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Críticas

ANIMAIS FANTÁSTICOS: OS SEGREDOS DE DUMBLEDORE – Feito na medida para arrancar seu dinheiro | Crítica do Neófito

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O universo criado por J. K. Rolling é, sem dúvida, uma das maiores criações da cultura popular do mundo contemporâneo.

Fenômeno literário multimilionário, os livros do bruxinho Harry Potter foram responsáveis pela introdução de milhares de milhares de crianças no reino da leitura e, só por isso, a autora inglesa já merecia aplausos calorosos dos pais do mundo inteiro.

Adaptados para o cinema a partir de 2001, com Harry Potter e a Pedra Filosofal, foram 10 anos de bilionário sucesso inquestionável, encerrados com chave de ouro no grandioso Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 2, de 2011, ou seja, já há mais 11 anos!

Em 2016, os roteiristas John Tiffany e Jack Thorne, com a “bênção” de Rolling, escreveram a peça teatral  spin off Harry Potter e a Criança Amaldiçoada, que mostra um Harry Potter maduro e estressado, pai de três filhos, trabalhando no Ministério da Magia, sem conseguir conciliar sua rotina de trabalho com a família e lidar com o legado de seu passado nada vulgar, no qual, “simplesmente”, havia matado “Aquele Que Não se Deve Nominar”, o “lorde das trevas”, Voldemort, potencial ditador do mundo mágico e destruidor do “mundo trouxa”. A história envolvia viagem no tempo, traumas, redenção e muitos easter eggs acerca da franquia. Convertido em livro “extra”, atualmente vigoram boatos de transformar a história em filme, mas nada muito concreto, principalmente após Daniel Radcliffe, intérprete do protagonista da franquia, ter, recentemente, dito que não retornaria ao personagem tão cedo.

Foi também em 2016 que a própria J. K. Rolling mostrou ter aceitado voltar a produzir material para o universo Harry Potter, desta vez diretamente para o cinema, e ainda que com histórias situadas meio século antes do bruxinho com cicatriz na testa nascer. Era a estreia de Animais Fantásticos e Onde Eles Habitam, o início de derivada nova franquia de produções cinematográficas daquele universo, planejada para cinco longas metragens, com enredos girando em torno do passado do Professor Alvo Dumbledore (que só aparece mesmo no segundo filme – Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindewald – de 2018); nas pesquisas e aventuras do personagem Newt Scamander (interpretado com gosto por Eddie Redmayne) – o famoso e muito tímido magizoologista, autor do livro Animas Fantásticos, que viria a ser estudado por Harry Potter e sua turma na franquia principal –; e nas vilanias do mago das trevas disposto a conquistar o “mundo trouxa”, Gellert Grindewald (vivido nos dois primeiros filmes por Collin Farrel e Johnny Deep e, mais recentemente, pelo dinamarquês Mads Mikkelsen).

Obviamente, tanto pela memória afetiva da franquia original, quanto pelos méritos próprios do fantástico e saboroso universo criado por Rolling, o primeiro Animais Fantásticos… foi sucesso de público e crítica, com média acima de 70% de aprovação; mas patinou feio no segundo longa, não passando dos 54% de aclamação pública e meros 36% de críticas positivas (fonte: Rotten Tomatoes).

Todavia, como contrato é contrato, e Hollywood nunca desiste, eis que, nesta quinta-feira, dia 7 de abril de 2022, estreia a terceira parte da nova franquia, Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore, que dá continuidade aos eventos trágicos do filme anterior.

Nesse sentido, após ter angariado apoiadores para sua causa populista e autoritária, Grindewald planeja adquirir poder político oficial suficiente para declarar guerra ao mundo sem magia (ou “mundo trouxa”). Para tanto, ele necessita de um espécime do animal Quilin, usado na antiguidade para indicar o líder do mundo mágico, haja vista sua capacidade de sentir o caráter interior das pessoas. Além disso, o sangue do simpático bichinho serve de oráculo para se ter vislumbres do futuro, o que faz com que os asseclas do vilão assassinem a mamãe quilin e quase matem Newt, que havia acabado de ajudar no parto da cria (ou seriam ‘crias’?).

Surge, então, Alvo Dumbledore (vivido com sensibilidade ímpar por Jude Law) a reunir inusitado grupo de resistência contra os planos de Grindewald: o já conhecido Newt; seu irmão Theseus (Callum Turner); seu amigo “trouxa”, Jacob Kowalski (Dan Fogler); sua assessora – “há oito anos”Bunty (Victoria Yeates); a poderosa Professora Eulalie “Lally” Hicks (Jessica Williams); e o soturno Yusuf Kama (William Nadylam). O interesse romântico de Newt, a ambiciosa Porpentina Goldstein (Katherine Waterston) só faz uma pontinha, sem qualquer relevância para a trama.

Foto: Divulgação (seria a primeira “Ordem da Fênix” ou a continuação de “Os Perdedores”?)

