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Críticas

INDIANA JONES E O CHAMADO DO DESTINO | Crítica do Neófito

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No primeiro parágrafo dos comentários críticos de A Baleia, foi colocado que se tratava de um “filme triste”, o que de fato é.

Indiana Jones e o Chamado do Destino não é um filme triste; aliás, muito antes pelo contrário! Mas é um filme que, ao final, desperta um sentimento de profunda tristeza nos fãs do famoso arqueólogo aventureiro. Principalmente se estes fãs já passaram dos cinquenta…

E isso porque o novo filme do icônico personagem interpretado pelo agora oitentão Harrison Ford mostra justamente a dura passagem do tempo e o sentimento de finitude que paira sobre todo ser humano. O herói cínico e viciado em adrenalina (algo que é comentado no filme pela personagem Helena Shaw, interpretada pela grandiosa Phoebe Waller-Bridge, da fantástica série Fleabag) envelheceu.

Foto: Divulgação (“o tempo passa, o tempo voa…”)

Após uma primeira e sensacional cena em que o milagre da computação gráfica traz de volta o versátil, novo, ousado e fisicamente hábil Indiana Jones dos tempos de Os Caçadores da Arca Perdida (1981) e Indiana Jones e a Última Cruzada (1989), o filme literalmente acorda em 1969, para mostrar o Professor Jones prestes a se aposentar da carreira docente-universitária na qual, antes, provocava suspiros nas alunas e, agora, apenas tédio. Explicita também, e sem concessões – numa cena sugerida pelo próprio astro, Harrison Ford – a diferença física entre o malhado arqueólogo de Indiana Jones e o Templo da Perdição (1984) e o velho quase deprimido que ele se tornou (com “placa num joelho”, “pinos na outra perna”, “coluna destroçada”, “ombro deslocado” e “nove ferimentos à bala”, como o próprio personagem lista em determinado momento), além de misturar uísque na sua matinal xícara de café.

Foto: Divulgação (Harrison Ford de volta aos 30: o milagre da tecnologia a serviço da magia do cinema!)

O grande Indiana Jones mostra ter desistido, apenas esperando a passagem do tempo fazer seu serviço de levá-lo para a terra do esquecimento. O filme até tenta dar uma justificativa plausível para a tamanha e evidente decadência – não apenas física, mas moral – do personagem, além de tentar fazer graça com este fato algumas vezes; mas o que fica mesmo é a amarga sensação de inexorabilidade temporal.

O final bonito, mas melancólico, também evoca tais sentimentos: chegou a hora de Indiana Jones dependurar seus chicote e chapéu! Sua aventura deixou de ser em templos pelo mundo afora para, agora, ser íntima (algo que a derradeira e simbólica cena pode querer indicar, ao contrário de significar que ainda haverá outras aventuras para o destemido arqueólogo com medo de cobra).

Nesse sentido, o diretor escolhido por Steven Spielberg para assumir a claquete de sua milionária e bem-sucedida franquia, James Mangold, é quase um especialista em mostrar figuras antes poderosas que agora sofrem com a decadência provocada pela passagem do tempo. Em Cop Land (1997), o humilde e humilhado xerife Freddy Heflin (personagem de Sylvester Stallone) tinha que superar sua baixa autoestima e deficiência auditiva para dar conta da corrupção estrutural que vigorava sob sua circunscrição; em Ford vs Ferrari (2019), é a vez do corredor Carrol Shelby (Matt Damon) ter que encontrar redenção, após os anos de corrida terem comprometido sua saúde; e, claro, em Logan (2017), o mutante invocado com garras de adamantium – agora doente e envelhecido – e o quase moribundo Professor Xavier (Patrick Stewart), tinham que lutar uma última luta para garantir o futuro de sua espécie. Todas produções dirigidas por Mangold.

Tarimbado, como visto acima, no tema de heróis limitados pelo envelhecimento e doença, o diretor consegue passar – e até bem demais – a fragilidade deste Indiana Jones aposentado e infeliz.

Foto: Divulgação internet (James Mangold: o verdadeiro “fazedor de velhos” de Hollywood)

Tudo sugere mudar um pouco com o surgimento de Helena, afilhada de Jones, que aparece do nada se dizendo também arqueóloga, em busca de antigo artefato que seu pai havia confiado aos cuidados do compadre arqueólogo: metade do relógio de Arquimedes, sobre o qual recai a suspeita de poder alterar o curso da história. Claro que ela não está sozinha à cata do artefato, que também é alvo da ambição de antigos nazistas ressentidos.

