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Críticas

ALTERED CARBON S02 | Crítica do Neófito

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 ALERTA DE SPOILER!!!!!!

(Este texto abordará alguns elementos da trama)

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Anthony Mackie, o Falcão do MCU, é indubitavelmente um ator carismático e talentoso, chegando a ter sido premiado com o Gotham Awards de Melhor Performance de Elenco por sua atuação em Guerra ao Terror (2010).

Rosto conhecido de diversas produções dos mais diversos gêneros, pode-se dizer que o ator está no limiar do estrelato, faltando acertar um filme realmente bombástico, o que não se mostra muito fácil na disputada Hollywood.

Talvez reconhecendo que lhe falte o apelo (ou tamanho do talento) de um Will Smith, um Denzel Washington ou um Samuel L. Jackson, ou, ainda, oportunidades reais para um papel realmente relevante na indústria cinematográfica norte-americana, Mackie tem focado esforços no Netflix (e brevemente no canal de streaming da Disney), onde vem estrelando diversas produções. Dois dos projetos nos quais se engajou – Io e Point Blank (Á Queima Roupa) – representam retumbantes fracassos de público e crítica. Em compensação, o primeiro episódio da quinta e curtíssima temporada de Black MirrorStriking Vipers – protagonizado por ele, é considerado pelos fãs um dos melhores de toda a série (curiosidade: o episódio foi gravado na cidade de São Paulo!).

Foto: Divulgação

Eis que, agora, o ator encabeça a continuação de um dos bons sucessos do Netflix (integrante do top 4 do canal), a intrigante série de ficção científica baseada na obra homônima de Richard K. Morgan, Altered Carbon, cuja primeira temporada foi ao ar em fevereiro de 2018 (confira nossa crítica aqui).

Para quem ainda não conhece o distópico universo cyberpunk concebido por Morgan, Altered Carbon se passa numa época futura em que o homem não apenas dominou as estrelas e colonizou outros planetas, como também venceu a própria morte, a partir da criação de cartuchos nos quais toda a atividade cerebral da pessoa – e, por conseguinte, sua personalidade ou alma – é gravada. Se o corpo morre por qualquer motivo, esse cartucho, inserido na altura da ligação da espinha dorsal com o crânio, pode ser inserido em outro corpo (ou capa) – sintético ou orgânico, original ou clonado, normal ou melhorado – para que a pessoa continue vivendo ad aeternum, desde, é claro, que ela possa pagar por um.

Foto: Divulgação

A primeira temporada, iniciada em um ritmo mais cadenciado, aos poucos vai ganhando peso, densidade e ritmo mais ágil, até um final repleto de ação e emoção, sem perder de vista uma crítica social e filosófica muito interessante. Não à toa, tanto no visual, quanto na temática e condução, o primeiro ano de Altered Carbon lembra muito Blade Runner, tendo no cult movie de 1982 uma clara inspiração.

Joel Kinnaman (Esquadrão Suicida, Robocob 2014) foi o protagonista em 2018, interpretando uma das capas do herói da saga – Takeshi Kovacs – que também foi vivido por Will Yun Lee (corpo/capa originais de Kovacs) e brevemente por Byron Mann.

Nesta segunda temporada, o último dos emissários ganha o corpo de Anthony Mackie (e, rapidamente no primeiro episódio, uma outra capa, que não vale à pena revelar, para não estragar a surpresa), que carrega muito bem o papel, realmente parecendo o personagem que pudemos assistir no primeiro ano do programa. O temperamento frio e calculista (e ao mesmo tempo passional) de Kovacs é perfeitamente emulado pelo ator.

À exceção lógica de Kinnaman, quase todos os demais personagens do núcleo heroico da primeira temporada – a bela Kristin Ortega (Martha Higareda);  Vernon (Ato Essandoh); Reileen (Dichen Lachman); Lizzie (Hayley Law, que tem mais tempo em cena) – dão um jeito de aparecer em tela, mesmo que de forma breve e ainda que na forma de cópias físicas ou virtuais daqueles personagens. A I.A. (Edgar Allan) Poe, vivido com maestria por Chris Conner, todavia, retorna de forma integral para essa segunda temporada, bem como Will Yun Lee, dando corpo a um clone da forma original de Takeshi Kovacs.

Foto: Divulgação

Os novos personagens introduzidos – a governadora ambiciosa e inescrupulosa Danica Harlan (Lela Loren), a caçadora de recompensas Treep (Simone Missick) e a I.A. Dig 301 (Dina Shihabi) – apesar de bacanas estão longe da complexidade e carisma dos vilões e coadjuvantes da primeira temporada. Principalmente a Danica Harlan é bastante lugar comum: uma vilã estereotipada, quase sem camadas ou maior complexidade, movida por um desejo irracional de poder.

Outro vilão, o Coronel Ivan Carrera (vivido por Torben Liebrecht) – na verdade uma capa nova para outro personagem do primeiro ano – segura bem as pontas como um soldado determinado e movido por uma obsessão, mas também não foge do estereótipo.

