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Críticas

ELEMENTOS | Crítica do Neófito

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E não é que a Pixar conseguiu de novo?

Do mesmo modo que em, por exemplo, Toy Story, Monstros S.A., Procurando Nemo, Up: Altas Aventuras, Wall-E, Divertida Mente, Viva: A Vida é uma Festa etc., o estúdio de animação – desde 2006, uma subsidiária da Disney – conseguiu unir ótima animação, com personagens inusitados e tema original para atingir o objetivo de entreter o mais diverso e amplo público possível – por conseguinte, faturando alguns milhares de milhões de dólares – emocionar verdadeiramente, sem deixar de, subliminarmente, abordar temas relevantes e profundos, com sutileza e inteligência. Com um pouco menos brilho e genialidade, mas, ainda assim, extremamente competente.

Elementos – a nova animação do estúdio co-fundado por Steve Jobs, no distante ano de 1986 – consegue redimir o estúdio após a bela, mas inadequada, animação Soul, de 2020. Não que este filme (Soul) seja ruim – como o fraquíssimo Carros 2 (2011) – mas teve em seu desfavor o fato de que era pretencioso demais, adulto demais, além de excessivamente complexo para o público mais novo, ao contrário de Divertida Mente que, apesar de abordar a melancolia junto com teorias neurocientíficas e psiquiátricas de alto nível, conseguiu mascarar sua complexidade com o genuíno drama da jovem Riley, e os tocantes e carismáticos personagens que habitavam sua consciência.

Em Elementos, portanto, a Pixar mostra que, apesar de alguns deslizes pontuais em seu irrepreensível histórico de produções quase sempre primorosas, ela mantém seu alto padrão de qualidade. O sucesso do estúdio, aliás, pode estar atrelado ao fato de raramente lançar mais de uma produção por ano, o que garante tempo e dedicação na sua criação, desenvolvimento e acabamento, tanto no aspecto técnico – indiscutivelmente o melhor do mercado – quanto no quesito conteúdo (como os títulos mencionados acima deixam claro).

Temas como morte (Up, Viva), sentido da vida (Viva, Soul), amadurecimento (Toy Story 3, Divertida Mente), envelhecimento (Carros 2), luto (Up), dentre outros, são trabalhados nos “desenhos” da Pixar de forma brilhante e sensível. Em Elementos o tema é diversidade, desigualdade social, preconceito (ou racismo) estrutural e, novamente, sentido da vida, embalados num delicioso pacote de rom-com (comédia romântica). E, para isso, usa-se a metáfora dos 4 elementos (fogo, terra, água e ar), os quais são bastante explorados pela Astrologia e a Psicologia Analítica Junguiana, na definição de tipos psicológicos (fogo: intuição, impulso, agressividade etc.; terra: sensação, segurança, pragmatismo etc.; água: sentimento, emotividade, empatia etc.; ar: pensamento, racionalidade etc.).

Foto: Divulgação (passaportes na mão, tripulantes!!!)

A originalíssima premissa de Elementos mostra uma cidade (pertencente a um mundo) onde os quatro elementos são seres vivos e moram juntos, interagindo entre si. Dentre os fogo’s, destaca-se Faísca (voz original de Leah Lewis, dublagem de Luiza Porto), uma jovem impetuosa e bastante ligada à família, formada pelo patriarca Brasa (voz original de Ronnie Del Carmen, dublagem de André Mattos) e Fagulha (voz original de Shila Ommi, dublagem de Marisa Orth). Brasa e Fagulha saíram da Cidade do Fogo e foram, pioneiramente, tentar a sorte na Cidade Elemental, construindo uma bem-sucedida loja de artigos voltados para sua comunidade dos fogo’s, destinada a ser herdada por Faísca que, todavia, tem, literal e metaforicamente, cabeça quente, sem muita paciência com os clientes mais chatos, constantemente “explodindo” com eles.

