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Críticas

TRANSFORMERS: O DESPERTAR DAS FERAS | Crítica do Neófito

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Permitam-me, nestes comentários críticos, utilizar um tom mais pessoal nas colocações, afinal, os Transformers integram a memória afetiva deste colunista, bem como, acredito, de quase todo nerd que já tenha passado dos 30 (ou 40, ou 50…).

Os famosos brinquedos de carrinhos que se transformavam em robôs humanoides surgiu em 1984, ideia da Hasbro, que também encomendou hq’s para a Marvel e desenhos animados para a japonesa Toei Animation, com o objetivo de criar engajamento em torno de sua linha de produtos.

Foto: internet (as hq’s clássicas, da década de 1980, dos Transformers)

A estratégia foi um enorme sucesso, talvez, muito maior do que a fabricante norte-americana de jogos e brinquedos pudesse imaginar e com mais alcance do que sua já tradicional e bem-sucedida linha de action-figure chamada G.I. Joe, criada na década de 1960 (que menino não sonhou em ganhar um Falcon, nos anos 80?).

Lembro como os desenhos animados eram impactantes, haja vista o nível de violência a que se permitiam, meio fora da curva para a lógica que sempre permeou as animações estadunidenses. Especula-se que essa maior liberalidade advinha do fato de a animação estar a cargo da nipônica Toei, apesar de os roteiros serem ianques.

Os brinquedos atravessaram gerações de garotos (haja vista a cultura machista de “meninos brincam de carrinho; meninas brincam de boneca”), que se divertiam com as imaginativas batalhas entre os Autobots (os “mocinhos”) e os Decepticons (os “vilões”). O enredo para as brincadeiras vinham das animações sequenciais (para a tv) e especiais (média e longa metragens), que estabeleceram que os robôs brigões procediam do planeta Cybertron, praticamente destruído pela guerra entre as duas facções de aliens tecnológicos.

Foto: acervo pessoal (uma pequena – e empoeirada – amostra da continuidade da paixão pelos action-figures dos Transformers passada de pai para filho – apesar do Megazord intruso lá atrás)

Os vinte anos de sucesso praticamente ininterrupto do universo Transformers, somado ao avanço da tecnologia cinematográfica levaram à consequência lógica da criação do longa metragem em live-action Transformers: O Filme, de 2007, o qual realmente impressionava pela qualidade dos efeitos de criação dos robôs gigantes e pela ação vertiginosa, a cargo do mais literalmente “explosivo” cineasta norte-americanos – mas muito questionado no tocante à substantividade de seus filmes – o californiano Michael Bay (Bad Boys, A Rocha, Amargedon, Pearl Harbor, A Ilha etc.).

O filme custou uma fortuna para a época: US$ 150 milhões; todavia, faturou quase cinco vezes mais, fechando o caixa em US$ 710 milhões. Mesmo com críticas bastante divididas, que aplaudiam os efeitos e a ação, mas execravam o “obrigatório” – e, convenhamos, praticamente desnecessário – núcleo humano, os lucros justificaram a criação da franquia cinematográfica que se seguiu: o fraquíssimo – mas surpreendentemente super bem-sucedido – Transformers: A Vingança dos Derrotados (2009); o visualmente estupendo e estupidamente roteirizado Transformers: O Lado Oculto da Lua (2011), que foi o primeiro filme da franquia a quebrar a barreira do bilhão de dólares na bilheteria; o relativamente divertido Transformers: A Era da Extinção (2014), seguindo a mesma cartilha de muitos efeitos e pouca história; e o absurdamente ruim e pessimamente roteirizado Transformers: O Último Cavaleiro, primeiro dos cinco filmes a dar “prejuízo”, faturando “apenas” 600 milhões, para seu orçamento de 200. Finalmente, a fórmula parecia desgastada.

Mas que nada!

Fonte: internet (entre alguns e altos e muitos baixos, eis a franquia Transformers)

Pegando o personagem mais carismático de todos os robôs humanoides, a Paramount e a Hasbro apostaram num inusitado derivado prequel da franquia original, lançando, em 2018, o realmente divertido e muito mais bem roteirizado e humanizado Bumblebee. O filme focado no divertido Autobot amarelo (que se transforma em Fusca ou Camaro) – dirigido por Travis Knight, do sensível Kubo e as Cordas Mágicas, de 2016 – trouxe um respiro para a franquia, além de uma primeira bem-sucedida parceria entre o núcleo humano e robótico. Não fez tanto sucesso comercial (custou cem e faturou quatrocentos milhões), mas foi muito bem recepcionado (90% e 74% de aprovação respectiva da crítica e público no Rotten Tomatoes). A história voltava no tempo, mostrando, pela primeira vez, lampejos da guerra travada em Cybertron e, na Terra, para a década de 1980, quase 30 anos antes dos eventos de Transformers: O Filme.

E, já que a ideia de voltar ao passado foi tão bem-sucedida, por que não continuar nesta toada e aproveitar o retorno no tempo para introduzir a mesma estratégia de criação de um universo compartilhado com personagens da Hasbro, nos mesmos moldes do MCU e DCU?

Pois, então, assim surge o atual Transformers: O Despertar das Feras, com direção de Steven Caple Jr. (Creed II), com a missão de conectar e expandir tudo o que já foi feito na franquia cinematográfica dos robôs gigantes.

