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Críticas

EUPHORIA S01 | Crítica do Neófito

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Existem séries televisivas que são feitas para se desligar o cérebro e divertir.

Existem aquelas que visam chocar o telespectador.

E existem aquelas que objetivam promover a discussão, despertar a consciência e fazer pensar.

Euphoria, a nova série de oito capítulos da HBO, que estreou este ano de 2019, enquadra-se neste último espectro.

E faz isso de forma extremamente competente e inteligente.

Foto: Divulgação

Utiliza-se de personagens cativantes, atores jovens, bonitos e “na moda”, para contar uma história bastante pesada e, para o incômodo de quem a assiste, muito mais real do que se gostaria de admitir.

Para quem faz parte da geração X (nascidos entre 1960-1980) e é pai de filhos da geração Z (1990-2010) e Alpha (a partir de 2010) – como o caso deste colunista – a série é, mais do que um retrato, um alerta que deve ser observado.

Smartphones, smart tv’s, redes sociais, informação sobre tudo e todos ao alcance de um toque, quartos individualizados desde muito cedo, educação crítico-conteudista, vida profissional adiada para após o término da faculdade – que são realidades da classe média – representam, evidentemente, um avanço social, tecnológico e de conforto para os seres humanos, mas, como tudo na vida, são causas que irremediavelmente geram efeitos, que podem se desdobrar em um amplo espectro que vai do muito positivo ao terrivelmente negativo.

O discurso que os tempos modernos são piores do que os de antigamente não ajuda a lidar com os problemas atuais e tudo o que consegue é criar movimentos reacionários, ultraconservadores e radicais como os que se vê atualmente ao redor do mundo, mas sem resolver qualquer questão relevante, e é duvidoso que consiga conter a onda de avanços que ainda está por vir.

Deste modo, o mais sensato seria lidar com os dados que se têm e buscar, pelo debate, pela pesquisa, pelo estudo e pela experimentação (erro e acerto) formas novas de lidar com a realidade inédita que se apresenta para esses jovens, que, segundo pesquisa recente, 75% deles trabalharão no futuro em profissões que ainda não existem!

O fato é que há uma onda sem precedentes de suicídio infanto-juvenil, de depressão adolescente, de consumo de bebidas e substâncias tóxicas de toda a ordem, de nudes/sexualidade precoce (sem qualquer juízo de valor), ainda que tais números sejam ocultados na maioria das vezes, para evitar uma pandemia de mais e mais casos.

Nesse sentido, Euphoria mete o dedo na ferida sem dó.

A partir da história da narradora da história, Rue – jovem viciada em drogas de 16 anos, aluna do High School norte americano, que sofre uma overdose – a série discute toda essa série de problemas que podem ser verificados na juventude de todas as épocas, mas que, nos tempos atuais, têm contornos próprios do período, haja vista essas novas maravilhas tecnológicas acima mencionadas.

Rue é interpretada por Zendaya – a MJ do Homem-Aranha do MCU – e é incrível que, apesar de dar vida a dois personagens de perfis tão semelhantes (adolescente, bonita, estudante do ensino médio), ela consiga fazer com que, em momento algum, o telespectador veja uma personagem na outra. Parece até que se trata de duas atrizes diferentes, de tão díspares que as personagens são e, confesso que conferi por duas vezes se era mesmo a atriz californiana de 22 anos que atuava nas duas produções.

Sua interpretação crua, sem pudores, de completa entrega física e emocional é magnífica!

Foto: Divulgação (Euphoria / Season 1, Episode 8 / CR: HBO)

O elenco principal ao derredor também não fica atrás: Hunter Schafer é magnetizante como Jules; Jacob Elordi (de Barraca do Beijo) está assustador como o psicopático Nate Jacobs; Alexa Demie compõe a agredida Maddy de maneira a gerar ódio e total simpatia do público; Sydney Sweeney interpreta a “garota bonita” Cassie Howard com extrema competência; a brasileira Barbie Ferreira entrega-se totalmente à sua Kat Hernandez. Todos se destacam no espaço que lhes é concedido.

Foto: Divulgação

A série possui muitas referências estéticas, visuais e temáticas. Mas, o que poderia parecer falta de identidade, na verdade se mostra um trunfo do realizador Sam Levinson (que chegou a confessar o caráter autobiográfico do enredo), para contar sua intrigante história.

