Críticas
BALA PERDIDA | Crítica do Neófito
Nesses tempos estranhos e inéditos de pandemia com isolamento social, a televisão voltou a ganhar relevância na vida das pessoas, ainda que em formatos novos.
As chamadas “plataformas de streaming” têm se notabilizado por representarem um alento em substituição às idas ao cinema, teatro, enquanto o Youtube tem servido de placebo para a fome de ir a shows e apresentações.
Muitos preferem, dentro desse clima muitas vezes soturno pelo qual o mundo atravessa, os livros e filmes com temática mais densa, mas há quem busque algo meramente escapista, capaz de distrair deste instante penoso e futuro próximo sombrio…
Nesse sentido, filmes fraquinhos e de temática duvidosa como 365 DNI (leia a crítica aqui) têm feito sucesso! Dá para ver em casa, dá para ter ideias com o parceiro (principalmente se se tratar de casal hétero), gera comentários e é perfeitamente esquecível.
Para as crianças, há uma vasta gama de animes japoneses, que vão desde temáticas mais sérias e adultas – algumas sombrias, como Parasita (o desenho e não o filme) – bem como os mais infantis.
Para os gays de todas as orientações, também há uma bem vinda grande e variada obra ofertada nos catálogos das plataformas, destacando-se séries como a ótima Pose, da Netflix.
E é da Netflix também que emerge esse Bala Perdida (Balle Perdue), um longa-metragem de ação francês, bem ao gosto dos “meninos”, mas que também agrada às “meninas” que se dispuserem a assisti-lo.
Um filme com estética crua, ou seja, sem os maneirismos de um Luc Besson, por exemplo. Uma obra que muitas vezes lembra aqueles filmes genéricos de ação norte-americanos estrelados pelos coadjuvantes dos longas dos verdadeiros astros da porradaria, como Stallone, Schwarzenegger e Van Damme. Mas um filme com um enredo mais “moderninho”, que surfa na onda daqueles encabeçados por Dwayne “The Rock” Johnson e, principalmente, Jason Statham, que, sem muitas dúvidas, parece ser a inspiração máxima para Bala Perdida, com pitadas de Ritmo de Fuga.
O “herói” desta aventura – Lino (interpretado por Alban Lenoir) – é um literalmente azarado talentosíssimo mecânico de carros, que vive no limite da legalidade e que, logo nos primeiros minutos do longa, vê seu plano de assalto (para ajudar o irmão de criação mais novo) dar errado, acabando na prisão e tendo que trabalhar para a polícia na “tunagem” e “envenenamento” de carros oficiais para o combate ao tráfico de drogas, em troca da minimização de pena.
O azar do trágico personagem – um exímio lutador também – não demora a lhe provocar mais e mais problemas, ao ponto de estar sendo perseguido pela polícia francesa, pelo tráfico de drogas e por uma crush aparentemente arrependida, a bela policial Julia (vivida por Stéfi Celma).
Foto: Divulgação (a bela Stéfi Celma e sua “badass” Julia)
Sem recursos, sabedor de que não seria digno de confiança de ninguém, acusado injustamente de vários crimes, correndo contra o tempo, praticamente sem aliados, Lino ainda tem que se ver com a determinação desmedida do agente policial Areski (Nicolas Duvauchelle) em capturá-lo.
Foto: Divulgação (Nicolas Duvauchelle, em ação como Areski)
Surpreendentemente, Lino, apesar das más escolhas e do azar crônico – o que o tornam um herói trágico na mais pura acepção – revela-se a pessoa capaz de tomar as decisões mais éticas de todo o filme, uma vez que se guia por um senso de responsabilidade extremo, encarando o que quer que tenha que encarar em decorrência dos seus atos e dos que lhe importam.
Mas, ao ler o texto acima, pode-se ter a impressão de que se trata de um “filme cabeça”, exemplar daqueles arquetípicos “filmes europeus”, mas não é verdade. Bala Perdida é um filme curto, objetivo e muito divertido. Não dá muito tempo para pensar, mas apenas para curtir as perseguições automobilísticas, as lutas absurdas – mas bem realistas – como a em que Lino enfrenta, na mão, uns dez policiais dentro de uma delegacia!
Cientes do potencial que tinham nas mãos, os autores, Guillaume Pierret (diretor e também roteirista, em parceria com Alban Lenoir – Lino – e Kamel Guemra), conceberam um final bem resolvido, mas claramente visando à continuação por uma série de filmes do personagem, e talvez com um pouco mais de recursos para poderem brincar com outras marcas de carro que não quase exclusivamente a Renault – afinal, é um pouco difícil acreditar que um Clio seja capaz de tantas peripécias automobilísticas.
Foto: Divulgação
Bala Perdida, portanto, é uma opção escapista da melhor qualidade para esses tempos em que o máximo de velocidade que as pessoas podem ter é sobre esteiras domésticas ou bicicletas ergométricas (para quem as pode ter!) e o máximo de mobilidade é ir da sala para o quarto!
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Nota: 3,5 / 5 (muito bom)
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