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Críticas

CAVALEIRO DA LUA (Minissérie) – O melhor começo do pior fim | Crítica do Neófito

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Quando, na década de 1980, este colunista começou a ler HQs do Cavaleiro da Lua (criado por Doug Moench e Don Perlin) elas eram escritas por seu criador (Doug Moench) e desenhadas pelo grande Bill Sienkiewicz, nesta época ainda utilizando um estilo convencional, muito baseado em Neal Adams.

As histórias tinham uma pegada “realista” – na medida do possível para uma HQ – em tom urbano e bastante estranha, com vilões tão perturbados como o super-herói que as protagonizava. Havia, também, quase um plágio do Batman da DC Comics, com quem o personagem da Marvel era insistentemente comparado, afinal, um dos três alter-egos do vigilante que se vestia de branco com capa em formato de lua-nova, era um milionário playboy com brinquedos tecnológicos para combater o crime, como o helicóptero com formato de lua.

O diferencial era que o personagem parecia sofrer de esquizofrenia, tendo quatro personalidades: o herói vigilante Cavaleiro da Lua e três identidades secretas, a saber: o citado milionário Steven Grant, o taxista Jake Lockley e o mercenário Marc Spector.

Reprodução da capa da 1ª edição do “Cavaleiro da Lua”, em 1980 e a capa da série em HQ de 2021. Marvel®

Nas primeiras histórias de sua HQ solo (lembrando que, nas suas primeiras aparições, a partir de 1975, o personagem oscilava entre a vilania e o heroísmo), não se sabia se o Cavaleiro da Lua tinha, de fato, algum superpoder conferido pelo deus egípcio da lua Konshu, ou se ele era tão somente um exímio lutador e acrobata que resolveu enfrentar o crime e, por conseguinte, que sua “escolha” como avatar da referida divindade egípcia não passava de um delírio pós-traumático, fruto de prévia perturbação mental.

Com o decorrer do tempo, após anos sem HQ própria, confirmou-se o aspecto místico do personagem, no sentido de que Marc Spector (sua personalidade primária) realmente teve contato com Konshu (na série, com a voz de F. Murray Abraham) e, portanto, que ele seria dotado de algumas habilidades especiais, potencializadas de acordo com as fases da lua (na lua-cheia, por exemplo, ele desenvolve superforça e quase invisibilidade total). Seu uniforme – a princípio uma roupa de malha branca simples – ganhou um upgrade, com partes em adamantium.

A “minissérie” televisiva da Marvel/Disney respeitou bastante o conceito do personagem, desenvolveu de forma competente a questão da esquizofrenia do herói, foi muito feliz na concepção visual do mesmo e escolheu o ator simplesmente ideal e nascido para o papel de protagonista: Oscar Isaac. O ator guatemalteco dá verdadeiro show de interpretação e entrega na concepção do personagem em suas múltiplas personalidades, conseguindo alternar da comédia para o drama e até alguns flertes com o terror, com total desenvoltura.

Foto: Divulgação (aula de atuação de Oscar Isaac!)

Os aspectos técnicos também não decepcionam, apresentando efeitos especiais que, se não chegam a impressionar (como a cena de voo no primeiro episódio de Falcão e o Soldado Invernal, ou toda série WandaVision), também não comprometem em momento algum.

A fotografia, cenografia e locações externas são outro ponto alto, bem como a acertada trilha sonora a embalar cada episódio e momento.

A escolha do elenco de apoio é outra coisa feliz da produção. Ethan Hawke como Arthur Harrow está claramente se divertindo com seu papel de vilão louco e ao mesmo tempo polido e autocontido; a atriz egípcia-palestina May Calamawy e sua Layla (interesse romântico do protagonista, que, nos quadrinhos, era Marlene) a princípio apresentada como genérico da “mulher-durona”, tem excelente oportunidade no 6º e último episódio, de mostrar toda sua versatilidade interpretativa, com excepcional jogo de corpo e voz.

Foto: Divulgação (Ethan Hawke se divertindo com as maldades de seu personagem)

A atmosfera de terror físico e psicológico dos dois primeiros episódios também funciona muito bem. Já o 5º é um deleite precioso, com sua verdadeira viagem lisérgica pelo passado de Marc Spector e múltiplas possibilidades interpretativas, muitas das quais não se concretizam, é fato, mas, ainda assim, sendo muito bem produzido e dirigido.

