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Críticas

ESCOLA DO BEM E DO MAL | Crítica do Neófito

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Os espíritas acreditam que existe um mundo invisível em constante movimento ao seu redor, ocupado pelos espíritos das pessoas que morreram (ou desencarnaram) e que, segundo colocação do principal livro da respectiva doutrina – o Livro dos Espíritos, em sua questão 459 – influenciam os pensamentos e atos dos encarnados “muito mais do que imaginais”, de modo que “são eles (os “espíritos”) que vos dirigem”.

Em razão dessa “realidade”, os espíritas precisam manter uma constante vigilância sobre seus sentimentos e pensamentos, a fim de não se sintonizarem com entidades espirituais (os “espíritos”) às quais poderiam conduzi-los a situações complicadas, geradoras de um mal carma para as vidas presente e futuras.

Esse tipo de crença, capaz de realmente afetar o comportamento e a postura da pessoa se enquadra naquilo que antropólogos e psicólogos costumam chamar de “pensamento mágico”, também presente nos umbandistas e suas crenças nos orixás; nos católicos, na sua fé nos santos; nos evangélicos, diante da convicção na atuação dos demônios em vários momentos da vida; nos índios e seu animismo com relação a fenômenos e objetos da natureza e entidades da floresta; nos ufólogos e suas certezas de que os destinos do planeta são conduzidos por extraterrestres; e, também, na mente de crianças, na criação de seus “amigos imaginários”.

O pensamento mágico pode tanto assumir contornos patológicos, prejudicando a relação da pessoa com a vida real, mas, também, tem importante função para a saúde mental de outras, ao ajudá-las, por exemplo, a desenvolver sentimentos de segurança diante da aleatoriedade da vida.

O fato é que é quase irresistível pensar que existe ‘algo lá fora’; alguma coisa grande, poderosa e capaz de extrapolar os limites físicos e naturais.

Por exemplo, e se os contos de fadas fossem verdade? Imagine que os personagens – Branca de Neve, a Bruxa Má da Bela Adormecida, Aladdin e tantos outros – fossem reais, mas com direito a tapetes e espelhos mágicos, bem como maçãs envenenadas? Imagine além: que estes personagens – e sua prole – fossem educados e treinados para serem como são?

Pois este pensamento mágico foi transformado na bem-sucedida série de livros infantojuvenis de autoria do escritor e cineasta americano Soman Chainani, chamada de A Escola do Bem e do Mal.

Como sempre, antenada ao que faz sucesso nas diversas formas de mídias culturais, a poderosa Netflix não perdeu tempo e buscou rapidamente produzir o filme A Escola do Bem e do Mal (a partir do primeiro volume da série de livros) que pode ser o pontapé inicial para uma nova franquia cinematográfica de fantasia, ao estilo de (e no sonho de ser um novo) Harry Potter.

Foto: Divulgação (nunca antes o mal e o bem foram tão bonitos de se ver!)

Para tanto, a mais famosa plataforma de streaming do mundo escalou um elenco de apoio de peso para sua produção, encabeçado por Charlize Theron – impressionantemente sempre linda! – no papel da professora do mal, Lady Lesso; por Kerry Washington, encarnando a professora do bem, Clarissa Dovey; pela versátil Michelle Yeoh, na pele da cômica professora de “sorrisos”, Emma Anêmona; por Laurence Fishburne, como o misterioso Diretor da Escola; pela voz marcante de Cate Blanchett, para fazer a narração da história e encarnar a onipotente Storian (livro mágico autotélico que escreve todas as histórias).

Esses figurões hollywoodianos, porém, estão ali quase que como figurantes de luxo, servindo de base para as duas super carismáticas protagonistas, a simplesmente deslumbrante Sofia Wylie, interpretando Agatha; e a carisma em pessoa, Sophia Anne Caruso, dando vida à Sophie.

As personagens são duas amigas adolescentes que se unem profundamente para conseguirem viver em alguma indefinida vila medieval, enquanto são constantemente vítimas de bullying dos demais moradores da localidade, devido às suas origens e peculiaridades familiares (a mãe de Agatha, por exemplo, é “curandeira” e, por isso, é taxada de “bruxa”, bem como sua filha).

Consumidoras ávidas de contos de fadas, elas acreditam na possibilidade de existência da lendária Escola do Bem e do Mal, para a qual são levadas todas as personagens literárias e, excepcionalmente, algumas “leitoras”, isto é, pessoas “comuns”, que esporadicamente ganham o privilégio de estudarem na referida escola e se tornarem mais do que meras humanas. Sophie é a que mais deseja ser escolhida e arrebatada para tal mundo mágico, no qual seu sonho de se tornar princesa poderia se concretizar, além de se ver livre da sua realidade tão opressora e sem futuro.

