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Críticas

TOM E JERRY: FILME | Crítica do Neófito

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Na primeira semana de fevereiro de 2021 circulou pelas redes sociais a fakenews que afirmava que o canal a cabo Cartoon Network teria tirado os desenhos do Tom e Jerry de sua grade, em razão de ser uma animação “politicamente incorreta” e “prejudicial às crianças”, haja vista seu alto nível de “violência”.

Quando essa falsa notícia saiu, o grupo de WhatsApp da equipe Nerdtrip ficou abarrotado de acaloradas discussões, que chegaram ao nível de se debater sobre a influência de um dos mais conhecidos desenhos animados de todos os tempos sobre a cultura de violência contra gatos.

Uma vez desmentida a fakenews, os ânimos se arrefeceram e tudo voltou à normalidade.

O que muito estranhou a este colunista foi o fato de que, na memória afetiva que guardo dos desenhos do Tom e Jerry (e outros tão “violentos” quanto, como Pica-Pau, Papa-Léguas, Pernalonga etc.), o que ficou foram muitas gargalhadas, momentos divertidíssimos e lembranças de episódios antológicos, como aquele do Clube de Jazz que não deixava Tom dormir; do Tom pianista (que, inclusive, ganhou o Oscar de melhor curta de animação); ou o do primo gangster de Jerry, além de tantos outros.

Criado pelos geniais William Hanna e Joseph Barbera, em 1940, Tom e Jerry se caracterizou por um ritmo extremamente dinâmico e ágil, sempre embalado por excelente trilha sonora e animação de boa qualidade, feita à mão! Os episódios passavam rápido, tudo sempre muito dinâmico, sem pausas desnecessárias. O enredo – simples – baseava-se na mitológica rivalidade entre gatos e ratos, com histórias sempre envolvendo a dificuldade do estúpido gato Tom em pegar o esperto rato Jerry. O absurdo caracterizava cada desenho, repleto de explosões, pancadas, choques e tudo que fosse possível sair da cabeça de seus criadores e continuadores para fazer rir.

 Foto: Divulgação (os geniais Hanna-Barbera)

Não conheço, pessoalmente, nenhuma criança que acreditasse na veracidade daquilo que era mostrado na telinha. Era um carton! Um desenho animado capaz de distorcer o corpo de Tom na forma de sanfona ou de explodir seu rabo numa cena para surgir perfeito e intocado na seguinte.

Discussões desse nível à parte, o fato é que gerações inteiras cresceram assistindo e se divertindo com as perseguições quase sempre mal sucedidas de Tom sobre Jerry e, cá entre nós, os mais divertidos episódios são aqueles mais antigos, repletos das cenas que, hoje, estariam sendo chamadas de politicamente incorretas.

Todo esse barulho, porém, surgiu justamente quando se anunciava a estreia – mesmo com pandemia – de Tom e Jerry: O Filme, dirigido por Tim Story (Quarteto Fantástico, Policial em Apuros) e estrelado por  Chloë Grace Moretz (a eterna Hit Girl) no papel da malandra Kayla, a típica heroína à busca do sonho americano; e do sempre bom Michael Peña (o inesquecível Luis dos filmes do Homem-Formiga), interpretando o chatinho gerente de hotel Terrence, o antagonista de Kayla e de Tom e Jerry. Completam o elenco, o comediante Colin Jost (Ben) e seu par romântico Pallavi Sharda (Preeta), Rob Delaney (Sr. DuBros), o sempre exagerado (mas engraçado) Ken Jeong (Jackie) e Patsy Ferran (como a inusitada e hilária Dorothy).

Foto: Divulgação

A trama do filme é um fiapo: Tom e Jerry se mudam para New York, aparentemente deixando sua rivalidade de lado, mas tão logo chegam à Big Apple, retornam com suas brigas intermináveis, com prejuízo e destruição para todos ao seu redor. Os dois acabam parando num hotel de luxo, no qual se realizará o casamento do ano do casal mais badalado do momento, Ben e Preeta, e onde, coincidentemente, Kayla acaba conseguindo um emprego, após passar a perna na excelente candidata à vaga, Linda Perrybottom (Camilla Arfwedson). Evidentemente, um rato vivendo num hotel de luxo não é lá muito conveniente, de modo que, obviamente, Tom será designado como funcionário do hotel responsável pela captura do incômodo camundongo. E tome perseguição e bagunça!

Além disso, personagens clássicos da animação estão lá, como o bulldog Spike e o gato Butch, eternos rivais de Tom, além de elefantes que morrem de medo de rato caminhando impotentes dentro do hotel! E tome literais furacões de confusão.

Foto: Divulgação

O longa é inteligente em se fiar na tradição do antigo (e atemporal) Uma Cilada para Roger Rabbit (1988), integrando os desenhos com os atores de carne e osso de forma orgânica e natural, por meio de excelentes efeitos visuais. Todos os animais daquele universo são concebidos por meio de animação, incluindo aves e os peixes a serem comidos pelas pessoas, num acerto do roteiro, que acaba por tornar natural o absurdo dos bichos animados em meio aos humanos.

Confesso que, depois de ver as mais recentes animações veiculadas na tv dos próprios Tom e Jerry, dos Looney Tunes e do Pica-Pau – nas quais os personagens se mostram domesticados e politicamente corretos (Pica-Pau se tornou um pai desesperado com o mau temperamento dos filhos e o Pernalonga virou um solteirão bobo, no qual os demais personagens passam a perna!!!) – fiquei apreensivo com o que seria feito com Tom e Jerry no longa. Porém, bastaram alguns minutos de filme para notar que Tim Story optou pelo espírito da animação clássica e que, sem perceber, os risos e pequenas gargalhadas escapavam espontaneamente dos lábios, o que sempre é um bom sinal.

Tom e Jerry: O Filme é infantil na medida certa, possuindo uma trama bobinha, mas ao mesmo tempo antenada com a modernidade (o casal seguido nas redes sociais, drones, referências engraçadíssimas à Matrix, Missão Impossível, Batman, entre outros); interpretações muito boas para o que se propõe (mesmo na irrepreensível versão dublada); e o mesmo espírito transgressor que ajudou a formar sua história na cultura pop; de modo que pais e filhos – se a pandemia permitir – poderão curtir juntos um programa em família bastante agradável. Sem potencial para figurar na história do cinema, o filme pelo menos serve para apresentar às novas gerações os queridos personagens e situações que alegraram a infância de seus ascendentes.

PS.: os gemidos, grunhidos, gritos etc., emitidos por Tom e Jerry – que não têm falas no filme – foram obtidos dos antigos arquivos dos estúdios em que os desenhos clássicos foram produzidos, utilizando as vozes originais de William Hanna, Frank Welker, Mel Blanc, Frank Welker e June Foray.

Foto: Divulgação

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Nota: 3,5 / 5 (muito bom)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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