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Críticas

RAINHAS DO CRIME | Crítica do Neófito

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De tempos em tempos, Hollywood parece sofrer de uma síndrome de falta de criatividade e começa a repetir alguns temas e histórias.

Foi assim, em 1998, com Armagedom e Impacto Profundo (1998), sobre meteoros caindo sobre a Terra; em 2000, tivemos Missão: Marte (do genial Brian De Palma) e Planeta Vermelho (do obscuro Antony Hoffman), que contaram histórias sobre missões espaciais em Marte; em 2011, Sexo sem Compromisso e Amizade Colorida mostraram, com pequenas diferenças, a mesmíssima história de um casal que resolve se encontrar apenas para sexo, até o momento que se descobrem apaixonados; um ano depois, em 2012, surgem Espelho, Espelho Meu e Branca de Neve e o Caçador, duas releituras em live-action do conto de fadas da princesa de pele branca como a neve; isso além de vários outros exemplos.

Foto: Divulgação

Dessa forma, impossível não assistir ao recentíssimo Rainhas do Crime (The Kitchen) – que estreia quinta-feira, dia 08/08/2019, nos cinemas brasileiros – sem compará-lo a As Viúvas (Widows), de novembro de 2018, mesmo com o hiato de 9 meses entre as duas produções.

As semelhanças são muitas: história sobre 3 (a 4) mulheres de bandidos mortos/presos num assalto mal sucedido, que têm de assumir a posição dos cônjuges no mundo do crime. Uma personagem é negra e outra uma loira mais nova que apanha do marido. Tem mafiosos. Os dois filmes são dramas. Ambos se baseiam em material midiático anterior: As Viúvas é adaptação de uma série de televisão inglesa da década de 1980, enquanto Rainhas do Crime é a transposição para o live-action dos 8 capítulos de uma revista em quadrinhos homônima escrita por Ollie Master e desenhada por Ming Doyle, publicada em 2015 pelo recém extinto selo Vertigo da DC Comics (e, nesse sentido, pode-se dizer que se trata de uma das melhores adaptações de quadrinhos da DC para o cinema!). As histórias falam de empoderamento feminino. Os roteiros dos dois filmes guardam uma “reviravolta” no final.

Há, evidentemente, diferenças razoáveis: o filme As Viúvas se passa na época contemporânea, ao passo que Rainhas do Crime no final da década de 1970. Mas a diferença essencial entre as duas obras não está na história em si, mas no fato de que, enquanto Rainhas do Crime é dirigido pela estreante Andrea Berloff – que até demonstra talento –, As Viúvas é dirigido pelo excepcional Steve McQueen, ainda que, na opinião deste colunista, trate-se do filme menos expressivo do até então irrepreensível currículo cinematográfico do diretor britânico.

E isso faz toda a diferença.

Foto: Divulgação

Analisando especificamente Rainhas do Crime, trata-se de um bom filme, mas com algumas irregularidades.

A fotografia caída para o sépia, os figurinos, a cenografia e os eficientes efeitos especiais de reconstrução de época conseguem emular o espírito da Blaxploitation e, com isso, transportar perfeitamente sua audiência para o período em que a história se passa.

As atrizes que formam o trio principal estão muito bem nos seus papeis, justificando a corajosa opção dos produtores ao escalarem duas famosas humoristas para serem as protagonistas de um drama de máfia: Melissa McCarthy como Kathy e Tiffany Haddish no papel de Ruby. Elisabeth Moss, infelizmente – mesmo não estando mal – é a que menos brilha do trio, pois, seu papel como Claire Walsh acaba involuntariamente lembrando muito a Offred que ela interpreta em The Handmaid’s Tale (mulher submetida a abusos contra sua vontade, que, aos poucos, vai descobrindo e permitindo dar vazão à sua força).

Foto: Divulgação

No tocante à fidelidade do filme ao material de origem, pode-se dizer que boa parte do contexto é transposto, bem como alguns arcos, como o envolvimento das (anti)heroínas com a máfia italiana e o caso dos judeus. O cerne da trama também é mantido: a ascensão de três mulheres no comando da máfia irlandesa na Cozinha do Inferno de Nova Iorque (daí o título The Kitchen em inglês) e a espiral de violência e decisões críticas que isso envolve. Mas algumas modificações substanciais também foram feitas, como a personagem Ruby, que, no filme, é negra, enquanto, nos quadrinhos, é apenas mais uma das três mulheres tipicamente irlandesas. A mudança até que tem sentido para conferir maior representatividade à história, mas algumas situações com a personagem acabam soando um pouco anacrônicas. O final do filme, todavia, é o que mais se difere dos quadrinhos, sendo mais “otimista”.

Em termos de estrutura, Rainhas do Crime apresenta dois arcos iniciais bastante mornos, e, no aspecto da história em si, uma perigosa glamourização do crime (ao contrário, novamente, de As Viúvas, em que o crime é uma opção assustadora). As personagens rapidamente ascendem na hierarquia criminosa da região, parecendo superbacanas e descoladas ao “ajudarem” o bairro, enquanto, na verdade, estavam extorquindo dinheiro de comerciantes em troca de “proteção”.

As coisas melhoram no terceiro arco, quando as mulheres têm que confrontar seus maridos, a violência começa a se tornar mais crua (em alguns momentos havia chegado a ser tratada de forma cômica) e ocorre uma (primeira) reviravolta surpresa na história.

Esse momento serve para Melissa McCarthy mostrar sua capacidade dramática mais uma vez após sua impactante caracterização em Poderia Me Perdoar?, que lhe rendeu indicação ao Oscar de melhor atriz.

Tiffany Haddish, por sua vez, confere enorme ginga para sua Ruby, sem desapontar nas cenas mais dramáticas, mas ainda fica a impressão de que falta um pouco de estrada em gêneros mais sérios para que atriz demonstre seu real potencial.

Eis, então, que vem a grande surpresa final, que, em verdade, não chega a empolgar.

A mensagem de empoderamento feminino fica um pouco perdida no filme, aliás, da mesma maneira que nos quadrinhos, os quais se resumem a mostrar as mulheres se entregando cada vez mais aos meandros do crime e sua consequente violência. O filme ao menos coloca textualmente a questão feminil nos diálogos das personagens, mas, em muitas ocasiões, soa artificial. O que é uma pena, pois as atrizes e o material de inspiração tinham potencial para trabalhar melhor o tema da opressão feminina e da inveja masculina do sucesso do “sexo frágil”.

Dos personagens masculinos, pode-se citar o dedicado agente do FBI Gary Silvers (interpretado por Common); o brutamontes e agressor de mulher, Rob Walsh (Jeremy Bobb, que recentemente fez o vilão da terceira e última temporada de Jessica Jones); o assassino psicopata “de bom coração”, Gabriel (vivido por Domhnall Gleeson); entre outros, mas todos representam homens fracos e inseguros, só capazes de se impor por meio da violência e de uma arma na mão.

Ao final da projeção, tem-se a certeza de se ter assistido a um filme “corretinho”, esteticamente bem realizado, mas um pouco vazio em termos de conteúdo, principalmente se comparado (novamente!) ao As Viúvas, que realmente discute o papel feminino em meio a uma trama de suspense policial.

Foto: Divulgação

Talvez a responsabilidade tenha sido um pouco maior do que a neófita Andrea Berloff pudesse encarar logo na sua primeira incursão na direção de um longa hollywoodiano, estrelado por algumas estrelas, daí o resultado irregular do filme.

Vale à pena uma olhada, mas sem esperar demais.

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 Nota: 3 / 5 (bom)

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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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