Ao tentar ir embora da vila, Sophie acaba sendo, de fato, abduzida – junto com Agatha, que tentava dissuadir a amiga de sua fuga – para a mítica Escola do Bem e do Mal. Todavia, para a surpresa, inconformidade e inadequação das duas, a bela e cândida Sophie é enviada para a Escola do Mal, enquanto a mal-humoradas e geniosa Agatha é deixada na Escola do Bem.

Foto: Divulgação (era uma vez, numa vila qualquer da Idade Média…)

Ali elas vão desenvolver magia e conhecer figuras interessantes, como o charmoso e heroico filho do Rei Arthur, Tedros (Jamie Flatters); ou o perigoso e poderoso fundador da escola – e supostamente morto – Rafal (Kit Young), entre outros filhos e filhas de grandes personagens literários.

Além disso, as duas amigas irão descobrir que não há nem branco nem preto absolutos, mas, ao contrário muitos tons de cinza (sem trocadilho com a outra famosa franquia literária e cinematográfica) dentro do “bem” e do “mal”; cada uma iniciando sua jornada de autoconhecimento e amadurecimento.

Essa premissa é desenvolvida por meio de uma produção caprichada; repleta de efeitos especiais competentes; dotada de cenários internos e externos deslumbrantes (muito graças à fotografia precisa do veterano e oscarizado John Schwartzman); lindos figurinos; irrepreensível direção de arte e atuações acertadas.

A direção de Paul Feig acerta o tom de fantasia infantojuvenil, emulando muito do trabalho de Chris Columbus e David Yates na franquia Harry Potter, entremeando leveza, bom humor, fantasia e alguma dose de suspense e perigo para as personagens.

Seu maior mérito está na condução de suas protagonistas, que dão um show e seguram a produção nas costas, com total desenvoltura e ótima química entre elas.

Mas não dá para não dar destaque para Sofia Wylie. Essa menina é, sem medo de errar, a mais bonita atriz da nova geração (além de incrivelmente talentosa), sendo impossível desviar os olhos de sua beleza e magnetismo quando em tela, ao ponto de ofuscar – não propositalmente – sua companheira de protagonismo, Sophia Anne Caruso. A jovem atriz tem competência, lindeza e potencial suficientes para vir a se tornar uma grande estrela de Hollywood, desde que saiba fazer boas escolhas na carreira.

Foto: Divulgação (com diria Cássia Eller: “quem sabe o príncipe virou um sapo e vive dando no meu saco”…)

Em termos de roteiro, A Escola do Bem e do Mal não tem muito onde inovar: sua premissa e tom, notoriamente infantojuvenis, impedem maior aprofundamento na questão levantada, acerca da pureza do “bem” ou do “mal”. Senso assim, sabemos o que esperar da história e do destino – a princípio – de todo os personagens. As batalhas não geram derramamento de sangue, apesar das espadas, barrafundas e flechas utilizadas em combate (nesse sentido, a franquia Harry Potter, principalmente em seus capítulos finais, conseguiu ser mais brutal e menos condescendente).

O enredo é bem desenvolvido, mostrando o desenvolvimento de um latente “lado negro da força” existente no coração aparentemente principesco de Sophie; ao passo que Agatha se descobre muito mais capaz de atos concretos de bondade e empatia do que sua estratégica carranca muitas vezes permitiria supor.

Mas A Escola do Bem e do Mal sofre pelo esquematismo de sua proposta e pelo clímax pouco original, bem ao gosto de Malévola ou Frozen.

Ainda assim, o universo imaginado por Soman Chainani, ainda que eivado de fragilidades conceituais e menos imaginativo do que o concebido por J. K. Rolling, é rico e interessante o suficiente para cativar o espectador e promover uma boa experiência imersiva na proposta fantasiosa e mágica.

Mesmo sendo um pouco longo (duas horas e quinze minutos), o filme é de fácil enfrentamento, não representando sacrifício encará-lo.

O final sugere continuação, o que seria uma ótima oportunidade para rever a estonteante figura de Sofia Wylie em tela novamente.

Aceite, portanto – como as personagens da história têm que aprender a conviver com o cinza presente em todos nós – os erros e acertos da produção e curta um bom entretenimento familiar.

Foto: Divulgação (até breve, Sofia ♥)


Nota: 3,5 / 5 (muito bom)

 


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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