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Críticas

O SACRIFÍCIO DO CERVO SAGRADO | Crítica do Neófito

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Foto: Divulgação

Há filmes que, definitivamente, não são para qualquer um ou para o grande público, ainda que conte com astros do cinemão norte americano, como é o caso deste O Sacrifício do Cervo Sagrado do diretor grego Yorgos Lanthimos (O Lagosta), estrelado por Colin Farrell (Dumbo) e Nicole Kidman (Aquaman).

O filme aparentemente possui uma narrativa tradicional, contudo, o “recheio” do longa é complexo, flertando com o realismo fantástico o tempo todo, sem aliviar para seu público, mas sem precisar, para isso, enveredar para o apelativo, como vísceras expostas, nudez e sexos gratuitos, violência gráfica extrema ou coisas similares, que são recursos muitas vezes utilizados por diretores menos talentosos para chamarem a atenção para suas obras, sob a desculpa de estarem realizando algo extremamente autoral.

Foto: Divulgação

Lanthimos, ao contrário, é comedido – extremamente comedido – e é isso que talvez aumente a sensação de desconforto que o filme provoca em suas quase duas horas. Os personagens falam quase sempre baixo, em tom praticamente monocórdio – principalmente o “vilão”, Martin, interpretado magistralmente por Barry Keoghan – de modo que toda a tensão vai sendo construída por meio de silêncios estratégicos e das situações que vão acontecendo de forma cada vez mais angustiante diante de nossos olhos. Ao mesmo tempo que dá vontade de parar de ver o filme para se poupar de tais sensações desagradáveis, é quase impossível desgrudar os olhos da tela e deixar de saber (na verdade comprovar) o que irá acontecer.

Foto: Divulgação

Nesse sentido, pode-se dizer que nada do que é mostrado é gratuito. Se a primeira cena mostra um coração oriundo de uma cirurgia é porque aquilo tem uma importância simbólica central para a trama. Se há uma cena de sexo entre os personagens de Farrell (Steven Murphy) e Kidman (Anna Murphy) ela serve para demonstrar a disfunção psíquico-necrofílica do marido, bem como daquela relação conjugal aparentemente “normal”, e por aí vai.

O espectador também não é subestimado pelo diretor, o qual não fica dando explicações para o que está acontecendo em cena, deixando que as imagens, os silêncios, o cenário e os diálogos falem por si. Mas, muita coisa é propositalmente deixada sem qualquer explicação, ficando a cargo de cada um interpretar o que se acabou de ver.

Sem querer falar muito da trama – pois parte da experiência de assistir a O Sacrifício do Cervo Sagrado está justamente em ir descobrindo sua trama aos poucos – o enredo do longa conta a tenebrosa história do frio, emocionalmente ausente e muito bem sucedido cardiologista Steven Murphy (Farrell), que, casado com a bela e auto submissa Anna (Kidman) e pai do casal Kim Murphy (Raffey Cassidy, de Tomorrowland) e Bob Murphy (Sunny Suljic de O Mistério do Relógio na Parede), ao proceder uma cirurgia após ter ingerido álcool, acaba por ver seu paciente morrer durante o procedimento.

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O filho deste paciente (Martin / Keoghan) parece não apenas perdoar o médico, mas até mesmo a admirá-lo, a princípio de forma amena, mas pouco a pouco de forma bastante obsessiva e estranha, o que abre a oportunidade para uma participação especialíssima da sumida Alicia Silverstone, na pele da mãe de Martin, que nos presenteia com uma intepretação curta, mas bastante marcante e corajosa, em nada lembrando as personagens caricatas a que o público se acostumou a vê-la (Patricinhas de Beverly Hills, Batman e Robin etc.).

Foto: Divulgação

Não demora, nesse processo, para que, misteriosamente, os filhos de Murphy adquiram uma estranha enfermidade que lhes tira o jogo das pernas com a ameaça de evoluir para sangramento nos olhos e subsequente morte.

Em meio a isso, Martin vai adquirindo proporções tétricas, levando o contido Murphy a atos irracionais e até mesmo violentos, tudo no inútil esforço para negar o desfecho inevitavelmente chocante por parte do personagem. Nicole Kidman também brilha no papel de uma mãe que sofre horrores por se ver absolutamente impotente para fazer qualquer coisa que possa mudar o destino trágico de sua família.

Mas não espere, com o que foi descrito acima, o surgimento de um psicopata assassino e sanguinário ou de uma criatura possuída por alguma força maligna. O que emerge do personagem de Martin (ou na verdade sempre esteve lá) é algo muito mais frio, mais trágico e sinistro do que isso, e nem por isso menos assustador. E sua voz sempre contida, tranquila, amável até, é muito mais aterrorizante do que muita cena de filme de terror por aí.

A atmosfera realista e fria é o que mais estranhamento causa, haja vista o elemento praticamente mágico que permeia os segundo e terceiro atos do filme, no tocante à doença das crianças Murphy.

Tudo o que ocorre pode representar um símbolo para o processo de culpa do médico que, por imprudência, acaba permitindo (em tese) que um paciente morra em suas mãos na mesa de cirurgia, mas nada fica claro, ao mesmo tempo que é perfeitamente compreensível o que se vê.

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Escolhas e decisões têm consequências, muitas delas graves.

E não será com simpatia, pequenas concessões ou verniz social que certos atos infelizes de nossa parte serão “compensados” ou “redimidos”. Muitas vezes será necessário que sacrifiquemos algo, que abramos mão de coisas que nos sejam muito caras para poder seguir em frente e, mesmo assim, profundamente machucados, alterados, transformados. E, quanto maior a culpa, maior o sofrimento.

O filme de Lanthimos esfrega isso em nossa cara, deixando-nos pensativos, incomodados, fascinados pela forma como tudo isso é apresentado.

Interpretações acertadas, fotografia belíssima, trilha sonora que não aparece mais do que a cena, montagem precisa, direção segura… tudo isso a serviço de contar uma história reflexiva, diferente, sem romantismos, sem ceder à tentação de apelar para um inviável final feliz. Pelo contrário, uma cena em especial do final, é de nos deixar sem voz ou qualquer reação…

Esse o resumo de O Sacrifício do Cervo Sagrado.

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Nota: 4,5 / 5 (excepcional)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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