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Críticas

O CÉU DA MEIA-NOITE | Crítica do Neófito

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George Clooney sempre será lembrado pela comunidade nerd por ter cometido o famigerado Batman e Robin (escorregão na direção do talentoso e já falecido Joel Schumacher, em 1997), quando ainda pretendia manter sua aura de galã, conquistada em seus tempos de Dr. Doug Ross no antigo sucesso televisivo Plantão Médico (ER). Todavia, na medida em que foi amadurecendo, é inegável que o astro soube alternar sua carreira entre produções voltadas para o puro entretenimento (Um Drink no Inferno, a franquia Onze Homens e um Segredo, Tomorrowland etc.) e obras mais autorais, sempre de cunho reflexivo e/ou político (Três Reis, Syriana etc.), principalmente após montar a produtora Section Eight junto com o cineasta Steven Soderbergh, e de ter se aventurado na direção (como no magnífico Boa Noite, e Boa Sorte, de 2005).

Foto: Divulgação

Afastado das telas desde 2016 – quando atuou em Jogo do Dinheiro, dirigido pela amiga Jodie Foster – a estrela hollywoodiana retorna à frente e atrás das câmeras no drama de ficção científica O Céu da Meia Noite, produzido pela Netflix. Após atuar na refilmagem da ficção “cabeçuda” Solaris (2002) e de fazer uma ponta marcante em Gravidade (2013, que deu o Oscar a Sandra Bullock), Clooney quis uma ficção para chamar só de sua e, sendo assim, optou pela adaptação mais ou menos fiel do livro Good Morning, Midnight de Lily Brooks-Dalton.

Foto: Divulgação

No roteiro do filme – e isso não é um spoiler – o apocalipse ecológico finalmente aconteceu. A humanidade acabou de vez com a camada de ozônio ou explodiu várias bombas nucleares sobre a Terra (o motivo não é explicitado) o que, por conseguinte, deixou o ar irrespirável, repleto de radiação, provocando sua extinção definitiva. Quem pode prefere passar os últimos dias possíveis ao lado da família, nos “subterrâneos”, à exceção do sempre (auto) solitário personagem vivido por um George Clooney envelhecido e cansado, o brilhante astrofísico Dr. Augustine Lofthouse (cujos episódios da vida são mostrados em flashbacks, vivido pelo ator Ethan Peck).

Augustine opta por ficar no Ártico, precisando transitar do observatório espacial onde trabalhava para uma estação climática dotada de melhor antena, com o objetivo de contatar a nave Aether (claro anagrama de Earth) e fazer com que ela não pouse na Terra, mas que volte para a (fictícia) lua K-23 de Júpiter, que possui condições de vida para os humanos, salvando as últimas pessoas do planeta para reiniciarem tudo da colônia lá instalada. Para piorar, Augustine descobre, por acaso, que não ficou sozinho no observatório, mas que tinha a companhia de uma bela menina chamada Íris (a revelação Caoilinn Springall) de quem, a contragosto, precisaria cuidar e proteger.

Foto: Divulgação

A nave Aether é comandada pelo capitão Adewole (David Oyelowo), com auxílio dos astronautas Sully (Felicity Jones) – grávida do capitão –, Sanchez (Demián Bichir), Mitchell (Kyle Chandler) e Maya (Tiffany Boone).

Limitada a esses dois ambientes, a história do filme já seria bastante tocante em si mesma – afinal, trata-se do fim do mundo! – mas, como é bastante comum em Hollywood, não basta trabalhar a trama suas implicações emocionais e psicológicas – quiçá éticas! Desse modo, Clooney não resiste em criar tensão onde não seria necessário, desenvolvendo um inexplicável desvio de rota da Aether com o único objetivo de colocá-la na rota de um cinturão de pequenos asteroides, causar danos, obrigar os astronautas a saírem da nave etc. e tal. Portanto, algo já visto inúmeras vezes em inúmeros filmes do gênero (Armagedom, Gravidade, Apolo 13, Interestelar, Perdido em Marte, Ad Astra, e por aí vai).

Foto: Divulgação

Apesar de não ser o ideal em uma análise crítica, fica-se imaginando como a trama e os subtextos teriam sido desenvolvidos caso o filme fosse filmado por Terrence Malick ou Stanley Kubrick. Aliás, 2001, Uma Odisseia no Espaço poderia ser usado em defesa do longa de Clooney, pois, também se desvia da trama principal (ida à Júpiter – de novo! – para encontrar a fonte de emissão do “monolito”) para o arco envolvendo o computador Hal 9000. Todavia, na obra de Kubrick, as ações da Inteligência Artificial tinha relação com a própria questão da humanidade – na linha de Sartre – e do questionamento maior que o filme buscava proporcionar, enquanto, em O Céu da Meia Noite, as subtramas têm apenas o objetivo de criar cenas de ação genéricas, apelo emocional barato, justificando o emprego de efeitos visuais de ponta (belíssimos, por sinal!), mas esticando a duração do longa desnecessariamente, sem realmente contribuir em nada para a história.

Se os acidentes que ocorrem nesses filmes espaciais têm algum “q” de verdade, dá até medo da incompetência da Nasa em programar suas naves e preparar seus astronautas, porque sempre ocorrem coisas inexplicáveis, como os formatos das naves – que, apesar de visualmente belos, parecem pedir para serem alvos de algum acidente – ou sua fraca proteção contra impacto; isso sem falar nos mais bobos erros humanos!

Entretanto, deixando esses (e outros previsíveis) clichês de lado – mas que realmente enfraquecem o filme – O Céu da Meia-Noite, quando voltado para seu enredo, revela-se uma obra sensível e tocante, repleto de boas interpretações, com destaque para a entrega física e emocional de George Clooney, que realmente convence o espectador da sua saúde fragilizada e de seu desencanto com o mundo e com a vida que havia escolhido viver até ali. O final, esse sim, guarda uma boa surpresa para os mais desavisados.

É terrível analisar um filme pensando no que ele poderia ter sido, ao invés do que ele realmente foi, mas O Céu da Meia-Noite, infelizmente, apesar de entregar um produto muito bem acabado, tecnicamente impecável e carregado de uma mensagem reflexiva importante, acaba por trazer, a reboque, forte impressão de que faltou alguma coisinha para se tornar uma pequena obra-prima.

Um pouco menos de preocupação em entreter e de lugar comum teriam feito a diferença.

Foto: Divulgação

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Nota: 3,5 / 5 (muito bom)

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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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