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Críticas

HALO | Por mais que evoluamos, continuamos os mesmos! — Crítica do Neófito

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Os games de tiro em primeira pessoa, apesar de terem sido toscamente desenvolvidos na década de 1970 (vide Maze War), tornaram-se febre na década de 1990, por meio do pontapé inicial dado pelo retrô, mas ainda charmoso, Wolfenstein 3D, produzido em 1992, baseado no oitentista Castle Wolfenstein (1981).

Apesar da primeira versão de Duke Nunkem ter sido lançada em 1991, foi Wolfenstein 3D (de 1992) quem popularizou o formato, graças à facilidade de acesso e à sua jogabilidade nos então ascendentes PC’s da época.

O visual retrô e charmoso de Wolfstein 3D  —  Foto: Divulgação

O inicio das adaptações de jogos para o cinema

Em meio ao sucesso dos títulos, vieram Doom (1993), Quake (1996), Counter-Strike (1999), Halo (2001), Battlefield 1942 (2002) e, em 2004, o clássico Halo 2, responsável pelo conceito de multiplayer online, por ser o primeiro game a finalmente permitir a criação de times. Além disso, os jogos eletrônicos da 343 Industries (Halo) / Bungie (Halo 2), ambas subsidiárias da Xbox, tinham uma trilha sonora incrível, além de história bastante complexa para o gênero.

Em contrapartida, a indústria cinematográfica, cada vez mais pródiga em produções e, consequentemente, cada vez mais carente de ideias, tentou, por diversas vezes, tirar inspiração no universo dos games para seus roteiros, promovendo as adaptações de vários jogos, de vários formatos: o tenebroso Super Mario Brothers (1993); o terrível Street Figther (1994, que receberia um reboot tão ruim quanto em 2009, com A Lenda de Chun-Li); o esquecível e esquecido Double Dragon (1994); o mediano Mortal Kombat (1995); o horroroso Mortal Kombat 2: A Aniquilição (1997); a regularmente fraca franquia Resident Evil (2002, 2004, 2007, 2010, 2012, 2016); o desperdiçado Terror em Silent Hill (2006); o divertido Lara Croft: Tomb Raider (2001); o fraco Tom Raider: A Origem da Vida (2003); o péssimo Doom (2005); o cheio de potencial, mas mal adaptado Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos (2016); o que ninguém sabe que se deriva de jogo, Rampage (2018); entre outros.

Filmes baseados em games: alguns foram citados acima, outros não e ainda falta muita coisa! — Foto do site “Jogo Véio”

O que todos os filmes têm em comum é terem sido fracassos de crítica e/ou de público, normalmente criticados pela transposição porca, ou pela pouca reverência ao material de origem.

A coisa começou a mudar com Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo (2010), e sua produção caprichada, atores de primeira linha, efeitos especiais decentes e maior reverência ao game do qual se originava. Mas, mesmo com as evidentes qualidades, o filme também não foi suficiente para garantir melhor performance das adaptações de games; pelo menos, tem o mérito de incentivar à indústria audiovisual norte-americana a continuar investindo no nicho.

Somente a partir da proximidade de 2020 para cá é que Hollywood – na esteira do sucesso do UCM, por exemplo – parece ter começado a entender a lógica capaz de tornar as adaptações de games para o live-action em sucesso de público e crítica.

O subestimado Tomb Raider: A Origem (2018) é exemplo de uma ótima adaptação: fiel ao material original, bem produzida, roteiro bacana, direção segura e contando com atores diferenciados; mas alguma coisa não funcionou muito bem, fazendo com que fosse outra produção baseada em games a fracassar.

O primeiro sucesso verdadeiro de uma adaptação de game pode ser atribuída a The Witcher (2019, Netflix), que se deriva dos games/livros homônimos, talvez por vir na esteira de Game Of Thrones, nas suas malfadadas temporadas finais, mas, principalmente, pela adesão do astro-galã Henry Cavill ao projeto, fã confesso dos jogos eletrônicos baseados na série de livros do polonês Andrzej Sapkowski.

