi um “fim” mesmo). Contudo, friamente analisado, isso pode indicar, por outro lado, que o filme não foi bem direcionado ao seu protagonista…

Sendo assim, Dr. Estranho no Multiverso da Loucura funciona bem como produto isolado, mas analisado a partir do contexto maior do universo ao qual pertence, apresenta-se deslocado e, apesar dos maneirismos e talento de seu diretor, menos impactante do que se poderia esperar.

Foto: Divulgação (não é tecnologia, é magia!!!)


Nota: 3,5 / 5 (muito bom)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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