Dumbledore não pode desafiar ou enfrentar Grindewald pessoalmente, graças ao “pacto de sangue” selado entre os dois, conforme mostrado no filme anterior, o que o obriga a montar a disfuncional equipe acima mencionada para tal enfrentamento. E, o que ficava apenas nas entrelinhas na produção anterior, agora é explicitado: Dumbledore e Grindewald eram apaixonados um pelo outro.

Nesse sentido, o texto de Rolling – recentemente envolvida em polêmicas declarações homofóbicas e de gênero – surpreende pela “ousadia” em explicitar a homoafetividade de um dos mais importantes personagens do universo Harry Potter e da própria cultura pop.

Também é grata surpresa que o roteiro – aproveitando o período pré-Segunda Guerra Mundial no qual a história é situada – apresente subtexto que dialoga com os rumos políticos do mundo atual. Dá para perceber no Grindewald de Mikkelsen traços de vários desses líderes autoritários e iliberais que têm surgido no comando de algumas nações contemporâneas, principalmente, no âmbito da extrema direita, haja vista a xenofobia do personagem com relação aos “trouxas” e defesa da “pureza sanguíneo-racial” dos bruxos. Mas não apenas nisso: os planos do mago das trevas envolvem promessas populistas para a “nação mágica”, manipulação de mídia (fakenews) e até a clara falsa tentativa de assassinato que, além de conferir ares martirológicos à “vítima”, ainda justificaria a ação contrária e violenta daqueles que o ofendido representa (onde será que já vimos essa história antes, na vida real?…).

Evidentemente, a crítica não é profunda, mas é compreensível que assim seja, afinal, o universo de Harry Potter também se destina a um público de menor faixa etária, o que limita discussões mais complexas. Ainda assim, é muito bom ver que temas tão presentes são tratados com inteligência pela produção.

Destaca-se, positivamente, a direção segura de David Yates – diretor dos quatro últimos filmes da franquia original e de todos da atual – que demonstra completo domínio do universo com o qual trabalha, chegando até mesmo a ousar na violência: a cena da prisão é realmente tensa, mesmo com o alívio cômico nela inserido. Os efeitos especiais e visuais continuam show à parte, seja na reconstrução de época ou na concepção dos efeitos da magia. Figurinos impecáveis e trilha sonora adequada para a atmosfera do filme. O único senão técnico fica por conta da fotografia de George Richmond, muito escura em grande parte do tempo. Por fim, os atores se mostram entregues e à vontade nos seus papeis, com interpretações muito boas. A troca de Deep (após seus problemas de agressão contra a ex-esposa Amber Heard) por Mikkelsen não causa maiores estranhamentos, apesar da diferença física entre os atores. O personagem, na verdade, como dito parágrafos acima, já ganhou o corpo de Colin Farrel, Johnny Deep e, agora, de Mads Mikkelsen, tornando até interessante a experiência de que, em cada filme, um ator diferente dê vida ao vilão. Como toque pessoal, Mikkelsen confere maior cinismo a Grindewald.

Foto: Divulgação (é briga ou é Brahma?)

O grande problema desta nova franquia do universo Harry Potter é a previsibilidade, afinal, todos sabem que Dumbledore sobreviverá para contar a história e que Newt completará seu livro, de modo que, por mais tensão que se crie, sabe-se que os protagonistas não correm tanto risco assim. Porém, o que mais pode incomodar é a quase obrigatoriedade de inserção de novos animais fantásticos a cada filme, para justificar o título principal e a participação de Newt como o herói “de ação” da franquia. O personagem não tem nada de heroico e não convence como a única opção de Dumbledore para liderar a resistência contra Grindewald, fato que se aplica à manutenção do padeiro Kowalski no centro da ação e não apenas como o primeiro trouxa a possivelmente se casar com uma bruxa. Nos filmes anteriores, o roteiro até justificava sua participação, mas neste novo capítulo, soa forçada, apesar do talento cômico de Dan Fogler. Outro personagem subaproveitado é o Credence /  Aurelius Dumbledore de Ezra Miller, que brilhou no primeiro filme, foi mais ou menos no segundo, e neste quase não importa, apesar do plot twist com easter egg em torno de si.

Quanto à participação de Maria Fernanda Cândido, no papel da candidata a presidência do Ministério da Magia mundial contra Grindewald, sua personagem, Vicência Santos, é realmente importante para a história, porém, em termos de atuação efetiva, a belíssima atriz brasileira não fala mais do que meia dúzia de palavras durante todo o filme. Talvez ganhe mais espaço nos dois próximos longas da saga, mas não parece plausível esperar mais relevância do que na atual produção.

Foto: Divulgação (que magia Maria Fernanda Cândido faz para continuar tão bonita assim?)

Em resumo, Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore é  feito – como toda essa nova franquia – para faturar. Trata-se de produto extremamente bem feito, cuidadosamente planejado para agradar, ambientado num universo realmente fascinante, mas que não consegue (depois do primeiro filme) deixar de transparecer seu caráter caça-níquel.

Vale o ingresso no dia da promoção do cinema.

Foto: Divulgação (a “Liga da Justiça” mágica!)

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Nota: 3,5 / 5 (muito bom)

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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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