Foto: Divulgação (Sam Levinson)

Nesse sentido, a fotografia sempre caída para o azul e o laranja é retirada de Vidas Sem Rumo (The Outsiders, 1983) de Francis Ford Coppola, sendo a cor azul usada sempre para mostrar – como na língua inglesa – a depressão e a queda dos personagens, o quais oscilam entre o “blue” das drogas e problemas existenciais ao laranja e vermelho da frivolidade das festas e diversões.

A música (junto com a fotografia) não apenas como algo usado para encher a cena, mas como elemento narrativo – seja para retratar o estado emocional dos personagens, seja para encenar momentos lisérgicos – tem muita relação com o atual Rocket Man.

O tema sexualidade adolescente lembra Sex Education (Netflix, 2019), mas as semelhanças param por aí, pois, enquanto esta discute a questão por meio do humor tipicamente britânico, Euphoria mostra o lado negro de uma sexualidade juvenil vivida sem controle ou maiores limites (novamente, não há juízo de valor nessa colocação, nem convite a uma maior repressão social ao fato; é apenas uma constatação empírica). Com isso, o aborto também é mostrado despido de qualquer glamour ou julgamento.

A hipocrisia do American Way Life, retratada no pai de Nate, Cal Jacobs (Eric Dane, preciso), remete imediatamente ao belíssimo Beleza Americana (Sam Mendes, 2000). A homossexualidade e pedofilia mantidas em segredo em cd’s para sustentar a farsa da perfeita família cristã norte americana feliz é de assustar.

Foto: Divulgação

A banalização dos nudes e sex tapes também podem chocar os mais puritanos.

Transexualidade, homossexualidade, perversões, abuso contra a mulher, dominatrix, entre outras coisas, são mostrados também, sem nenhuma “forçação” de barra.

A crueldade juvenil, seja nos bullings, seja nas ofensas trocadas sem maiores reflexões, seja na violência física desmedida e injustificada; a cobrança pelos melhores resultados por mais bem sucedido que se seja; a disfuncionalidade das famílias afetando diretamente a psicologia dos filhos tudo é retratado de forma competente e orgânica.

E, claro, tem a questão da dependência química. O traficante com menos de 13 anos, que entende tudo de drogas e lida com aquela realidade como se estivesse negociando cartuchos de videogame é de cair o queixo! O gangster responsável pela distribuição das drogas é absurdamente psicótico e assustador!

Mas, quem novamente brilha, é Zendaya: nas crises de abstinência de Rue; nas mentiras que conta para si e para os outros, seja na família ou nas sessões dos narcóticos anônimos; no seu real esforço em ficar sóbria; na sua paixão por Jules.

Foto: Divulgação

Importante destacar como alguns episódios são quase uma obra de arte! O quinto episódio, então, merece todo o destaque, por unir direção, atuação, trilha sonora e história de forma irretocável!

Por tudo isso, é uma pena que a primeira temporada da série tenha chamado mais a atenção pelas cenas de nudez masculina (nenhuma gratuita!) do que pelo seu tema.

Ou seja, parece que a hipocrisia já acima mencionada quer continuar de olhos fechados – além de querer fechar os olhos de quem os tenha aberto – para a realidade da juventude atual.

O último episódio desta primeira temporada – altamente lúdico e lírico – mostra o quanto é difícil, para quem tem dependência química, dar o passo definitivo para uma vida diferente. Pessoalmente, não adquiri vícios dessa ordem, mas convivo profissionalmente com vários dependentes de crack e outras drogas; e vejo como o prazer efêmero (mas extremamente intenso) da substância química no organismo é mais forte do que o amor materno, paterno, filial, fraternal e pessoal.

A euforia daquele momento breve de “dois segundos” (como diz Rue no início da série) em que tudo se apaga e se enleva por causa do pico ou do teco às vezes é tudo que resta na vida de alguém que não conseguiu encontrar um sentido existencial fora – na religião, na busca por riqueza, na família etc. – e nem dentro.

Por isso, Euphoria deveria ser assistido por todos os pais, educadores e jovens com idade adequada.

Que não se torne um 13 Reasons Why, esvaziado de sua importante discussão pela exigência mercadológica.

Mas que continue, com lirismo e arte, a trazer reflexões que nos ajudem a entender um pouco do mundo destas novas gerações que herdarão e construirão o futuro do planeta.

Foto: Divulgação

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Nota: 4,5 / 5 (excepcional)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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