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Críticas

NAPOLEÃO: O grande pequeno homem | Crítica do Neófito

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Napoleão – o mais novo épico dirigido pelo octogenário cineasta Ridley Scott e estrelado por Joaquin Phoenix (Coringa) e Vanessa Kirby (Missão Impossível 6 e 7) – é um filme lindo de se ver, em termos de imagem – mérito da belíssima fotografia de Dariusz Wolski – e de cenas grandiosas, tais como as encenações das sangrentas e cruas batalhas de Austerlitz (o maior sucesso de Napoleão) e Warterloo (sua derrocada final), dirigidas com extrema competência pelo diretor de Blade Runner: O Caçador de Androides (1982) e Aliens, O Oitavo Passageiro (1979).

O enquadramento aberto, o CGI competente (nunca usado gratuitamente, mas a favor da construção das grandiosas cenas), o controle de vários figurantes e da ação envolvida, marcam presença na reprodução de tais momentos históricos fundamentais na trajetória do ambicioso general francês que ascende ao trono do país responsável pela revolução que deu fim a uma era da humanidade.

Outro ponto de destaque é – quase óbvio – a qualidade da intepretação de Phoenix no papel de Napoleão e de Vanessa Kirby na pele da controversa amada do líder militar francês, Josefina. Kirby – mais conhecida como intérprete de personagens genéricos de ação na franquia Missão Impossível e no derivado Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw (2019) – é, ao contrário do que se possa imaginar, ao se olhar para os papéis que lhe deram maior notoriedade, uma atriz dramática de primeira linha, responsável por atuações realmente muito boas em dramas como Pieces of Woman e Um Fascinante Novo Mundo (ambos de 2020).

Foto: Divulgação (a bela e blasé Josefina)

Os figurinos, a cenografia, a reconstrução de época também são impecáveis, sempre bonitos de se ver, ainda que alguns especialistas em História tenham apontado algumas incongruências aqui e acolá; porém, para o leigo, o que fica é o bom gosto, o refinamento e os mínimos detalhes na reprodução da ambientação da Europa do século 19. Impossível não se sentir partícipe daquele ambiente e momento histórico.

A trilha sonora de Martin Phipps é discreta ao ponto de quase não se fazer notada, apenas embalando cenas e momentos, mas sem nunca interferir inadvertidamente.

Contudo, os méritos do filme param por aí.

O maior problema se encontra no texto do filme, isto é, no seu roteiro e diálogos.

Mesmo gozando de duas horas e quarenta minutos de duração – que são perceptíveis pelo expectador – Napoleão peca por uma indefinição no seu foco. Afinal, o roteiro queria enfatizar a trajetória político-militar do personagem histórico? Ou desejava deixar isso como pano-de-fundo para abordar seu complicado romance com Josefina, cuja lenda assegura ter sido o último nome a sair de sua boca antes de morrer?

Não fica claro se o filme queria focar no ser humano por trás do grande líder e estrategista militar ou se desejava contar a história do homem que, sozinho, conquistou a Europa quase toda.

O romance entre Napoleão e Josefina é introduzido de forma apressada, sem qualquer resquício de romance para, logo em seguida, enfatizar-se o enorme (e complicado) amor que o casal sentia um pelo outro, apesar das “puladas de cerca” de ambas as partes e a tensão pelo fato de ela não conseguir engravidar. A interpretação blasé de Kirby é interessante e transmite um ar de dubiedade a sua Josefina; enquanto Phoenix busca uma caracterização contida para seu Napoleão, enfatizando a frieza, a racionalidade e toda a impulsividade contida do personagem (explicitada algumas poucas vezes), mas sem qualquer evolução ao longo de todo filme. O casamento, para Josefina, é mostrado, a princípio, como estratégia salvaguardora para ela, ex-nobre da era dos Bourbons, no qual nem prazer sexual usufruía. Para Napoleão, ela era como um prêmio, haja vista sua beleza e refino, o que lhe conferia o ar aristocrático de que precisava para se afirmar imperador. O problema dessa relação de amor e ódio foi o fato da aparente esterilidade de Josefina, que os levaram a se divorciar em 1810, para que o “imperador” se casasse com a jovem Maria Luísa de Áustria (Anna Mawn, numa única e brevíssima cena). O filme tenta passar a ideia de que eram “almas gêmeas”, impedidos de viverem seu conturbado amor por razões políticas e tão só.

