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Críticas

MARE OF EASTTOWN | Crítica do Neófito

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Sou absolutamente suspeito para falar da Kate Winslet.

Considero-a musa do cinema, sendo completamente apaixonado por sua pessoa, beleza e talento (com a devida vênia à minha companheira de mais de 30 anos de união! rsrsrs…).

Foi Pablo Vilaça – o crítico de cinema que gostaria de ser quando crescer – quem disse, na sua distante análise do filme O Amor Não Tira Férias (2006), que, ao se assistir ao longa, dava para perceber a diferença na atuação de uma “estrela” (Cameron Diaz) e uma “Atriz” (Kate Winslet), com evidente destaque para o trabalho da premiada inglesa, que despontou para o estrelato ao dar vida à mocinha Rose, de Titanic (1998), passando por ser premiada com o Oscar de melhor atriz por sua sofrida composição de Hanna Schmitz, em O Leitor (2008).

Não que tudo que a artista faça seja bom: seu trabalho na saga Divergente (2014, 2015 e 2016), por exemplo, como a vilã Jeanine é tão sofrível quanto a própria trilogia que, de tão questionável, nem chegou a uma conclusão.

Mas, no panorama geral, Kate Winslet tem muito mais créditos do que deméritos, seja no cinema – Razão e Sensibilidade (1995); Em Busca da Terra do Nunca (2004); Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembrança (2004); Pecados Íntimos (2006); Foi Apenas um Sonho (2008); Ammonite (2020) etc. – ou nas suas poucas investidas na televisão – Mildren Pierce (2011); e Mare of Easttown (2021).

Aliás, é desse último trabalho – Mare of Easttown – que vamos falar agora.

Trata-se de minissérie de drama investigativo produzida pela HBO, cuja história se passa na pequena cidade do título, Easttown, versão fictícia da verdadeira Easttown Township, situada no Estado da Pensilvânia, condado de Chester, no gelado nordeste norte-americano, próximo à fronteira com o Canadá, contando com aproximadamente dez mil e quinhentos habitantes (só para comparar, a Favela da Rocinha, um dos bairros do Rio de Janeiro, tem população estimada em mais de 100.000 habitantes!).

Foto: Divulgação

Numa localidade como esta, pouca coisa de relevante acontece, mas essas poucas coisas representam muito. Desse modo, Mare (personagem a cargo de Winslet), além de ser a detetive do local, é reconhecida como a responsável pela magnífica cesta que garantiu a vitória da cidade no campeonato estadual de basquete estudantil ocorrido 20 anos antes do início da história da série. Além disso, Mare é divorciada – mas cujo ex-marido Frank (David Denman) mora na casa aos fundos da casa dela! – cria o neto órfão de pai – seu filho suicida – com potenciais problemas neurológicos e na iminência de passar para a guarda de sua mãe em recuperação toxicológica; cuida da mãe viúva, Helen (Jane Smart), e da filha Siobhan (Angourie Rice), homossexual e prestes a entrar na Universidade.

A amargura de uma vida cheia de potencial, mas que ficou enfurnada na pequena cidade transparece em cada olhar e respiração profunda que Mare dá, tanto ao ser acordada antes das seis da manhã pela simpática senhorinha que reclama dos vizinhos indiscretos, quanto ao ser cobrada por Dawn (Enid Graham) pela antiga parceira de time de basquete – cuja filha se encontra desaparecida há mais de um ano – por sua investigação inconclusiva.

Para coroar tantos problemas, que inclui seu ex-marido estar ficando noivo literalmente debaixo de seu nariz com seu desafeto Faye (Kate Arrington), surge o misterioso assassinato da jovem Erin (Cailee Spaeny), de dezessete anos, mãe solteira do pequenino DJ com seu ex-namorado Dylan (Jack Mulhern), filha do violento Kenny (Patrick Murney).

Foto: Divulgação (Evan Peters mostrando sua versatilidade como ator)

Como se não bastasse, devido ao seu insucesso na busca de Katie Bailey (Caitlin Houlahan) – a filha desaparecida de DawnMare ainda terá que lidar com a vinda do aclamado detetive do Condado, Colin Zabel (Evan Peters, o Mercúrio da franquia cinematográfica X-men, surpreendentemente bem no papel), para ombrear com ela na solução dos agora dois crimes em aberto.