Mas, apesar do capricho e pontos altos, ao final do 6º e último episódio da chamada minissérie (ou seja, produto fechado e completo, sem continuação em novas temporadas) fica-se a sensação de que “foi bacana”, e só! A história do personagem parece completamente desconectada do restante do MCU, inclusive do aspecto místico – que envolveria WandaVision, Dr. Estranho e Loki – e de suas novas ocorrências, como o multiverso. Não há sequer mínima citação ao blip e suas consequências na cultura oriental onde grande parte da história se passa, por exemplo, ou aos acontecimentos de Eternos.

Internamente, o roteiro apresenta alguns problemas pontuais – como não explicar o destino de Layla, que simplesmente desaparece – apesar de, no geral, ser bem amarrado; contudo, altera bastante a concepção do personagem no live-action que, aqui, ganha poderes mágicos, invulnerabilidade, fator de cura e capacidade de voo. A esquizofrenia entre Spector/Grant é bacana, por acrescentar maior fator de risco para o Cavaleiro da Lua e seus alter-egos durante os combates, mas, ao mesmo tempo acaba se tornando fator distrativo. Para o ator, é excelente oportunidade de mostrar suas habilidades de composição e mudança de persona, mas pode cansar um pouco a quem assiste o programa e só gostaria de ver uma boa cena de coreografia de luta.

Todavia, o grande problema do roteiro e da série em si é justamente aquilo que, até o momento, foi o grande trunfo e razão do sucesso da Marvel no audiovisual: a “receita Marvel”.

Boas ideias são lançadas e o desenvolvimento começa promissor. No entanto,  logo-logo, a “forma” Marvel se estabelece ao redor do produto, tornando-o genérico e episódico diante do compêndio de obras já produzidas com esta mesma moldura.

Foto: Divulgação (a beleza da atriz May Calamawy, em “momento fofura”)

Nesse sentido, Cavaleiro da Lua começa flertando com o terror e o thriller psicológico, mas bem cedo abandona essa concepção, amenizando o terror com o típico “humor Marvel” e o thriller por elipses que apenas lançam sementes para novos produtos a serem produzidos e com capacidade de darem respostas satisfatórias aos questionamentos levantados.

A inovação permitida é meramente formal ou estética. Assim o já mencionado 5º episódio é, ao mesmo tempo, lisérgico, tenso, dramático e pastelão! Exemplificando, sem spoilers, há, no episódio, a possibilidade de tudo estar se passando na cabeça do personagem; mas, ao mesmo tempo, indica-se que seria possível vertente do mundo após a morte; há a visitação ao passado de Marc Spector e Steven Grant, com boas doses de drama, muito bem defendidas por Isaac; mas, em contrapartida, a deusa Tuéris (Antonia Salib) e sua caracterização como hipopótamo consegue ser simultaneamente interessante e simplória, quase que exclusivo elemento cômico.

Somando-se a isso o fato de a minissérie aparentemente não contribuir em nada para o MCU, seu epílogo deixa essa pequena sensação de perda de tempo, afinal, a Marvel, com toda coesão que criou nos seus quase 15 anos de filmes e séries, acostumou seus fãs a darem atenção a pequenos detalhes de seus produtos, os quais, muitas vezes, provaram-se gatilhos para certos acontecimentos. Com Cavaleiro da Lua essa lógica se perde totalmente, haja vista a história dar sinais de total desconexão com tudo o que já foi e será produzido. Parece, na verdade, uma graphic novel em live-action. Pensando nisso, fica patente que, cada vez mais, o MCU – principalmente nesta sua decantada “Fase 4” – está cada vez parecido com sua contraparte em papel…

Ou seja, Cavaleiro da Lua é legal de se ver, mas não passa disso.

Há poucas chances de que surja uma segunda temporada do programa, haja vista o formato “minissérie” garantir maiores chances de premiação (ou, pelo menos, de indicações). Todavia, a Marvel é claramente orientada pelo lucro e sucesso de seus produtos. Obtendo média de 86% dos críticos e 93% da audiência no Rotten Tomatoes, pode ser que a Disney (dona da Marvel) prefira colocar mais algumas moedinhas em seu cofre, na esteira de Cavaleiro da Lua, do que se contentar com troféus simbólicos.

Só o tempo dirá.

(Ah, há uma cena pós-créditos iniciais muito legal e que conclui algumas coisas da minissérie)

Foto: Divulgação (é só o personagem ou o MCU também está meio esquizofrênico??)

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Nota: 3,5 / 5 (muito bom)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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