Foto: Divulgação (bora fazer uma guerrinha ali na esquina?)

Os acontecimentos históricos são adulterados (como na cena da conquista do Egito por Napoleão), além de nem minimamente explicados: a França e Inglaterra eram inimigas mortais, mas sem que nunca se faça qualquer esclarecimento dos motivos que levaram a tamanha animosidade. Tudo parece ser desculpa para que Scott possa avançar rápido de uma cena de batalha para outra (que, ao todo, são três).

Outra coisa que sempre irrita este colunista é ver uma história essencialmente francesa ser toda falada e pensada no inglês! Mas, já que a produção é norte-americana, não há muito o que se dizer a este respeito.

O roteiro peca por anacronismos – da mesma forma que Scott já havia feito no seu fraco Robin Hood (2010) – e por lacunas e alterações da história. Lógico que, por não se tratar de um documentário, mas de uma obra ficcional, a precisão histórica pode, em pontos isolados, ser sacrificada em prol da narrativa; (vide, por exemplo, em Bohemian Rhapsody, a mudança de data do show do Queen no Rock in Rio), mas Napoleão, ao retratar, com equívocos históricos gritantes, um personagem real tão famoso, cuja biografia é amplamente conhecida e destrinchada em inúmeros estudos, obras literárias, teatrais e cinematográficas, acaba por lembrar as recentes obras de Tarantino, que intencionalmente recontam histórias reais com finais radicalmente diferentes.

A direção de Ridley Scott é competente – o homem tem 85 anos, sessenta, dos quais, dedicado ao cinema! – mas peca pela falta de originalidade e de inspiração.

O início do filme, por exemplo, focado na Revolução Francesa e sua famosa guilhotina, remete, imediatamente, ao início de 1492: A Conquista do Paraíso (1992), no qual o cineasta, logo em sua primeira cena, mostra, em close, o enforcamento por torniquete de uma herege, condenada pela Inquisição de Torquemada. O recurso é repetido aqui. Os discursos políticos soam anacrônicos, como já dito, lembrando as falas sobre democracia levadas a efeito por Robin de Locksley (ou Robin Hood), na composição de Russell Crowe. As cenas de batalha, apesar de muito bem filmadas (aproveitando cada centavo dos 200 milhões de orçamento disponível), encontram-se no nível da grande batalha no início de Gladiador (2000).

Ou seja, nada de novo no front.

Scott afirmar ter uma versão de quatro horas de duração pronta para ser exibida na plataforma de streaming da Apple, realizadora do longa.

A expectativa é que essas 1h20m a mais sirvam para dar mais consistência ao roteiro, deixá-lo mais racionalizado, mais explicativo e contextualizante, a fim de que o público não-iniciado na biografia de Napoleão consiga entender as motivações e as demais conquistas do grande militar-imperador da França do século 19, bem como aquela que o próprio considerava sua maior realização, o Código Civil Francês, que passou a ser base para praticamente todos os códigos legislativos de civil law do mundo.

De modo que, se você gosta de filmes históricos, com cenários grandiosos, construção de época caprichada, figurinos deslumbrantes, cenas épicas de batalhas campais, então, certamente Napoleão irá lhe agradar.

Mas, não espere muito mais do que isso!

Até a próxima, viajantes!!!

Foto: Divulgação (preparado para enfrentar as críticas ao filme)


Nota: 3 / 5 (bom)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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