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Críticas

SOMBRA E OSSOS TEMPORADA 01 | Crítica do Neófito

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Em 2012, a israelense naturalizada norte-americana, Leigh Bardugo, uma quarentona loira que adora usar roupa e maquiagem góticas, lançou Sombra e Ossos, o primeiro livro de sua aclamada e muito bem-sucedida trilogia de fantasia, completada por Sol e Tormenta (2013) e Ruína e Ascensão (2014).

Tanto sucesso logo chamou a atenção de outras mídias, não demorando para que a poderosa Netflix adquirisse os direitos de adaptação dos livros e, agora, em abril de 2021, lançasse a série homônima baseada no primeiro livro: Sombra e Ossos, protagonizada pela novata Jessica Mei Li e o sempre galã-vilão Ben Barners.

É preciso admitir que este colunista não leu a obra literária acima, mas é fato que, assim como os livros de Rick Riordan (a saga Percy Jackson e derivados) e, logicamente, a hors concours J. K. Rowling e seu bruxinho Harry Potter – para ficar apenas nestes dois sucessos contemporâneos – a obra de Bardugo tem uma legião de inflamados fãs, com direito a fóruns nas redes sociais e tudo mais.

Foto: Divulgação (a criadora do “Grishaverse” e seus “filhotes”)

O fato de não conhecer o material original tem coisas boas e não tão boas. Em termos negativos, não dá para saber o quanto das ideias, dos conceitos, do ritmo etc. se manteve fiel ao universo concebido pelo autor, tornando inviável qualquer tipo de comparação. Mas, do ponto de vista positivo, não conhecer nada ou quase nada da obra proporciona enorme liberdade ao observador crítico para apreciar e avaliar a adaptação em live-action como produto em si mesmo, sem preconcepções ou expectativas.

Desse modo, assistimos a Sombra e Ossos com grande isenção, com foco na produção audiovisual, e podemos dizer que a experiência foi bastante agradável!

Em termos de enredo, a história é um pouco complicada para os não iniciados. Passada num período que se assemelha à Rússia czarista do século XIX da história comum da Terra, sabe-se que, naquele mundo, há países, reinados, política e religião, como “aqui”. A diferença com relação à “nossa” Terra é que, na realidade da obra (o Grishaverse), a magia existe, tanto na forma de seres místicos, quanto na existência de classe de pessoas dotadas de habilidades ou poderes especiais de manipulação de vento, fogo, espécie de hipnotismo, fluxo sanguíneo alheio, sombra e luz – os Grisha – os quais, segundo as conveniências políticas, são usados ou descartados como armas de guerra ou considerados como bruxas/bruxos por outras nações/crenças.

Foto: Divulgação (uma das lindíssimas criaturas místicas do universo criado por Bardugo)

A guerra, inclusive, é algo sempre presente na obra, ainda que seja de difícil entendimento saber dos reais motivos dela. No ponto em que a série começa, sabe-se que há um enorme paredão místico de sombras, repleto de criaturas voadoras carnívoras (os volcras), criado séculos atrás por um poderosíssimo conjurador de sombras, que se estende por quilômetros e divide o país no qual a história se passa, o que acaba por despertar desejos nacionalistas de independência de um lado com relação ao outro, onde se sedia o reinado da nação, que já estava em guerra com outros países fronteiriços.

Os Grisha são tanto preciosos quanto perigosos, desejados quanto desprezados e temidos. A perigosa dobra das sombras, aliás, só poderia ser destruída por uma Grisha conjuradora do sol (ou da luz), supostamente extinta há séculos.

Foto: Divulgação (Mal e Alina num momento de tensão)

É nesse contexto que somos apresentados à protagonista Alina Starkov (personagem de Jessie Mei Li), órfã integrada como cartógrafa no exército de Ravka (o tal país dividido pela dobra de sombra) e seu melhor “amigo” Malyen/Mal (Archie Renaux), com quem cresceu no orfanato. Numa das travessias pelo interior da dobra de sombras – já que para contorná-la seria necessário praticamente invadir território inimigo ou ficar à mercê do exército adversário – Mal está prestes a ser capturado e morto por um volcra, quando Alina, sem saber deste seu potencial, acaba por se relevar a potencial conjuradora de sol tão esperada e profetizada.

A partir daí, Alina é levada para a sede do reino de Ravka, aos cuidados do enigmático General Kirigan (Ben Barnes) para ser treinada a relevar todo seu potencial e, eventualmente, destruir a dobra de sombras.

