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Críticas

O ÚLTIMO JOGO | Crítica do Neófito

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Não é de hoje que o cinema brasileiro é cobrado por alguma obra de ficção que aborde o universo do futebol. Não que faltem produções que toquem no tema, como o excelente Linha de Passe (2008); mas a expectativa é para que, do mesmo modo que Central do Brasil (1998), Cidade de Deus (2002), e os dois Tropa de Elite (2007 e 2010) foram tão bem-sucedidos na retratação da dura realidade da pobreza, violência, criminalidade e corrupção brasileiras, que o país conseguisse o mesmo êxito com relação ao seu principal esporte que, por décadas, foi “o” grande motivo de orgulho nacional.

O Último Jogo não vai ser esta produção, infelizmente.

O filme do estreante em longa-metragem de ficção, Roberto Studart, opta pelo humor nonsense, tentando unir, numa só baciada, futebol e a rivalidade que este provoca entre brasileiros e argentinos. Parecia ser uma fórmula certeira de sucesso, mas não foi o caso.

Studart demonstrou acurada sensibilidade com seu documentário Para Lá do Mundo (2012), que mostrou a vida de pessoas de diversas origens que se reuniram numa erma região da Chapada Diamantina com o objetivo de viverem fora do modo de vida capitalista das grandes cidades. Em O Último Jogo – roteiro baseado no romance El Fantasista do chileno Hernán Rivera Letelier – o diretor vai mais uma vez para um ponto distante do mapa brasileiro, repleto de personagens inusitados; no caso, a fictícia cidade de Belezura, no Brasil, que faz fronteira com a cidade de Guapa, na Argentina.

Foto: Divulgação

O bucolismo daquelas localidades – cuja economia gira em torno de uma fábrica – só é quebrado pela enorme rivalidade que permeia o disputado futebol de várzea entre os times das duas cidades.

Prestes a praticamente deixar de existir em razão do anunciado fechamento de sua fábrica, a cidade de Belezura só tem um objetivo: ganhar, de qualquer jeito, a última partida de futebol que acontecerá contra a cidade de Guapa. O problema é que o craque do time, Califórnia (interpretado por Pedro Lamin), só quer saber de escrever poesia, de pintar quadros, de beber cachaça e fumar como uma chaminé, inclusive enquanto joga futebol!

O técnico do time de Belezura (vivido pelo ítalo-argentino Norberto Presta) não sabe mais o que fazer na última semana que antecede o jogo decisivo para garantir sua tão sonhada vitória, quando, do nada, surge o habilidoso malabarista de embaixadinhas interpretado pelo ator Bruno Belarmino, que passa a ser objeto de todo tipo de sedução para integrar a seleção de Belezura.

A partir dessa premissa e da estrutura de contagem regressiva – da segunda-feira ao domingo seguinte, dia da partida – o filme recorre a uma série típica de joguinhos de sedução, mentiras, enganações, casos amorosos, ameaças de ambos os lados, que às vezes consegue provocar o riso espontâneo no espectador, e às vezes, de tão previsíveis, só deixam a opção de esperar o acontecimento ocorrer para ver a próxima sequência.

Os personagens são bastante lineares e arquetípicos. A bela Juliana Schalch, por exemplo – que ficou conhecida como a prostituta de luxo Luna, da série O Negócio (2013-2018) – vive a ninfomaníaca mulher do goleiro da cidade, que ficou internado no hospital de Guapa, aparentemente por ter quebrado várias costelas durante a partida ocorrida no domingo anterior ao último jogo. Previsível, ela só pensa em saciar seu desejo ou em utilizar seu exuberante sex appeal para atingir seus objetivos. O chefe de polícia da cidade come o tempo todo. Há o bandido bom de bola preso. A grande esperança do time de Belezura guarda um segredo mortal! Os argentinos são fortes e ameaçadores, parecendo uma gangue dos anos 60. E por aí vai. O também clichê – mas bastante divertido – narrador das partidas, é um veterinário da cidade brasileira, que se usa terminologia médica como metáfora para as jogadas ocorridas durante o jogo. Impagável.

Foto: Divulgação

E o filme vai pulando de dia em dia até o grande dia, sem grandes impactos. Parece, em verdade, que se assiste a um episódio de alguma série de humor, inclusive pela fotografia clara e aberta, bem colorida, que explora o bucolismo das cidades fronteiriças. Figurinos e estética que remetem a um tempo híbrido e meio perdido, como a década de 1980, mas com a tecnologia atual dos celulares e a liberdade sexual contemporânea, sem maiores pudores ou consequências. A direção conduz o filme de forma cadenciada, que não chega a ser propriamente lenta, mas que também dá a impressão de que poderia ser mais ágil. As sequências de futebol, todavia, são muito bem realizadas, ligeiras, dinâmicas, que transmitem algo da emoção de se acompanhar esses jogos de várzea, tão celebrados na cultura nacional, marcados por um alto grau de violência, brigas, provocações e árbitros pouco confiáveis.

Ao final da projeção, pode-se dizer que se trata de um filme fraco, mas divertido.

Ou seja, O Último Jogo talvez até indique algumas pistas para que, assim como a China e seus filmes de artes-marciais, o Brasil finalmente ache o caminho para fazer uma obra cinematográfica memorável sobre seu mais decantado esporte. Mesmo que seja por aquilo que não se deva fazer!

Foto: Divulgação

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Nota: 2,5 / 5 (regular)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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