Mas foi Sonic: O Filme (2020) – que inclusive escutou as reclamações dos fãs do game antes da finalização do filme, mudando todo o visual do protagonista –que finalmente provou para Hollywood que há como fazer sucesso com adaptações de games para o live-action.

Uncharted: Fora do Mapa (2022), estrelado por Tom Holland e Mark Wahlberg reforçou a impressão deixada por Sonic, traduzindo-se em ótimo filme de ação baseado em jogo eletrônico.

Mas, a obra-prima das adaptações de games é, sem qualquer sombra de dúvida, Arcane (2021), série animada caprichadíssima que transpõe o universo de League of Legends para o audiovisual. Deslumbrante visualmente e verdadeiramente dramática em sua narrativa e roteiro (super fiel ao material de origem, mas sabendo expandi-lo), é um desbunde e deliciosa de se assistir.

Por fim, chegamos ao objeto de nossa presente análise, a série em live-action Halo (2022), produzida pela Paramount+, em caprichados 9 episódios, estrelada por Pablo Schreiber (vivendo o Spartan Master-Chief John-117), a quase desconhecida Charlie Murphy (no papel de Makee), Natascha McElhone (Dra. Catherine Halsey) e Yerin Ha (interpretando Kwan Ha).

O elenco de Halo reunido e celebrando — Foto: Divulgação

E aí, dá pra encarar a adaptação de Halo?

Como não sou especialista no jogo, não posso estabelecer comparações detalhadas acerca da fidelidade da transposição e de detalhes da trama. Tudo que posso oferecer é a análise dos elementos cinematográficos da série, que fez barulho, atraiu boa atenção e recebeu críticas favoráveis na maioria dos casos.

Dessa forma, é preciso reconhecer o alto investimento (mais de 40 milhões de dólares!) e esforço da Paramount+ em apresentar um ambicioso produto próprio nas suas primeiras incursões no cada vez mais disputado mercado de streaming. Halo se trata de ficção científica de peso, lembrando a complexidade dos universos de Star Wars e Star Trek, mas com identidade própria, sendo mais violenta e crua que as mencionadas sagas clássicas.

Aliás, uma das características dos games é a intrincada trama político-religiosa que justifica toda a ação frenética daquele universo caótico e em constante guerra intergaláctica, trazida à adaptação de modo competente pelo roteiro cadenciado (às vezes lento) da série em carne e osso. Por mais que a história se passe para além do ano 2500, é interessante notar como os humanos, por mais evoluídos que sejam capazes de realizar viagens pelo hiperespaço, acessar tecnologia de colonização de planetas hostis, aprimoramento físico e clonagem ainda se mostram mesquinhos, invejosos, gananciosos e egoístas. Incrível, portanto, terem chegado a tanto tempo de existência!

A constatação dessa natureza autodestrutiva do ser humano é o que supostamente move as ações bastante questionáveis da Dra. Halsey, responsável tanto pela criação dos Spartans – super soldados capazes de enfrentar os perigosos e gigantes aliens formadores da Covenant, desenvolvidos a partir do rapto de crianças consideradas aptas quanto pela desumanização destes mesmos soldados aprimorados fisicamente; pelo desenvolvimento da IA Cortana, capaz de substituir a mente do homem; pela clonagem humana para fins utilitários; e por toda e qualquer manipulação que lhe confira poder e recursos para tirar o elemento emocional da humanidade que, segundo ela, será o responsável por sua auto aniquilação.

Foto: Divulgação (ah, que fofinho!!)

Os comandantes militares da UNSC (United Nations Space Command / Comando Espacial das Nações Unidas) – Capitão Jacob Keyes (Danny Sapani) e Almirante Margaret (Shabana Azmi) – adotam o lema de que “os fins justificam os meios”, para autorizar rapto de crianças e várias outras medidas nada democráticas.

Eis, então, numa batalha ocorrida entre os Covenant e Spartans no planeta Madrigal – que lutava, entre o conflito intergaláctico, pela sua própria independência da UNSC – que surge Kwan Ha, filha do líder da resistência, que involutariamente irá acompanhar o Master Chief John-117 em parte da sua saga para descobrir o significado do artefato que o fez desbloquear suas apagadas memórias da infância, podendo, ainda, ser a chave para uma poderosíssima arma galáctica, com capacidade tanto para vencer a guerra para humanidade, quanto para a aniquilar.