Os fogo’s vivem isolados em um bairro de periferia, claramente carente de maior infraestrutura e cuidados por parte do poder público, que só aparece no local para exercer seu poder de polícia (vigilância, fiscalização e aplicação de multa). A metáfora com imigrantes é nítida, principalmente no contexto norte-americano, com relação a latinos e negros; mas, poderia ser facilmente utilizada para mostrar a segregação social de grupos minoritários em qualquer parte do mundo. Deste modo, há locais na cidade em que os fogo’s não podem entrar, por serem considerados perigosos. Por conseguinte, os fogo’s se mostram claramente ressentidos com o tratamento social que lhes é devido, desenvolvendo, por sua vez, também uma resistência a se misturarem com os outros elementos, principalmente com os água’s, por motivos óbvios.

Como era de se esperar, Faísca acaba inadvertidamente se deparando com Gota, um fiscal da Prefeitura pertencente aos água’s (voz original de Mamoudou Athie, dublagem de Dláigelles Silva) e, conforme a premissa oficial do estúdio, os dois irão descobrir que têm mais em comum do que poderiam imaginar, desenvolvendo uma atração teoricamente impossível de se concretizar, afinal, água apaga fogo e fogo evapora água.

E tome visuais e cenários lindos e de tirar o fôlego; personagens coadjuvantes cativantes, engraçados e cheios de personalidade; um delicioso clima de romance; dramas familiares; questionamentos pessoais sobre o que se deseja da vida; aventura, comédia e algumas doses certas de reflexão, bem ao gosto da melhor forma da Pixar.

O desenvolvimento das personalidades dos personagens é um deleite à parte: enquanto os fogo’s são nitidamente estopim curto, altamente intuitivos e impulsivos, os água’s são desavergonhadamente emotivos, artísticos, sensíveis e empáticos. A dupla Faísca e Gota partem da desconfiança para o respeito, depois para a admiração, até chegarem à paixão; e é simplesmente delicioso acompanhar a saga romântica dos dois (inclusive com citação de Orgulho e Preconceito, claro material de inspiração para a animação).

A versão apresentada à imprensa foi a dublada, de modo que não há como avaliar o nível da interpretação dos artistas que deram a voz original dos personagens, mas, neste quesito, os profissionais brasileiros escolhidos não ficam nada a dever no quesito envolvimento, inflexões e emotividade.

Em termos técnicos, a animação é complexa, principalmente na retratação do elemento água, sempre em movimento e mutação, além de sua translucidez e transparência. O elemento fogo é eficientemente retratado, apesar de sua textura mais chapada; suas bordas também ficam se movimentando, além de iluminar e aquecer os lugares por onde passa; mas, em termos de desenho, é menos impactante do que sua contraparte líquida. Importante destacar, ainda, a capacidade do estúdio em conseguir transmitir altos graus de emoção – notadamente nos personagens principais – apenas com foco nos olhos deles.

Com relação aos dois outros elementos, o ar possui algum grau de complexidade, enquanto o terra é, obviamente, o mais fácil e estável de ser caracterizado. E, já que se falou deles, caberia, aqui sim, uma crítica à animação, no sentido de não ter desenvolvido melhor as características dos terra’s e ar’s, os quais são relegados a realmente meros coadjuvantes para os elementos protagonistas.

Foto: Divulgação (Viva La Difference!)

O roteiro é enxuto e simples – o que também tem sido objeto de algumas críticas – mas bastante eficaz. Claramente, como se trata de uma animação no gênero comédia romântica, o final feliz é esperado, mas, ainda assim, quando acontece é divertido e emotivo. As resoluções da trama são plausíveis para aquele universo e a redenção dos personagens convincente.

De modo que não há muito o que se dizer de Elementos a não ser que se trata de uma animação deliciosa, muito bem feita e realizada, capaz de agradar a toda família e, apesar de não merecer figurar no panteão das obras verdadeiramente geniais da Pixar, pode-se, facilmente encará-lo como mais um dos acertos do estúdio, entretendo e tocando em temáticas socialmente espinhosas (mesmo que sem se aprofundar muito – característica do diretor Peter Sohn – naquilo que também tem sido objeto de certas críticas negativas à produção).

Recomenda-se fortemente, apesar destes poucos pontos fracos, que se vá ao cinema ver Elementos, prova do excepcional padrão de qualidade da Pixar que, aliás, pode ensinar à sua proprietária Disney, a máxima de que qualidade vale mais do que quantidade.

Até a próxima viagem, tripulantes!!

Foto: Divulgação (realmente, os opostos se atraem!)

 


Nota: 4 / 5 (ótimo)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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