A notícia de seu surgimento, porém, gera, paralelamente, uma corrida para a capturar ou matar, haja vista que muitas pessoas se beneficiam da existência da dobra de sombras, que Alina supostamente poderia destruir, introduzindo na história o núcleo dos Corvos, situado em outra nação não envolvida na guerra – mas que muito se beneficia dela – e composto pelo líder Kaz (Freddy Carter), a “ninja” Inej (Amita Suman) e o exímio atirador-gay Jesper (Kit Young, um dos mais carismáticos personagens da série).

Foto: Divulgação (o núcleo dos “Corvos”)

Por último, também, temos, concomitantemente, a saga da Grisha Cardíaca Nina Zenik (Danielle Galligan), capturada como bruxa, sobrevivente de naufrágio e envolvida com seu caçador de Grisha, Mathias (Calahan Skogman).

Com tais peças no tabuleiro, a história se desenvolve linearmente, com algumas revelações, suspense, romance e surpresas bem encaixadas. Qualquer coisa a mais que se fale do roteiro pode estragar – para os fãs exclusivos do live-action – os plot twisters da saga. Todavia, ainda em termos bem gerais, é possível notar algumas influências culturais na composição do grishaverse. A dobra da sombra e as guerras por fronteira e independência – apesar do visual calcado na Rússia czarista – pode remeter à disputa Israel-Palestina, como muita tranquilidade. O machismo e caça às bruxas é claramente crítica ao patriarcado, principalmente aquele que tem por base o pensamento religioso clássico. Mas são referência sutis, que precisariam ser melhor exploradas ao longo da série

O elenco é muito bom. A atriz Jessie Mei Li foi decisão acertada pela produção para viver a protagonista Alina. Carismática e linda – apesar de fora do padrão loira de olhos claros de Hollywood – ela transmite com naturalidade várias facetas contraditórias da principal personagem da saga, como as aspirações e impulsividades juvenis, o crescimento gradual e doloroso da heroína, feminilidade, força, vulnerabilidade. Ben Barnes também consegue variar com maestria autoritarismo, charme, empáfia, afeto e ameaça, compondo um casal interessantíssimo de se ver em tela.

Já o Mal de Archie Renaux é um personagem – na série – com menos facetas, apresentando-se como típico herói, movido por princípios, ética, coragem e determinação, tanto por sua tarefa como soldado, quanto pelo explícito amor pela “amiga” Alina. Mas ele se sai muito bem.

Apesar de ainda ser secundária, a belíssima Danielle Galligan (que lembra um pouco a Kate Winslet) também se destaca com sua Grisha Nina, sendo a personagem feminina mais solar de toda a série.

Foto: Divulgação (o arco de Nina e Mathias)

Aliás, as personagens femininas são muito bem concebidas. Leigh Bardugo buscou várias personas líricas de dentro de si para as criar, saindo-se muito bem. Todas são fortes e empoderadas, mas ao mesmo tempo, extremamente femininas. Já os personagens masculinos, em contrapartida, sofrem com maior dose de estereótipo, mas nada que prejudique.

A produção é caprichadíssima. Efeitos especiais e visuais de primeiríssima qualidade, cenografia deslumbrante, figurinos belos e impecáveis, fotografia clara e adequada.

A direção oscila um pouco. Nos primeiros episódios, adota ritmo mais cadenciado, adquirindo mais dinamismo ao se aproximar do clímax da temporada. Como já dito, a difícil divisão política, marcada por muitos países, reinados, cidades e etnias diversas é simplesmente jogada na tela, podendo causar confusão no espectador não conhecedor dos livros.

Segundo vários sites de cultura pop, Sombra e Ossos já estreou com garantia de sua segunda temporada, apesar de não haver pronunciamento oficial da Netflix. Mas, depois do estrondoso sucesso de público e crítica da primeira temporada, é só questão de tempo para novas notícias sobre o novo ano da história.

Resta saber se a Netflix vai respeitar os livros, fechando o ciclo em três temporadas ou se vai esticar ao máximo sua nova galinha dos ovos de ouro, introduzindo temas e sagas dos derivados que a própria Bardugo já escreveu sobre seu grishaverse. Se se mantiver ao material original, pode fazer bonito, ao contrário do que ocorreu com GoT, por exemplo.

Sendo ótima opção para maratonar, Sombra e Ossos surpreende pela qualidade da produção, pela riqueza do enredo e carisma dos personagens. Vale muito dar uma olhada.

Foto: Divulgação

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Nota: 4 /5 (ótimo)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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