Foto: Divulgação

Simone Missick (a Misty Knight de Luke Cage e [argh!] Punho de Ferro) parece não encontrar o tom da sua personagem, inclusive fisicamente, pois, a sua Treep teria que passar a ideia de uma exímia caçadora de recompensas, capaz de fazer frente, na manipulação de armamento e combate corpo-a-corpo, a um emissário do nível de Kovacs, mas a atriz, sempre numa postura meio enrijecida, não transmite a capacidade da mercenária.

Chris Conner volta a roubar a cena com o seu Poe, agora enfrentando um tipo de doença terminal de I.A.’s, resultado dos eventos do primeiro ano, recusando-se a se reiniciar para resolver o problema e, com isso, perder toda a memória e afetos que conseguiu acumular anteriormente. Aliás, seu arco, apesar de repetitivo, é muito interessante, sendo um dos poucos que remete aos questionamentos filosóficos com relação à mortalidade, tão presentes na primeira temporada.

Outra que retorna com bastante espaço é a grande líder dos emissários, Quellcrist Falcone, novamente interpretada por Renée Elise Goldsberry. Sua aparição – objeto da busca obsessiva de Kovacs – a princípio é suficientemente misteriosa, interessante e sua química com Mackie é perfeitamente natural. Toda a trama da segunda temporada, aliás, está centrada na personagem.

Foto: Divulgação

O que nos leva à análise do programa como um todo.

Nesta segunda temporada, há uma clara perda de qualidade. A produção – que no primeiro ano enchia os olhos com efeitos visuais de primeiríssima qualidade, fotografia repleta de panorâmicas, ambientação e cenografia de tirar o fôlego – desta vez se mostra bem mais modesta e contida, circunscrevendo-se a ambientes delimitados, via de regra fechados e raramente impressionando (muito antes pelo contrário).

O clima sensual que caracterizou a primeira temporada também está quase que completamente ausente deste novo ano da série. As fartas doses de nudez (feminina e masculina) e sexo que caracterizaram o programa em 2018 – característicos do universo cyberpunk – praticamente deixaram de existir. A não ser por uma breve e casta cena amorosa entre Quell (Quellcrist) e Tak (Takeshi Kovacs), a pegada erótica do programa se perdeu completamente. Não se trata de uma apologia à nudez, mas de uma coerência com a proposta adulta da série (e dos livros). Westworld, por exemplo comparativo, diminuiu quase a zero a exposição de corpos nus e cenas de sexo em sua segunda temporada, mas tal fato representou não uma perda, mas uma evolução natural da trama, que ganhou outras camadas e avançou por outros rumos. Em Altered Carbon, a sensualidade e o erotismo compõem a própria estrutura daquele universo e sua perda é bastante sentida.

Por fim, o roteiro é bem mais pobre que o do ano anterior, recorrendo a vários clichês de filmes de ficção científica (como o alien invasor de corpos). Pode-se até tentar pôr a culpa disso na redução do número de episódios (de 10 para 8), mas não parece ser o caso. Essa diminuição trouxe maior objetividade e ritmo para a história, ao contrário do primeiro ano, cujo início excessivamente cadenciado chegou a incomodar. Mas o ponto fraco mesmo desta nova temporada é a falta de coerência com fatos já bem estabelecidos no primeiro ano. Por exemplo, como o antigo Kovacs, dotado apenas do treinamento militar, poderia ser superior ao novo Kovacs, já treinado como emissário e com corpo aprimorado? E como o Coronel Carrera poderia ser páreo – mesmo com força ampliada – para Quellcrist – o tempo todo lembrada como alguém com total domínio do corpo e mente – e os dois Kovacs ao mesmo tempo num combate corpo-a-corpo?

Foto: Divulgação

O último episódio da segunda temporada, porém, é bem superior aos anteriores, justamente por recuperar o elemento mais interessante e central de Altered Carbon, que é o seu questionamento existencialista com relação à questão da imortalidade e os custos que isso pode causar. A cena de luta final é impactante, quase redimindo os erros desse segundo ano, mas…

… no finalzinho, a demanda comercial falou mais alto e todo o impacto emocional criado é praticamente jogado por terra, lembrando Ascensão Skywalker e a falácia da morte de C3PO e Chewbacca, se é que me entendem.

Deste modo, o segundo ano de Altered Carbon – apesar de estar bombando em audiência – artisticamente falando, ficou bem aquém de sua primeira temporada, o que é uma pena, pois, trata-se de um produto de excelente qualidade e potencial do Netflix.

Espera-se que uma terceira temporada (não anunciada, mas prenunciada), caso venha à lume, recupere os principais e mais profundos elementos do primeiro ano da série, tanto externos (produção) quanto internos (roteiro).

Não ficou ruim, mas está longe de ser excelente.

Esperar o que vem pela frente, esperando que não demore muito, afinal, ao contrário daquele universo, na vida real não dispomos de vida infinita!

Foto: Divulgação

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Nota: 3 / 5 (bom)

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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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