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Críticas

365 DNI | Crítica do Neófito

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A ex-executiva Erika Leonard James, após a criação dos filhos, talvez continuasse sendo apenas uma pacata dona-de-casa londrina, alimentando secretos sonhos românticos enquanto escrevia fanfictions sobre a saga Crepúsculo concebida por Stephanie Meyer, não fosse uma crise de meia-idade – segundo suas próprias palavras – que a despertou para uma série de fantasias eróticas, que nem ela mesma sabia que tinha, compelindo-a a escrever a trilogia de livros que, para muito além do espantoso sucesso comercial que fez, estabeleceu um marco e praticamente sedimentou um novo gênero literário: o romance erótico-açucarado escrito e destinado às mulheres (apelidado de pornô light).

Estamos falando de E. L. James, a autora da trilogia 50 Tons de Cinza (2011), 50 Tons Mais Escuros (2012) e 50 Tons de Liberdade (2012), dos quais surgiram os filmes homônimos e respectivos de 2015, 2017 e 2018, que, se não agradaram muito aos críticos e ao público BDSM (muito ligado à trama da história), mesmo assim faturaram juntos mais de um bilhão de dólares nas bilheterias.

Foto: Divulgação

Ao contrário da clássica Anaïs Nin, por exemplo, cuja obra pouco se diferencia do que se pode chamar de pornografia clássica – apesar de extremamente bem escrita – a agora também ex-autora de fanfictions coloriu de romance a história da bela virgem Anastasia Steele, que vive uma improvável história de amor com a fera empresarial multibilionária e praticamente de sadomasoquismo, Christian Grey. A mistura de conto de fadas com a narrativa de atos sexuais explícitos, todavia, mostrou-se acertadíssima! Depois de 50 Tons…, as livrarias foram obrigadas a dedicar uma prateleira inteira de suas lojas para os diversos livros que vieram na esteira do erotismo explícito e feminino da escritora britânica.

Sylvia Day, Rachel Gibson e Marisa Benett – todas norte-americanas – são alguns dos nomes que surgiram após o sucesso da trilogia de E. L. James, mas sem que alguma delas conseguisse sair de fato da sombra da escritora londrina e emplacar seus próprios megassucessos.

Foi preciso uma desconhecida escritora polonesa para que uma nova trilogia soft porn ganhasse adaptação para o live action, com produção caprichada da plataforma de streaming Netflix. E o filme 365 DNI – baseado no primeiro livro da saga escrita por Blanka Lipińska, que conta a história da executiva Laura Biel (vivida com entrega por Anna-Maria Sieklucka) sequestrada por 365 dias pelo mafioso Don Massimo (interpretado pelo galã imediato, Michele Morrone), para por ele se apaixonar – tem dado o que falar.

Foto:  Divulgação

Repleto de cenas de sexo para lá de quentes e nudez parcial (não há uma só tomada de nu frontal do casal, como na trilogia cinematográfica de 50 Tons…) o filme tem dividido opiniões – obtendo a impressionante nota zero da crítica especializada junto ao Rotten Tomatoes – mas continua liderando a lista dos programas mais acessados da Netflix no último mês, além de ter catapultado a atriz, poliglota e cantora Anna-Maria Sieklucka de poucas dezenas de milhares para mais de 1 milhão de seguidores nas redes sociais e tornado Michele Morrone o novo ídolo da mulherada (e que minhas amigas me desculpem a piada sexista).

Foto: Divulgação

Alguns têm dito que o filme – ao contrário de 50 Tons…, sua comparação inevitável – consegue ser mais erótico do que o livro que lhe deu origem, exagerando nas cenas de sexo muito bem coreografadas entre o belo casal de protagonistas.

Foto: Divulgação

Os que desconheciam o fato de o filme derivar de uma trilogia literária ficaram boquiabertos com seu final aparentemente abrupto e ilógico e, de maneira geral, os críticos não perdoaram o roteiro (beeeem) fraco e discutível em termos éticos (o cara – um criminoso que mata e tortura inimigos – simplesmente sequestra a mulher para que ela se apaixone por ele em exato um ano!!).

Foto: Divulgação

Em compensação, o casal de protagonistas héteros é ótimo, defendido por atores bonitos, dedicados e sem pudores, por mais que presos a batidos arquétipos bem definidos, como o do anacrônico macho-alfa atormentado e canastrão, e o da bela mulher frustrada sexualmente, no melhor estilo das pornochanchadas produzidas na Boca do Lixo paulista das décadas 70-80.

O luxo da produção e as locações indiscutivelmente belíssimas da Itália e Polônia também impressionam.

Foto: Divulgação

Assim, se você quer ver um filme com muito estilo (esteticamente belo), caliente (para esquentar as coisas com o parceiro nesse friozinho), com trama absurda (o suficiente para justificar seu erotismo), roteiro praticamente inexistente (um assassino, sequestrador e torturador como “herói” amoroso), interpretações limitadas por personagens estereotipados, mas curioso o suficiente para passar duas horas em frente à tv comendo pipoca abraçadinho, 365 DNI é para você.

Se quer alguma coisa mais elaborada em termos de erotismo, procure pelos excelentes Henry & June (de 1990, dirigido por Philip Kaufman, baseado na vida e obra da citada Anaïs Nin), Ligações Perigosas (1989, comandado pelo brilhante Stephen Frears, a partir da visceral obra homônima do século XVII de Choderlos de Laclos), ou até mesmo Love (o explícito filme de 2015, dirigido pelo polêmico Gaspar Noé).

Se quiser apenas apimentar um pouquinho a relação, sem muita exigência, fique com 365 DNI mesmo.

Foto: Divulgação

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Nota: 2,5 / 5 (regular)

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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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