O filme tem alguns méritos: o núcleo de protagonistas humanos – encabeçado pelo ator e cantor de origem latina Anthony Ramos, no papel do ex-soldado especializado em tecnologia Noah, e pela negra Dominique Fishback (Judas e o Messias Negro), no papel da museóloga Elena – é exemplo raro de representatividade hollywoodiana, retratando os heróis de carne e osso como oriundos de círculos sociais mais populares, dotados de talentos intelectuais acima da média, mas vítimas do cruel sistema capitalista-liberal e preconceituoso norte americano (ainda que de forma comedida). De modo que o “núcleo humano” ganha relevância no desenvolvimento de personagens, mesmo que apoiado em estereótipos clássicos e, por vezes, bidimensionais. Mas só de não ser homens brancos, héteros de classe-média já representa um ganho considerável.

Fonte: Divulgação (realmente: o que que estamos fazendo aqui?)

Os efeitos estão, como era de se esperar, melhores do que nunca, com profusão de cenas de batalhas bem coreografadas e das metamorfoses dos robôs de forma mais nítida e lógica, garantindo divertimento. Os cenários naturais também são bonitos de se ver, principalmente os passados no Peru, onde, também, confere-se certo cuidado com a cultura local, mostrando costumes e festas típicas.

Mas os pontos positivos param por aí!

Da fotografia mais escurecida do que o ideal, à direção das cenas de ação – competentes, mas pouco empolgantes – passando pelo roteiro ilógico e exagerado (para a concepção live-action que, inevitavelmente, traz maior dose de realismo para o filme), todo o resto patina feio, repetindo (ainda que com menor intensidade) os erros típicos dos exemplares anteriores da franquia e mostrando que o real objetivo dos realizadores é espremer até a última gota de sua galinha de ovos de ouro, oferecendo mais do mesmo, apenas com uma camada de maquiagem mais caprichada aqui e acolá.

Nada faz muito sentido, tanto internamente (ou seja, analisando-se o roteiro a partir do filme em si mesmo) quanto no contexto geral da franquia. O fiapo de história que leva a Noah (nome sugestivo, já que ele terá que interagir com os Maximals, “animais-robôs-gigantes”) e Elena a se envolverem com os Autobots e os novos vilões Terrocons é de uma obviedade atroz: em 1994, rapaz pobre e latino da periferia do Brooklyn, ex-soldado “abandonado” pelo exército, com família em dificuldades e irmão doente, vítima da desigualdade social e preconceito racial estadunidense, só vê saída para sua situação entrando para o crime, na área de roubo de carros e, logo no primeiro assalto, depara-se com o Autobot Mirage (voz de Pete Davidson), justamente no momento em que seu líder Optimus Prime (novamente na voz de Peter Cullen) o convocava para recuperarem um artefato escondido há milênios pelos Maximals na Terra –  descoberto e ativado, por acaso, por Elena – que detém o potencial de os levar de volta a Cybertron, bem como o de atrair para o planeta uma entidade tecnológica de dimensões planetárias que se “alimenta” de corpos celestes habitados (uma espécie de Galactus robótico).

Fonte: Divulgação (o vilão por detrás do vilão)

E tome porradaria de robôs no jardim do Museu de Nova Yorque (com a polícia chegando uma hora depois); viagem para o Peru e mais quebra-pau nas estradas, montanhas e florestas daquele país, sem qualquer intervenção da polícia ou exército; vários robôs que nunca apareceram nos filmes anteriores (lembrando que esta história é anterior aos eventos mostrados nos antecessores) e a não aparição de diversos outros que surgiriam depois (à exceção de Bumblebee, com referência ao seu filme solo). Poderes e habilidades dos robôs que oscilam ao sabor da situação; falta de lógica para as brigas e do plano para derrotar os inimigos; soluções fáceis para problemas que, há pouco, pareciam insolúveis; tiradas geniais dos humanos para resolverem questões alienígenas complexas; sistemas de controle extraterrestres feitos por robôs gigantes feito sob medida para olhos e mãos humanas; o surgimento de um Homem de Ferro genérico; o inevitável apelo emotivo do sacrifício pessoal; robôs falando inglês fluente entre si o tempo todo (eles não teriam uma língua própria?), além de trejeitos e gírias humanos; a falta de explicação para o fato de robôs tão poderosos optarem por tomarem formas de automóveis e não de máquinas mais sofisticadas na hora das batalhas e fugas etc. e tal.

Apesar disso tudo, o filme continua tendo certo apelo emocional e apresentando cenas de ação divertidas, mas nada inovadoras perto do que já havia sido apresentado anteriormente. O que reforça a pergunta se a franquia – cujo oitavo filme já está confirmado para estrear em julho de 2024 (se a greve dos roteiristas assim o permitir) – ainda tem fôlego suficiente para se manter de pé e se desdobrar em novos e continuados longas que, na verdade, não têm muito para onde evoluir, perdidos em seus maniqueísmos e estrutura ilógica tremendamente fechada (sem falar na subserviência ao que já foi construído).

Para piorar, como dito sutilmente mais acima, os realizadores (estúdio e fabricante) ainda pretendem criar o universo compartilhado com os personagens da Hasbro, dificultando mais ainda a integração e coerência dos futuros roteiros cinematográficos a serem produzidos.

Com menos explosões e tentativa de mais coração, Transformers: O Despertar das Feras é ‘divertidinho’, mas não vai mudar a vida de ninguém e nem o status do cinemão norte-americano.

O melhor era continuar imaginando nossas próprias aventuras com os brinquedos em mãos do que ver a tentativa de executivos gananciosos em criar entretenimento genérico e artificial com os personagens de nossa memória afetiva infantil.

Até a próxima viagem, tripulantes nerds!!!!

Fonte: Divulgação (Optimus Prime e Optimus Primal! Que criatividade para criar nomes, hein?)

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Nota: 2,5 / 5 (regular)

 


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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