Seu único apoio vem da cerveja, do cigarro eletrônico e, em termos humanos, do netinho, da amiga Lori (Juliane Nicholson), do chefe de polícia Carter (John Douglas Thompson) e do sedutor Richard (Guy Pearce), escritor e professor que surge na cidade para a temporada de um ano na faculdade local.

Foto: Divulgação (momento de tensão)

Mare é fascinante personagem feminino, talvez uma das mais complexas e ricas contemporaneamente criadas pela cultura pop. Sua luta para conciliar vida doméstica, traumas passados – suicídio do idealizado pai e do filho! – vida afetiva, vida social e profissional (ela conhece e é conhecida pessoalmente por praticamente toda a cidade) é visível e custosa, provocando vários problemas, afinal, como, por exemplo, prender a filha dos donos do bar em que ela regularmente toma cerveja, sem ser retaliada e confrontada a todo momento pelos genitores da meliante? A princípio, fica difícil confiar na capacidade dela, diante do temperamento explosivo, passional, irrequieto, questionador e teimoso que apresenta. Mas, aos poucos, vamos descobrindo sua enorme força e resiliência, além da competência de ser decisiva nas horas necessárias (como na cesta histórica que proporcionou ao time da cidade).

O diferencial da minissérie, portanto, está menos nos mistérios policiais da trama (até mesmo convencionais e, de certo modo, previsíveis), e muito mais na força que a personagem demonstra para conciliar a vida pessoal, social e profissional. E esse é o grande acerto do projeto: mostrar que os grandes policiais e detetives da cultura pop, caso de fato existissem, também teriam problemas bastante reais na vida, a afetarem seu julgamento e atuação, como decepções amorosas, concomitantemente com problemas de convivência com a mãe e filhos, como amigos e colegas de trabalho. É renovador ver que os heróis sofrem com coisas prosaicas e medíocres, o que ajuda a humanizar tais personagens. Outra coisa que ajuda é o fato desse “herói” ser uma mulher, que histórica e socialmente acabou por carregar o duplo fardo de se responsabilizar por sua realização pessoal e o cuidado daqueles que ama. Por mais que atualmente tais questões venham sendo discutidas com maior amplitude, ainda é empírico que a mulher ainda se dedica, em média, dez horas semanais a mais do que o homem no tocante ao serviço doméstico! Ao ver Mare lidando com a alimentação da casa, com os cuidados médicos do neto, com a dúvida da filha sobre em qual faculdade se matricular, com os ônus da idade da mãe, com seu luto mal resolvido com relação ao filho, com a decepção de não ter conseguido manter seu casamento, com insucessos profissionais e trabalhos aquém de sua capacidade, é fácil se identificar com ela e enxergá-la como alguém “gente como a gente”.

Evidentemente, isso talvez não transparecesse tão cristalinamente caso a intérprete da protagonista não fosse tão competente como a atriz que lhe deu forma (que é tão bonita, que mesmo “enfeiada” pela maquiagem e produção, enche a tela com sua beleza).

Em termos técnicos, a fotografia meio azulada transmite bem a atmosfera fria da fictícia (e real) Easttown, bem como a cenografia, arte e figurinos. A direção é precisa, sem firulas narrativas – até mesmo convencional – mas, com relação aos atores, aproveita o melhor de cada artista sob sua batuta.

Foto: Divulgação (a família muito real de Mare: mãe, neto e filha)

O roteiro é competente e muito bem amarrado, causando o efeito de mistério e tensão necessários para trama policial da história, apesar de pequeno (mas marcante) erro que surge no último episódio, envolvendo a arma do crime. Uma pena, pois isso consegue macular a teia tão bem engendrada que vinha sendo construída até aquele momento.

Os atores estão todos muito bem, com o já mencionado destaque para Evan Peters, demonstrando versatilidade e competência em papel mais adulto e denso, dos que os que o tinham tornado rosto conhecido (X-Men, WandaVision). Agora, o núcleo de todo o projeto se assenta, de fato, em Kate Winslet e sua precisa composição de Mare of Easttown. Presente em 90% das cenas da minissérie, sua presença é magnética e poderosa (por mais, como disse na abertura, ser suspeito para falar dela).

Focando-se, portanto, no lado pessoal e humano, a minissérie integra o rol das competentes e excelentes produções da HBO. Brilhante estudo de personagem, inserido em boa história policial (tanto que já se fala em continuação!).

Vale muito à pena dar uma chance para Mare of Easttown.

Foto: Divulgação (momento de tensão da minissérie)

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Nota: 4 /5 (ótimo)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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