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Críticas

DIGIMON ADVENTURE 02: O INÍCIO – Crítica (COM SPOILERS)

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Digi-ovo da nostalgia é ativado para encantar os fãs brasileiros.

 

Digimon 02: O Início chega a algumas salas de cinemas brasileiras neste dia 30 de novembro de 2023 como um aceno da Toei Animation para fãs ocidentais da franquia, que só de algum tempo para cá voltaram a serem notados tanto pelo estúdio quanto pela Bandai, a outra empresa por trás do surgimento dos monstrinhos digitais, e que recentemente localizou o game Digimon Survive em português.

Mas será que o longa metragem animado que traz uma nova aventura com os digiescolhidos do segundo anime da franquia tem potencial tanto para dar início a uma nova era dos antigos rivais de Pokémon no Brasil ou será que a qualidade do filme fica limitada a quem teve 02 como sua série favorita de infância? É isso o que iremos descobrir a seguir.

ENREDO

No ano de 2012, há exatos 10 anos desde a primeira ida de Daisuke (Davis), Miyako (Yolei) e Iori (Cody) ao mundo digital na companhia dos então digiescolhidos veteranos Takeru (TK) e Hikari, surge acima da Torre de Tóquio um misterioso e gigantesco digitama* que flutua no topo do monumento chamando a atenção de todos que transitam pela metrópole nipônica.

Enquanto especialistas na mídia tentam compreender e explicar o fenômeno, Daisuke exibe em um restaurante sua vocação culinária para seus amigos e respectivos parceiros digimons até perceberem em meio ao noticiário que um estranho sujeito aparece escalando a Torre de Tóquio sozinho como se quisesse alcançar o objeto. Após Daisuke e Ken resgatarem o indivíduo de aparência melancólica com um tapa olho e vestes pretas graças ao vôo de Paildramon, que logo aparece em meio a uma empolgante animação de digievolução de DNA (jogress shinka) entre Exveemon e Stingmon, os 3 acabam se aproximando um pouco mais que o esperado do digitama e entrando em contato com o objeto brilhante que flutua no ar, voltando alguns anos no tempo.

Depois de uma exposição a eventos referentes ao passado do personagem até então não identificado, o mesmo tenta evitar um “pacto” feito na primeira vez que encontrou com um estranho digimon e posteriormente revela-se como Lui Ohwada, aquele que seria o primeiro digiescolhido e que acabou em um certo momento no passado sendo o responsável pela morte de seu parceiro digimon, Okkomon.

Lui é então confrontado por Daisuke e sua turma sobre a relação de parceria com seus digimons ter sido algo artificialmente fabricado e recebe lições de moral sobre o verdadeiro significado de uma relação de amizade. Porém, em meio ao acontecimento o digitama choca e Okkomon reaparece em uma forma colossal ameaçadora transmitindo uma mensagem à todo o planeta que remete ao pedido feito por Lui em seu aniversário, e então os digiescolhidos resolvem partir para detê-lo, porém, Ken a princípio hesita ao perceber que caso Okkomon seja destruído o vínculo dele e dos demais digiescolhidos com os seus digimons estaria acabado, mas logo é convencido por Daisuke e os demais que o mundo precisa ser salvo mesmo que esse seja o último confronto de todos como digiescolhidos. O grupo tenta então traçar um meio de Lui chegar até Okkomon para que o mesmo possa se reconciliar com seu antigo parceiro digimon e resolverem juntos os traumas de seus próprios passados.

Assim que volta a ter novamente contato com os acontecimentos de seu passado e interagir diretamente com sua mãe e o próprio Okkomon, Lui reforça aos heróis que seu parceiro precisa ser derrotado e em meio a isso os digiescolhidos tentam se aproximar do inimigo dessa vez para derrotá-lo em definitvo, encontrando novamente como obstáculo inúmeros tentáculos que cercam e atacam os digimons que tentam alcançá-lo. Depois que Okkomon é finalmente vencido por Daisuke, Ken e os demais, os digiescolhidos observam que seus digivices passam a se diluir no ar mas que a relação consolidada entre os digimons permanece intacta, tendo então um momento de descontração em meio a neve que cai onde celebram o vínculo entre digimons e seres humanos em um desfecho otimista inclusive com direito a uma crítica indireta à necessidade do uso de “dispositivos eletrônicos” para se estabelecer e manter relações, se é que entendem…

RETCONS, PARA QUÊ TE QUERO?

Digimon Adventure 02 é até hoje um anime que divide bastante as opiniões entre a base de fãs da franquia desde que surgiu. Se por um lado a nova série deu continuidade ao êxito estabelecido em Adventure e trouxe uma série de idéias e conceitos novos que até hoje são utilizados pela franquia em mídias como jogos e animações, tais como as digievoluções de DNA e o nível “armadura” proporcionado pelos digi-ovos (digi mentals), a aventura capitaneada por Daisuke e seus amigos além de não manter o mesmo nível que o anime antecessor em termos de roteiro trouxe em seu desfecho um epílogo que até hoje roteiristas e produtores que se metem a trabalhar com Digimon estão sofrendo para aproximar ou amarrar à linha do tempo que estão tentando delinear para a franquia.

Um ponto que chama a atenção com o lançamento de Digimon Adventure 02: O Início é que produtores ligados à Toei Animation aparentemente resolveram tentar organizar com a chegada desse filme a cronologia das produções animadas ignorando em meio a isso eventos apresentados em áudiodramas e jogos obscuros que estão até hoje restritos exclusivamente ao público japonês e fãs hardcore assim como acontecimentos vistos em filmes anteriores da franquia, constando em meio a isso inclusive a fracassada sequência de filmes Digimon Adventure Tri. No entanto, personagens que participaram de alguns desses longas metragens como Meiko e sua digimon Meikomon ou Wallace e sua dupla de parceiros Terriermon e Lopmon não tiveram sua existência descartada e chegaram a fazer inclusive aparições breves no último filme, Digimon Adventure: Last Evolution – Kizuna.

