Connect with us

Críticas

DIVALDO O MENSAGEIRO DA PAZ | Crítica do Neófito

Publicado

em

Cada vez mais, os filmes religiosos se firmam como gênero (ou subgênero) cinematográfico nacional.

Sejam de matiz católicaMaria, Mãe do Filho de Deus (2003) e Irmãos de Fé (2004) –; evangélico-protestanteNada a Perder (2018), Nada a Perder 2 (2019), Os Dez Mandamentos: O Filme (2016) –; ou espírita Bezerra de Menezes: O Diário de um Espírito (2008), Chico Xavier (2010), Nosso Lar (2010), O Filme dos Espíritos (2011), As Mães de Chico Xavier (2011), E A Vida Continua… (2012), Kardec (2019) – o fato é que tais obras têm se mostrado bastante repercussivas e, na maioria dos casos, lucrativas (merecendo uma nota para os filmes Nada a Perder e Nada a Perder 2, campeões de bilheteria, mas quase sem público presente nas salas de exibição…).

A mais recente empreitada acontece com a cinebiografia do ainda vivo e atuante médium e conferencista baiano, Divaldo Pereira Franco (92 anos!), com o filme Divaldo: O Mensageiro da Paz, estrelado por Bruno Garcia / Guilherme Lobo / João Bravo (no papel do médium) e dirigido com surpreendente brilhantismo por Clóvis Mello (Ninguém Ama Ninguém… Por Mais de Dois Anos, 2015).

Foto: Divulgação

Este colunista, aliás, teve o prazer de conhecer pessoalmente o nonagenário cinebiografado, podendo afirmar que sua figura é, de fato, extremamente cativante e, ao mesmo tempo, frágil e humilde, impressionando a força de que se reveste ao subir no púlpito para falar para multidões de devotos espíritas.

A obra social desenvolvida por Divaldo no espaço denominado Mansão do Caminho – fundada na década de 50 e que acolheu/acolhe milhares de crianças desde o berço à faculdade e milhares de refeições diárias a pessoas carentes – também impressiona, merecendo elogios rasgados de figuras públicas que a conheceram, como, por exemplo, Jô Soares.

Foto: Divulgação

Divaldo Franco também é autor – ou médium psicógrafo – de centenas de livros ditados por espíritos desencarnados e sua biografia é facilmente encontrada em diversas fontes com uma rápida pesquisada no Google.

Todavia, a presente crítica deve analisar a obra cinematográfica em si, sem se deixar impressionar pela vida, personalidade ou obra do renomado espírita.

Nesse sentido, conforme falávamos nos comentários críticos que fizemos sobre o filme Kardec, os longas deste novo subgênero cinematográfico apresentam uma dificuldade inerente, oriunda de dois fatores básicos: primeiro, pelo fato de pertencerem ao gênero “cinebiografia”, o qual pode tratar de figuras públicas já falecidas ou ainda vivas, vide os recentes Bohemian Rhapsody e Rocketman, respectivamente retratando a vida e obra de Freddie Mercury (morto em 1991) e Elton John (ainda vivo).

A segunda dificuldade reside no fato de que a temática religiosa é limitadora por excelência, afinal, por mais que busque um apelo universalista (Chico Xavier, 2010, é o melhor exemplo desse esforço) ela invariavelmente vai se apoiar em seu reduto, voltando-se para um público específico.

Isso fica claríssimo em Divaldo: O Mensageiro da Paz, a cada vez que uma cena se detém para que ocorram longas explanações doutrinárias acerca de princípios espíritas, praticamente beirando ao panfletário, aliás, do mesmo modo como ocorreu em Kardec.

O que é uma pena, pois, a vida do médium feirense é realmente interessante, sendo retratada com inegável sensibilidade e leveza por Clóvis Mello, que consegue retirar do filme aquele certo peso característico que as obras deste jaez costumam ter.

 

(aliás, é interessante notar o contraste entre a personalidade mais extrovertida de Divaldo Franco com relação a Chico Xavier – interpretado no filme por Álamo Faco -, que fica patente na cena que retrata o encontro dos dois sensitivos: enquanto o baiano se mostra expansivo e irrequieto, o mineiro é pura contenção e introspecção).

Foto: Divulgação

O humor que permeia o longa é genuíno (a cena no confessionário é ótima), transformando-o numa obra solar. A transição para cenas mais dramáticas ou carregadas acontecem de forma fluida e sem que o personagem principal fuja de sua caracterização (talvez a única exceção seja a que mostra uma frustrada tentativa de suicídio do médium, num momento de sucumbência moral-espiritual).