Literalmente uma garota rebelde! — Foto: Divulgação 

Duas tramas paralelas se desenvolvem a partir daí: uma envolvendo o Master Chief, sua ligação com o artefato misterioso, as articulações políticas e científicas da UNSC e da Dra. Halsey, tudo no entorno da guerra com os Covenant (que introduz a complexa personagem de Makee, humana raptada quando criança pela raça dos Prophets e aliciada para trabalhar com eles, graças à sua também ligação com o tal artefato); outra, contando a saga de Kwan Ha para assumir a liderança da resistência de Madrigal contra a UNCS.

O primeiro arco é, sem dúvida, o melhor e mais sedutor. O segundo de Kwan Ha acaba soando deslocado, quase um desvio do que realmente interessa. Talvez os amantes dos jogos saibam da importância da personagem, mas, na série, isso não fica claro.

Os primeiros episódios denotam esmero nas cenas de batalha e nos efeitos especiais, os quais, no entanto, vão claramente decaindo de qualidade no decorrer dos episódios, até o quase vexatório último capítulo do primeiro ano, cujo CGI é bastante tosco, apesar da experiência de imersão em primeira pessoa, característica do jogo eletrônico respectivo.

As interpretações do elenco formado por figuras meio desconhecidas do grande público estão, no geral, bastante acertadas e cuidadosas, apesar dos estereótipos da adolescente inconformada e rebelde (Kwan Ha); do soldado frio como gelo (Master Chief, Spartan Kai, Spartan Riz, Spartan Vannak); da cientista “maluca” (Dra. Halsey, na excelente caracterização de McElhone). Charlie Murphy e sua Makee é, de longe, a personagem mais complexa, dividida entre sua humanidade e o ódio por aqueles mesmo humanos que a maltrataram quando criança, até sua captura pelos aparente inimigos da humanidade e que são, por contrapartida, um bando de fanáticos fundamentalistas religiosos capazes de exterminar milhões (pretendendo a bilhões!) para realizar sua visão dogmática (seria uma metáfora preconceituosa para os mulçumanos radicais que se deixam levar pela visão terrorista?).

A bela no meio das feras! — Foto: Divulgação

Schreiber também não está mal como o temível Master Chief (o “demônio” dos Covenant), mas pode fazer pouco diante do seu personagem, o característico homem transformado na perfeita máquina de matar em combate, portanto, de poucas e secas palavras, tom de voz baixo, expressões sempre contidas e quase inexpressivas.

A expansão do universo central da trama tem acertos (como a ligação afetiva entre Master Chief e Makee e a explicação para existência de Cortana) e desacertos (como o já mencionado arco de Kwan Ha).

Mas a principal crítica pode se resumir ao fato de que, para uma adaptação de game de guerra e batalha, a série Halo pode, principalmente em sua metade, soar um pouco arrastada e com pouca porradaria, que começa a ocorrer com mais frequência apenas nos três últimos episódios. Todavia, apesar do já mencionado pobre CGI do último episódio, na grande batalha entre Spartans e Covenant, a conclusão do primeiro ano é boa, deixando ganchos e altas expectativas para sua continuação!

A produção alega ter tido problemas com o advento da pandemia de Coronavírus, prometendo uma segunda temporada – ainda não confirmada pela Paramount+ – mais sombria, mais realista e autêntica” (cortesia do site Omelete), o que será bem-vindo.

Após as decepcionantes franquias complementares do universo de Star Wars (inclusive o fraco Obi-Wan Kenobi, atualmente em exibição na Disney), Halo acaba se apresentando como ótima alternativa para quem gosta desta ambientação futurística e de guerra interplanetária, apesar de seus defeitos inerentes.

Espera-se que a Paramount+ não demore a anunciar o segundo ano do programa, afinal, todos queremos ver o grande “halo”, vislumbrado nesta primeira temporada.

Isso sim é o que se pode chamar de verdadeira viagem nerd!

O herói de poucas palavras! e às vezes de pouca ação.. — Foto: Divulgação


Nota: 3,5 / 5 (muito bom)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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