Digimon Adventure 02: O Início se instalaria na linha do tempo que a Toei está tentando implantar trazendo consigo um retcon*** que definiria quem foi o primeiro digiescolhido e qual a origem das histórias que conhecemos das crianças escolhidas que viajam para outro mundo ao lado de monstrinhos para livrá-lo de ameaças que influenciam inclusive o mundo real. No entanto, tal qual como a série que o derivou, o longa só trouxe mais problemas conceituais.

Pra começar, se existe um indivíduo que teria idade semelhante a de Daisuke, Miyako, Iori e Ken que só foi mencionado agora nesse filme como o “primeiro de todos”, onde se encaixariam Gennai e o grupo de digiescolhidos que teria sido convocado muito antes de Taichi (Tai) e seus 6 amigos para salvar o digimundo e que acabaram falhando nessa missão, com a sobrevivência apenas de Gennai que em Digimon Adventure passou a atuar como tutor do grupo?

Uma outra problemática é: se Okkomon era realmente um digimon tão poderoso que teria sido o responsável pelo estabelecimento de vínculos de seres humanos escolhidos e digimons como conhecemos em pelo menos duas séries animadas de mais de 50 episódios, porque ao longo do próprio filme esse ser é visto apenas como um monstrinho mal compreendido e ressentido com a rejeição de seu dono e não como uma ameaça ainda pior que outros vilões consagrados da saga Adventure como Vamdemon (Myotismon), que chegou a ter até mesmo duas reencarnações só para se vingar?

Eis aqui o grande problema de retcons para tentar organizar sequências de eventos em grandes narrativas: Ao mesmo tempo que se tenta explicar fatos omitidos em produções passadas de uma maneira preguiçosa, eles ainda podem se contradizer com acontecimentos que não tem como ser alterados de produções realizadas há muito tempo atrás e infelizmente Digimon acabou sendo mais uma vítima da própria falta de competência da Toei para administrar uma franquia que segue em sua posse, o que faz com que o filme em relação às outras mídias pareça algo quase que deslocado.

Um outro ponto problemático que pode ser percebido tanto em Digimon Tri, quanto no reboot de Adventure realizado em 2020 assim também como nesse longa metragem é que aparentemente os roteiristas que trabalham com a Toei não sabem mais como conduzir histórias que trazem consigo muitos personagens. Alguns dos antigos digiescolhidos são apenas mencionados aqui enquanto cabe à turma de 02 salvar o dia sozinha sem qualquer assistência de outros digiescolhidos veteranos (ou mesmo Gennai) que sabe-se lá onde foram parar em meio à toda a confusão vista na tela. Quem assistiu Last Evolution – Kizuna até compreende a ausência de Taichi, Yamato (Matt) e Sora por aqui, mas não a de Koushirou (Izzy), Mimi e Joe. É bom ver os digiescolhidos de 02 terem o seu próprio momento de brilhar após o tratamento injusto ao qual foram submetidos em Digimon Tri, mas a Toei acabou cometendo o mesmo erro ao deixar de lado outros personagens do mesmo universo sem qualquer explicação em meio a um embate com proporções apocalípticas.

Ademais, as interações entre os personagens durante a película até que se dão de maneira satisfatória, mas um dos destaques positivos vai para as cenas de ação, que estão um verdadeiro deleite para os olhos de qualquer fã de animação japonesa. Vale aqui também elogiar o esforço do estúdio de dublagem brasileiro Artworks Digital Studio e da distribuidora Paris Filmes em agradar fãs de longa data brasileiros trazendo quase todo o elenco de dubladores brasileiros de volta com exceções de Bruno Pontes (Davis) e Indiane Christine (Kari) que se afastaram do mercado de dublagem, Caio César de Melo (TK) que faleceu em 2015 e Angela Bonatti (Wormmon) que está aposentada.

VEREDITO

Se você tem Digimon Adventure 02 como sua série de Digimon favorita e deseja matar as saudades dos personagens que marcaram sua infância tendo acesso a uma aventura inédita com uma história que traz um conflito, clímax e resolução fechadinhos, vale a pena dar uma espiada no filme através dos cinemas e fazer valer financeiramente o esforço das empresas envolvidas em mostrar que Digimon ainda tem sim um público potencial consumidor relevante no Brasil que merece receber por vias oficiais tudo que a franquia pode oferecer de agora em diante.

Agora, se você é um fã de longa data da franquia que esperava uma produção que trouxesse uma maior coesão com a já extensa mitologia da série diluída entre jogos de videogame, mangás, animes e outras mídias, melhor mesmo é reduzir drasticamente as próprias espectativas e deixar para dar uma conferida no filme no mínimo quando ele chegar talvez às plataformas de streaming.


*DIGITAMA: Nome dado aos ovos de onde os digimons são chocados e nascem

**DIGIVICE: Nome dado aos aparatos tecnológicos concedidos a humanos que estabelecem vínculos de parceria com digimons

***RETCON: Artifício usado por escritores e roteiristas para alterar de forma retroativa eventos estabelecidos em obras de ficção          


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29 anos, psicólogo de formação e fã de animes, mangás, dublagem e jogos por essência, além de cosplayer (só quando o financeiro permite).

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