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Críticas

VIDRO | Crítica (tardia) do Neófito

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O que aconteceu com M. Night Shyamalan?

O diretor que impressionou meio mundo com o espetacular O Sexto Sentido (1999), emendando logo na sequência o impressionante e impactante Corpo Fechado (tradução horrenda para Unbreakable, de 2000), ao que parece, enveredou-se por uma trilha de vaidade e arrogância passando, a partir daí, a produzir cada vez um filme mais fraco que o outro, sempre numa estrutura semelhante, com uma forçada “reviravolta” final nos roteiros cada vez mais esquemáticos e previsíveis.

Aquele que chegou a ser comparado a um Hitchcock moderno acabou perdendo o rumo e tornando-se uma sobra do que um dia prometeu ser.

Foto: Divulgação

Se permanecer nesta rota, acabará por ser lembrado como aquele diretor de dois grandes sucessos e vários fracassos seguidos (advertência que, em certa medida, também serve para as irmãs Wachowski).

Vez ou outra, algo do seu promissor talento podia ainda ser vislumbrado, como quando, em 2016, ele lançou o modesto Fragmentado, estrelado por um inspirado James McAvoy. Todos os que ainda torciam para um ressurgimento das cinzas de Shyamalan respiraram aliviados, afinal, o longa era conciso, sombrio, correto, corajoso e, o melhor, sem reviravolta final!

O inesperado ficou para a cena pós-créditos, que ligava Fragmentado (Split) a Corpo Fechado, uma bem vinda surpresa indicando que o cineasta indiano estava no caminho de recuperar sua melhor forma. E foi com sincera alegria que todos esperaram o anúncio de um terceiro filme (que Shyamalan dizia ser sua intenção desde o início), no qual se mostrasse o confronto entre David Dunn (Bruce Willis) e a Besta.

Chamado de Vidro – numa clara referência ao icônico personagem Mr. Glass, interpretado por ninguém menos que Samuel L. Jackson – o filme prometia ser épico, ao reunir um dos melhores personagens do cinema de fantasia dos últimos tempos – o relutante e muito humano super-herói David Dunn (responsável, inclusive, por se perceber que super-seres poderiam ser retratados de forma respeitosa nas telas de cinema) – com um vilão altamente complexo como o inteligentíssimo Senhor Vidro e a verdadeira força da natureza representada pela Besta, uma das muitas personalidades de Kevin Wendell Crumb (James McAvoy), que se mostra capaz de subir pelas paredes, ser resistente a tiros e dobrar barras de ferro.

Foto: Divulgação

Os trailers, como de praxe na carreira do diretor, não revelavam muita coisa, fazendo com que a expectativa só aumentasse.

Eis que, em janeiro de 2019, estreia o tão esperado Glass (Vidro), contudo, o que poderia ser o grande retorno de Shyamalan ao primeiro time de diretores hollywoodianos, serviu apenas para demonstrar que ele se manteve fiel ao histrionismo, maneirismo e aos seus vícios de direção, os quais, gradativamente, foram diminuindo seu brilho inicial.

Vidro, nesse sentido, é um filme belamente fotografado, que conta com a dedicação sincera de seus atores e que até começa muito bem, mas basta partir para o segundo ato para rapidamente ir se perdendo até entregar um produto final muito aquém do que se poderia esperar, apresentando um roteiro preguiçoso, em muitos pontos sem sentido; um final quase absurdo, que deixa um gosto amargo na boca e uma sensação de “mas o que foi isso”? (no pior sentido!).

Como se trata de uma análise tardia de um filme que estreou há 6 meses, não há grandes perigos em se revelar SPOILERS, desta forma, a morte dos três personagens principais – Mr. Glass, a Horda (conjunto das 23 personalidades de Kevin Wendell Crumb) e de David Dunn –, principalmente da maneira como ocorreu, é totalmente anticlimática.

As referências aos quadrinhos, que em Corpo Fechado foram tão interessantes e orgânicas, em Vidro soam meramente obrigatórias e pedantes, sem qualquer organicidade.

A introdução do grupo do “trevo”, responsável por caçar e eliminar seres humanos com habilidades para além do normal é completamente sem lógica, introduzida como um elemento de reviravolta (olha ela aí de novo!), que não é apenas algo inusitado e surpreendente, mas, ao contrário, forçada e inverossímil para um universo cinematográfico que visava mostrar como seria, de fato, a existência de pessoas superpoderosas na vida real.

Ainda nessa linha, como uma psicóloga/psiquiatra, com apenas uma conversa de alguns minutos consegue colocar David Dunn em dúvida sobre suas super habilidades, já que ele vinha atuando e as utilizando por mais de 15 anos? Além disso, como ela sabia que apenas um flash de luz era capaz de obrigar o surgimento de uma nova personalidade de Kevin Crumb, sendo que a psicóloga que por anos o tratava em Fragmentado nunca tinha nem ao menos mencionado isso? E, como diabos o Sr. Vidro conseguiu, completamente chapado de remédios, trocar sua medicação e engendrar um plano tão elaborado?

Para fechar, o que dizer da cena final da reunião entre a mãe do Sr. Vidro (Charlayne Woodard como Sra. Price), Joseph Dunn (Spencer Treat Clark) filho de David Dunn e Casey Cook (Anya Taylor-Joy) – a garota sequestrada  (e com Síndrome de Estocolmo) por Kevin Crumb em Fragmentado – sentados numa estação de metrô se deleitando pela revelação ao mundo das habilidades de seus entes queridos recém assassinados? Shyamalan realmente esperava que aquilo fosse emocionante?

Foto: Divulgação

Se Matrix Reloaded e Revolution (2003) quase conseguiram estragar o brilhante Matrix (1999), Vidro, por sua vez, cumpre tal tarefa e consegue macular de forma irrevogável o esplêndido Corpo Fechado (oh, tradução horrorosa!!!) e o muito bom Fragmentado.

Uma pena.

Por enquanto, resta ficar aguardando que M. Night Shyamalan, do mesmo modo como gosta de fazer em seus filmes, apresente ao mundo uma reviravolta final e se torne novamente o ótimo diretor que ele demonstrava poder ser.

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Nota: 2 / 5 (fraco)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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