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Críticas

MONSTER HUNTER | Crítica do Neófito

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Antes de mais nada, preciso confessar que nunca havia jogado o muito apreciado game de fantasia Monster Hunter, da Capcom, para o antigo Playstation 2, de modo que fui conhecer sua interface (e excelentes gráficos, haja vista a época de sua confecção) apenas agora, após assistir ao filme em live action homônimo que estreia dia 25/02/2021, estrelado por Milla Jovovich, Tony Jaa e Ron Perlman, além da pitoresca participação da brasileira Nanda Costa. Desse modo, os comentários aqui levados a efeito abordam apenas os méritos (ou deméritos) cinematográficos da produção, dirigida pelo “especialista” em adaptações de games para o cinema (e marido de Jovovich) Paul W. S. Anderson (franquia Resident Evil).

A princípio, o filme tem dividido opiniões, estando abaixo da média na crítica especializada, mas com 70% de aprovação do público que já o assistiu (e baixou), segundo estimativa do Rotten Tomatoes.

Na nossa análise, Monster Hunter (filme) segue o script padrão de Paul W. S. Anderson (inclusive em termos de nota nos agregadores), sendo um filme genérico, exagerado, inverossímil, mas divertido de tão tosco.

Porém, vamos por partes.

Monster Hunter, basicamente, conta a história da ranger supertreinada Natalie Artemis (Milla Jovovich) que, junto com sua equipe, é pega numa misteriosa tempestade de areia em algum ponto do deserto oriental repleto de pedras inscritas com símbolos e língua estranha. Enigmaticamente ela e seu grupo são transportados para outro mundo, em que navios navegam dunas de areia, há um gigantesco monstro “submergido” nessas mesmas dunas, uma espécie de ninhada de carnívoras aranhas gigantes sensíveis à luz, enormes dragões cuspidores de fogo e mais uma variedade de criaturas tão perigosas quanto belas.

Foto: Divulgação

A partir dessa premissa – pelo que me informei, fiel ao game – Paul W. S. Anderson começa a fazer colagem de várias obras do cinema de ação e suspense. São muitas as referências explícitas, a começar por Aliens, O Resgate (1986) e seus diversos “soldados-iscas-de-monstros” liderados por uma mulher implacável; seguido por Eclipse Mortal (2000) e sua tensão absurda pelo enfrentamento do frágil ser humano contra uma infinidade de criaturas sanguinárias; além da autorreferência à própria franquia Resident Evil.

O primeiro arco – no qual Artemis tem que lidar com a sua nova situação, num mundo estranho e ameaçador – consegue ser verdadeiramente tenso e claustrofóbico, representando o melhor momento do longa. Mas, logo após o banho de sangue inicial, o absurdo vai se tornando mais absurdo a cada quadro. Milla Jovovich – que claramente está envelhecendo, apesar da excelente forma física – apanha, é picada, mordida, luta em pé de igualdade com o mestre em artes marciais Tony Jaa, é lançada de um lado para o outro como se fosse um brinquedo e, mesmo assim, sempre se levanta mais brava e determinada, quase uma Wolverine de saias, digo, de coturno.

Tudo bem que, no game, o avatar também é espancado sem piedade pelos monstros, mas, como se diz no jargão futebolístico, “jogo é jogo, treino é treino”. No mundo real, ninguém sofreria tantas agressões físicas sem ficar com sérias concussões, sangramentos externos, hemorragias internas, hematomas, fraturas, dentes quebrados e impedimentos locomotores. Já que o filme se propõe a uma visão em live action – e, portanto, mais “realista” da coisa – poderia ter tido mais cuidado com a coerência.

Foto: Divulgação (a semelhança com o visual/gráfico do game)

Em termos de ritmo, o filme é quase sempre ágil, mas o primeiro arco realmente é bem superior aos demais. Os efeitos especiais e visuais são corretos e bem feitos. Na batalha final, parece que assistimos ao game, haja vista a reprodução dos movimentos dos atores no confronto com as criaturas, o que é um ponto positivo em termos de fan service; além disso, as criaturas são idênticas às que existem no videogame. A direção de arte merece elogios, contando com figurinos e cenários bem fiéis ao material original, notadamente no tocante às armas e armaduras. O cemitério de navios – muitos dos quais construídos de fato em tamanho quase natural – é de encher os olhos. A fotografia é básica, realçando a aridez do deserto com cores quentes, mas sem nenhuma saturação especial. E os acertos param por aí.

Os atores, como seria de se esperar, pouco têm a fazer com o roteiro raso e as falas de efeito que lhes foram postas na mão. Ron Perlman (Admiral) surge como um troglodita bem intencionado, falando um inglês perfeito para quem aprendeu sozinho a língua do “nosso” mundo (digo, a língua inglesa, apesar do portal entre os dois universos estar no Oriente Médio); e os demais são, na maioria, buchas de canhão ou elementos descartáveis, postos em cena apenas para que as criaturas digitais possam matá-los das mais criativas e nojentas maneiras, mostrando o tamanho da ameaça selvagem que os “heróis” enfrentam. Nessa confusão, a brasileira Nanda Costa (Lea) consegue até algum destaque, como integrante da tripulação de Admiral.

Foto: Divulgação (Nanda Costa, Ron Perlman e, no centro, um divertido fan service para os apreciadores do game)

E tome correria, monstros imunes a tiros de metralhadora pesada e bazuca, mas vulneráveis a flechas e espadas aparentemente feitas de osso; alguma escatologia; um mínimo de sangue (mas não muito, para ampliar a faixa etária do público).

A estética é a mesmíssima que Anderson utilizou em todos os infindáveis filmes que dirigiu na franquia Resident Evil, inclusive no final aberto para outra(s) continuação(ões).

Mesmo com esses e vários outros probleminhas de roteiro, direção e continuidade (num determinado momento, por exemplo, o close de Artemis sentada no deserto a mostra protegida numa sombra, mas, na mesma cena em tomada aberta, ela está sob o sol a pino), Monster Hunter consegue ser divertido e involuntariamente engraçado a partir de seu segundo arco, certamente agradando aos fãs do game e do público menos exigente, que só deseja desligar o cérebro e curtir duas horas de escapismo.

Se você é desses que só quer uma distração que ajude a tomar fôlego para atravessar essa pandemia implacável que vivemos, Monster Hunter é para você. Mas caso prefira algo um pouco mais trabalhado, talvez a ação pura e simples do longa não vá atendê-lo.

Foto: Divulgação

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Nota: 2,5 / 5 (regular)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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