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Críticas

CIDADE INVISÍVEL S01 | Crítica do Neófito

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A Netflix continua firme no seu projeto de tocar produções locais, ambientadas e realizadas em países diversos. Daí a profusão de filmes e séries espanholas/catalunhas (La Casa de Papel, Vis a Vis, Elite, Merli etc.); alemãs (Dark, Bárbaros etc.); norueguesa (Ragnarok); mexicanas (Club de Cuervos); animes japoneses (Great Pretender, Cavaleiros do Zodíaco, Akame Ga Kill etc.); além das brasileiras Boca a Boca, 3%, A Irmandade, Coisa Mais Linda, O Mecanismo, Reality Z.

 Foto: Divulgação

O mais novo investimento da plataforma de streaming nas terras tropicais descobertas por Cabral é a série de mistério, investigação e toques de terror, Cidade Invisível, que chega ao público com o aval de ser criação de uma estrela nacional nos EUA, o produtor e cineasta Carlos Saldanha (Rio, A Era do Gelo), sendo dirigida por Júlia Pacheco, Jordão e Luis Carone, a partir do roteiro a três mãos de Raphael Draccon e Carolina Munhóz.

A premissa não poderia ser mais instigante e promissora: as lendas do folclore brasileiro – Saci Pererê, Boto Cor-de-Rosa, Cuca, Curupira, Tutu Marambá, Iara etc. não só seriam reais, mas estariam vivendo entre a gente, inseridos na sociedade de forma disfarçada e, por isso mesmo, acabando por influir – voluntária ou involuntariamente – na vida das pessoas.

Foto: Divulgação

Na trama, essa influência acontece quando o policial ambiental Eric (Marco Pigossi), perde a esposa e quase perde a filha durante um incêndio – que pode ter sido criminoso – na Floresta do Cedro, situada na fictícia Vila Toré, nas imediações da cidade do Rio de Janeiro.

A vila – objeto de disputa de uma construtora (o que abre campo para o clichê do empresário corruptor e o delegado corrupto/corruptível) – aparenta ser um reduto parado no tempo, cheia de pescadores e líderes carismáticos, como o velho Ciço (José Dumont), o qual vive em conflito com o filho João (Samuel de Assis), que passou a trabalhar na construtora inimiga. Não demora para que as figuras lendárias do folclore nacional comecem a aparecer, de forma explícita ou mais sutil, no desenvolvimento da trama (aliás, logo na cena de abertura, antes dos créditos iniciais, uma delas já surge). Misturando a trama policialesca da busca de Eric pelos responsáveis pela morte da sua mulher, com a atmosfera mística oriunda das figuras folclóricas e lendas caipiras tem-se uma série nacional que remete a uma mistura de Sítio do Pica-Pau Amarelo para adultos (expressão cunhada por Daniel Castro, na crítica cultural do site do UOL para a série, no dia 04/02/2021) com Deuses Americanos (guardando outras semelhanças com a série baseada na obra de Neil Gaiman, tais como o início de cada episódio narrando alguma coisa acerca da lenda/deus que terá alguma importância na trama).

No entanto, apesar da premissa promissora, da produção caprichada e interpretações acertadas do já citado Marco Pigossi (Eric), da ainda belíssima cinquentona Alessandra Negrini (Inês), de Fábio Lago (Iberê), de Wesley Guimarães (Isac), de  Julia Konrad (Gabriela) e da menina Manu Dieguez (Luna) – além da tentação de querer muito gostar de uma série brasileira que finalmente transite por temas tão nacionalistas – é preciso ser honesto com alguns problemas no desenvolvimento do programa.

Foto: Divulgação

Algumas forçações de barra narrativas são esperadas e suportadas, mas Cidade Invisível às vezes erra a mão na incoerência. Para ficar num único exemplo, cite-se a cena da funcionária do frigorífico da Polícia Ambiental recusando a receber o cadáver de um boto, em razão das quartas de final do campeonato carioca disputada pelo Flamengo! Mesmo para os padrões brasileiros foi um pouco demais.

Os efeitos especiais são econômicos, mas bem realizados, como o redemoinho do Saci, os olhos esbranquiçados de alguns personagens, o cabelo de fogo de Curupira. A maquiagem e figurino de sereia de Jéssica Cores (Camila/Iara) e do Boto (Victor Sparapane) estão acima da média. Mas fica a impressão de que a maior parte dos recursos foram empregados na concepção dos cabelos de fogo do Curupira (realmente impressionante), sobrando pouco dinheiro para a construção digital das borboletas da Cuca, que apesar de lindíssimas, são dotadas de um efeito de voo extremamente artificial.

Foto: Divulgação

Alguns pontos do roteiro – mesmo levando em conta o fato de se tratar de uma obra com elementos fantásticos – também são falhos, bem como a concepção bastante estereotipada de alguns personagens (principalmente a do delegado Ivo, vivido por Rafael Sieg, que, desde a primeira aparição, segue o script básico do antipático chefe de polícia antagonista do incompreendido policial herói) e da falta de explicação de porque diabos todas as principais entidades folclóricas do Brasil foram se reunir no Bairro da Lapa, no Rio de Janeiro! Mas o que tecnicamente mais incomoda é o ritmo lento da história, que muitas vezes fica dando voltas e voltas, mas efetivamente evoluindo muito pouco a cada episódio com média de 30 minutos cada. Talvez um pouco mais de agilidade (que só parece surgir nos dois últimos dos 7 episódios) fosse mais bem vinda ao programa.

Foto: Divulgação

A maioria dos enigmas levantados ao longo da série são resolvidos, mas são deixadas muitas pontas soltas, além do final em aberto, provavelmente se pensando numa ainda não prevista/anunciada segunda temporada.

Sem dúvida, Cidade Invisível deve ser aplaudida por mergulhar nas às vezes tão esquecidas lendas e tradições do país, que parece adorar cultuar o folclore norte-americano. O projeto revela que há um enorme caldo cultural brasileiro muito pouco explorado, mas com potencial para gerar grandes e inovadoras histórias e produções artísticas de todas as ordens, bastando vontade e trabalho.

Todavia, o resultado final ainda foi mediano.

É, sem dúvida, um bom programa e boa opção para maratonar e curtir. Mas que poderia ser um pouquinho melhor, podia!

Foto: Divulgação

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Nota: 3 / 5 (bom)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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