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Críticas

A CAMINHO DA LUA | Crítica do Neófito

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“Shy Moon; Hiding in the haze; I can see your white face; Hope you can hear my tune […]”(trecho da música “Shy Moon” de Caetano Veloso)

 

A história de Chang’e, a deusa da lua do Taoísmo Chinês, é trágica. Sem querer, ela, que era mortal, toma, por puro descuido e tédio, as únicas duas doses restantes no mundo do elixir da imortalidade, tornando-se uma divindade, mas, no processo, perde seu marido e grande amor, o deus do arco e flecha, Houyi (ou Yi), que tinha se tornado mortal como castigo por ter matado nove dos dez pássaros solares que haviam quase destruído o mundo, passando a viver eternamente sozinha na lua, cercada de coelhos brancos que lhe fazem bolinhos de arroz.

 

“Solidão; De manhã; Poeira tomando assento; ♫ Rajada de vento; Som de assombração; Coração; Sangrando toda palavra sã” ♪♪  (trecho da música “Açaí” de Djavan)

 Foto: Divulgação

O sofrimento da deusa – causado pela perda eterna e definitiva do seu grande amor – é a mesma vivida pela “solar” Fei Fei (voz de Cathy Ang), que vê sua mãe morrer, vítima provável de câncer, bem como sua vida familiar perfeita marcada pela união e o amor, junto com o pai, desmoronar.

Para piorar, Ba Ba (voz de John Cho), o pai de Fei Fei, após alguns anos de luto, decide continuar a vida, introduzindo não apenas uma amorosa madrasta para a filha atônita, mas também um irmãozinho adotivo bastante irrequieto.

 

♫♪ “Tudo acabou; Mal começou; Amor, Agora é a sorte quem manda; Você não quis; Me fazer feliz; Seja o que Deus quiser; Ë pra frente que se anda”(trecho da música “Pra Frente é Que Se Anda” de Ary Barroso)

 

Foto: Divulgação

No desespero de recuperar algo do seu recente passado idílico, ao invés de aceitar a nova realidade, Fei Fei resolve provar que a Chang’e continua viva na lua, sempre tentando achar uma forma de se reunir novamente  com Houyi.

E é nessa hora que a animação, que até então trilhava uma linha mais “pé-no-chão”, ganha ares fantasiosos e muito coloridos, ao mostrar Fei Fei construindo sozinha um foguete que lhe levasse para a lua, o que de fato acontece (e isso não é spoiler, pois está no trailer!!!).

Desse ponto em diante, temos criaturas coloridas de todos os tipos, formatos e tamanhos (com especial atenção para o Gobi, na voz do impagável Ken Jeong); muito neon; uma lua que é praticamente uma danceteria ultramoderna e sofisticada; uma deusa que se comporta como estrela pop (na cantoria, na bajulação, nos arroubos e na bipolaridade); um fiapo de história e muita musiquinha!

 

“Hey Mister DJ; Put a record on; I wanna dance with my baby; And when the music; starts; I never want to stop; It’s gonna drive me crazy” ♫ (trecho da música “Music” de Madonna)

 

Foto: Divulgação

A jornada do herói se desenvolve sem maiores percalços, até o final redentor (é uma animação!!!).

Ou seja, em termos de história, A Caminho da Lua é simples, mas muito bem construído. A animação é primorosa, ficando nítido o traço oriental e as feições realmente chinesas dos personagens. Como se trata de uma co-produção com a China, há criterioso cuidado em retratar com fidelidade a cultura, os hábitos e a arquitetura do país, que é onde a história se desenvolve. E, apesar disso, todos os personagens falam inglês, contando com dubladores, preferencialmente, de ascendência oriental. Uma versão falada em mandarim seria muito bem vinda, não?

 Os cenários da cidade de Fei Fei são belíssimos, apesar da simplicidade extrema. Por isso mesmo, quando o filme, em seu segundo arco, transfere-se para a lua, chega a provocar certo choque, pela súbita mudança de clima e visual. Mas tudo é grandioso, apresentando uma explosão de cores e matizes fabulosos, bem como a belíssima representação gráfica da lua e suas crateras e sombras.

O diretor Glen Keane acumulou vasta experiência em seus muitos anos de Disney, arriscando bem sucedido voo solo com o curta Dear Basketball (ganhador do Oscar de melhor curta de animação em 2018, em parceria com Kobe Bryant) e, agora, com este ambicioso projeto. Essa “gordura” transparece no cuidado com os detalhes, com o roteiro enxuto, com a mensagem que se quer passar – marcas registradas do casa do Mickey – com o tema denso – morte, perda, aceitação – característico da Pixar, que A Caminho da Lua mostra, o que o torna uma ótima opção para assistir em família.

Mas uma coisa na qual as animações ocidentais insistem de forma inflexível é a necessidade de, a cada 15 minutos ou menos de projeção, enfiar uma canção goela abaixo do espectador!

 

“I’m mad at Disney, Disney; ♪ They tricked me, tricked me; Had me wishing on a shooting star; But now I’m twenty-something; ♫ I still know nothing; About who I am or what I’m not” ♫  ( trecho da música “Mad At Disney” de Salem Ilese)

 

Foto: Divulgação

Será mesmo que as crianças – o público prioritário das animações ocidentais – gostam tanto assim dessas músicas? Ou será que isso é uma espécie de efeito rebote de “Let it Go” do primeiro (e melhor!) Frozen?

Por fim, pode-se dizer que, se não fosse por tanta musiquinha – não de todo “ruins” – A Caminho da Lua podia ser até mesmo inovador em sua proposta. Mas Glen Keane evidentemente preferiu não arriscar, optando pelo caminho conhecido e seguro já pavimentado pela Disney, Pixar, Dreamworks e afins, apesar da influência de seus anos no estúdio tão rico quanto seu personagem Tio Patinhas mostrar-se mais forte do que todas as demais referências.

Boa opção para uma tarde em família, A Caminho da Lua é levinho, certinho, muito bem feitinho e coloridinho. Outra boa produção da Netflix, forte candidato ao Oscar, apesar de todos os “inhos” acima!

 

“Até o sol nascer amarelinho; Queimando mansinho; Cedinho, cedinho, cedinho; Corre e vá dizer pro meu benzinho; Um dizer assim; O amor é azulzinho”  (trecho da música “Azul” de Djavan)

 

Foto: Divulgação

 

PS.: as músicas acima foram inseridas para manter o “clima” do filme!

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Nota: 3,5 / 5 (muito bom)

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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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