A partir daí, desdobram-se em tela as conhecidas viagens pelo velho mundo (Sicília, Tânger, Grécia etc.), marcadas pelos mapas pontilhados, sem deixar de lado as perseguições de carros, motos, barcos ou a pé, e lutas corporais, que tanto caracterizaram as aventuras do arqueólogo nada ortodoxo. A ação tenta ser mais realista, talvez para retratar com mais verossimilhança como um herói naquela idade ainda pode se envolver em tamanhas proezas físicas (algo que fica muito claro ao se comparar a primeira cena, passada no passado e as sequências de ação “contemporâneas”).

Aliás, falando dessa primeira cena novamente, cabe destacar o trabalho primoroso de Mangold em emular até as mesmas tomadas de câmera características de Spielberg nas outras aventuras do personagem principal. Quase que o filme todo vale por esta sequência de abertura.

No restante da produção tenta-se – com algum sucesso e algum fracasso – repetir o mesmo clima de aventura desenfreada dos filmes anteriores, mas fica difícil se entregar à fantasia quando o herói se mostra tão enfraquecido e, portanto, incompatível com as exigências de sua performance.

As interpretações estão ótimas: Ford, após tantos anos vestindo a jaqueta de couro do personagem, sabe, apesar das limitações físicas, interpretá-lo no tom certo, com os pés nas costas: os sorrisos irônicos, a incredulidade, o charmoso cinismo, o humor ácido e outras características de Indiana Jones estão todas presentes. Phoebe Waller-Bridge se sai muito bem na sua primeira personagem co-protagonista de ação física. O jovem Ethann Isidore (intérprete de Teddy, adolescente e “sócio” de Helena) entrega o que se espera. Mads Mikkelsen – espécie de “operário padrão” de Hollywood, topando vários papeis, principalmente de vilão – parece se divertir com seu nazista intelectual, Jürgen Voller ou Schmidt. Boyd Holbrook, queridinho de Mangold, repete, pela enésima vez, seu papel de capanga com poucas falas e crueldade de sobra. Antonio Banderas tem pouco tempo em tela para mostrar muita coisa, mas, no pouco espaço disponível, brilha. John Rhys-Davies volta a viver o simpaticíssimo Sallah (de Caçadores e A Última Cruzada) agora com a numerosa família vivendo em uma sufocante Nova Yorque, mas também por curtíssimos minutos.

Foto: Divulgação (Antonio Banderas sendo Antonio Banderas)

O roteiro tem falhas como, por exemplo, deixar de resolver, no final, algumas questões relevantes levantadas ao longo do segundo ato do filme (como a suspeita de assassinado que recai sobre Indiana Jones), além de ser muito simplista com relação às descobertas arqueológicas, sempre resolvidas com boa dose de coincidentes conveniências.

O terceiro ato apoteótico é muito bem filmado, com ares de épico. A fotografia de quase todo o filme é primorosa, a cargo do competente e premiado Phedon Papamichael que, todavia, erra numa tomada marítima ocorrida no segundo ato, que se mostra confusa e escura.

A maravilhosa trilha sonora de John Williams está novamente presente, marcando as cenas de ação com perfeita sintonia. Referências aos filmes anteriores pululam (e rastejam) na tela para alegria dos viciados em fanservices.

Ou seja, tudo o que fez de Indiana Jones uma referência da cultura pop contemporânea está lá, em tela. Sendo melhor que o filme anterior (Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, de 2008), todavia, o ar de despedida, de “última aventura”, marcada pelo esforço e melancolia do que já foi bom e não pode mais existir impregna todo o longa. Por mais que as cenas sejam bem filmadas e a ação, no geral, seja eletrizante, é difícil se empolgar a ponto de se segurar na cadeira. Tudo soa inverossímil demais e, justamente, por causa do herói, que se mostra apenas uma sombra do que já foi, inclusive dependendo dos outros para ser salvo de ameaças, de si mesmo e de seus fantasmas.

Talvez a tristeza ao final seja resultado da despedida do personagem; ou de uma era; ou da própria consciência deste colunista de que o tempo passou, inclemente e definitivo.

Até a próxima viagem, tripulantes!

Foto: Divulgação (crepúsculo dos deuses)


Nota: 3,5 / 5 (muito bom)

 

 

 


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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