As sequências mais emotivas foram filmadas com grande suavidade e realmente conseguem emocionar a quem as assiste, até mesmo involuntariamente.

Isso se deve, em muito, à excelente direção de atores que extraem de Guilherme Lobo (que faz Divaldo jovem) e Bruno Garcia (que dá vida ao Divaldo maduro) uma interpretação extremamente coesa e segura (aplausos para o jovem ator). O elenco de apoio também não decepciona. Mas não se pode deixar de dar destaque para Laila Garin, no papel de Dona Ana, mãe de Divaldo, que se adapta fisicamente às diversas fases e idades da personagem de forma impressionante. Regiane Alves surpreende no papel da mentora espiritual do médium baiano – Joanna de Ângelis – compondo com extremo naturalismo uma personagem bastante difícil (que o diga André Dias e seu estranho Emmanuel, em Chico Xavier). Mas uma nota especial precisa ser dada a Marcos Veras, que entrega um espírito obsessor (que persegue Divaldo desde a infância) complexo e assustador, numa composição que facilmente poderia descambar para o maniqueísmo.

Foto: Divulgação

O baixo orçamento do filme é evidente. As tomadas do Pelourinho, usadas para retratar a Salvador dos anos 40-50, são sempre feitas em contra-plongée (câmera baixa, contra-mergulho, ou, simplesmente, de baixo para cima) com o óbvio objetivo de evitar a reconstrução de época ou emprego de efeitos especiais para eliminar elementos contemporâneos. Em compensação, a cenografia de certos ambientes (interior das casas, trens, repartições públicas) e os figurinos mostram-se bem fiéis às épocas retratadas.

Todas as “manifestações espirituais” também recorrem aos chamados efeitos práticos, mas, pelo menos, são mostradas. Em Chico Xavier, apenas o espírito Emmanuel aparece e interage com o médium mineiro, de forma a deixar o espectador com a dúvida se ele realmente existia como um espírito desencarnado ou se era fruto da imaginação de Chico. Em Kardec, nenhum espírito é retratado ou interpretado, talvez na tentativa de passar ao público a perspectiva do Codificador do Espiritismo, que afirmava não possuir o dom de ver, ouvir ou de receber espíritos (isto é, não era médium ostensivo).

Já em Divaldo, todos as “entidades espirituais” aparecem e interagem com os médiuns retratados no filme.

Em resumo, o longa é um bom programa, mas é prejudicado pela necessidade de doutrinar seu público com falas e mais falas sobre os fundamentos do Espiritismo, quase se perdendo no proselitismo. A mensagem – sobre imortalidade, sobre caridade, sobre etc. – poderia ter sido passada de forma mais sutil, pela simples observação das cenas e pela demonstração da mediunidade de Divaldo no dia-a-dia que, quando levadas para a tela, rendem os melhores momentos da obra.

Mesmo não sendo perfeito – por se permitir a certas liberdades criativas face a uma biografia já amplamente conhecida e demasiadamente proselitistaDivaldo: O Mensageiro da Paz apresenta sinais de que o subgênero cinematográfico a que pertence possui espaço para inovar e evoluir, ganhando um apelo cada vez mais universal e menos bairrista.

Mas, se tudo isso ainda não lhe convencer a sair de casa para assistir ao filme, pelo menos que a mensagem de esperança, confiança, resiliência, bom humor e amor pelo semelhante que o personagem e homem Divaldo Franco representam, possa animá-lo, pois isso é algo muito importante de se difundir nos dias de hoje, valendo uma olhada e uma reflexão, ao menos.

Foto: Divulgação

_______________________________________________________________________________________________________________________________________

Nota: 3 / 5 (bom)

_______________________________________________________________________________________________________________________________________

SIGA-NOS nas redes sociais:

FACEBOOK: facebook.com/nerdtripoficial

TWITTER: twitter.com/nerdtripoficial

INSTAGRAM: instagram.com/nerdtrip_

VISITE NOSSO SITE: www.nerdtrip.com.br


Leia outras notícias do Nerdtrip e confira também:

THE HANDMAID’S TALE S03 | Crítica do Neófito

TEEKNEWS #90 | Fazendo tour no Canadá, Bauru, Hawai e na maconholândia!!!

CRÍTICA LITERÁRIA | De Frente Com o Serial Killer

TEEKCAST #61| “Histórias para não dormir”, novo HQ que adapta H.P. Lovecraft

ARENA #07 | 1º Temporada de The Boys

Homem-Aranha | Disney e Sony divergem sobre personagem e rompem parceria

EUPHORIA S01 | Crítica do Neófito

Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

Commente

Mais lidos da semana