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Críticas

ARREMESSANDO ALTO – Adam Sandler reinventando Adam Sandler | Crítica do Neófito

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Há apenas um único artista hollywoodiano cuja interpretação o fez ganhador da premiação de ator e atriz simultaneamente, no mesmo ano e pelo mesmo filme!

Esse prodígio é Adam Sandler, ganhador do Framboesa de Ouro do ano de 2011, de pior ator e atriz pelos papeis dos gêmeos Jack e Jill na “pérola” Cada Um Tem a Gêmea Que Merece, uma das mais toscas e deprimentes comédias que este colunista já teve o desprazer de assistir.

Além dessa premiação dupla, o ator/comeditante novaiorquino de 55 anos e origem judaica já concorreu outras 20 vezes no referido prêmio, prova inconteste das muitas intepretações “memoráveis” em filmes idem, com as quais ele já presenteou o público. Se nossos leitores forem masoquistas o suficiente, recomendamos a preciosidade Zohan: Um Agente Bom de Corte, de 2008. Se alguém conseguir chegar até o final do longa, você é quem merece um prêmio de verdade: como faquir!!!

Todavia, apesar do gosto questionável de grande parte dos roteiros que encabeça – seja como comediante, como ator, como produtor, como roteirista, e até como dublador (ele faz a voz de Drácula na franquia Hotel Transilvânia) – não se pode questionar o enorme felling de Sandler para o sucesso, sabendo fazer filmes que agradam o grande público, talvez, justamente, por apresentarem histórias absurdas, com personagens completamente sem noção, sem vergonha de declamar ou vivenciar piadas de gosto duvidoso e/ou escatológicas.

Ciente de que sua fama de fanfarrão – ou de ator de segunda classe – de vez em quando Sandler busca diversificar sua carreira, assumindo papéis mais densos e dramáticos. De memória, sua primeira tentativa de fugir do estereótipo do palhação sem noção foi em sua competente atuação surpresa na deliciosa comédia-dramática Espanglês (2004), no papel do premiado chefe de cozinha John Clasky. Mas seu verdadeiro teste se daria em Reine Sobre Mim (2007), no qual divide a tela com Don Cheadle, vivendo o traumatizado Charlie Finema, homem que não consegue superar a perda da família quando do ataque de 11 de setembro de 2001 às Torres Gêmeas. Trata-se de um bom filme, com queda para o melodrama, mas, apesar da maquiagem e figurino que o fizeram parecido com um misto de mendigo com maluco, é muito difícil não esperar que, a cada tomada em que aparece, Sandler não acabe soltando uma piada aos moldes da Pegadinha do Malandro.

Foto: Divulgação (um apanhado do péssimo, do médio e do bom do velho Sandler)

Muitas outras comédias deploráveis ou assistíveis depois, Sandler finalmente nos premiou com uma interpretação e tirar o fôlego no filme Joias Brutas (2020, Netflix), dirigido pelos irmãos Josh e Ben Safdie, no qual dá vida ao malandro e inescrupuloso Howard Ratner, dono de uma joalheria, envolto em muitas dívidas e falcatruas. Trata-se de excelente suspense-policial dramático, conduzido de forma frenética e seca pelos irmãos Safdie e carregado nas costas por um quase irreconhecível Adam Sandler, de tão boa que é sua caracterização e atuação.

Foto: Divulgação (o melhor de Sandler)

Após a pandemia – mais uma vez pela Netflix, no filme Arremessando Alto (Hustler), que estreou no início do mês na mencionada plataforma de streaming – Sandler volta a mostrar seu talento interpretativo, desta vez na pele de Stanley Beren, fictício ex-jogador de basquete profissional e atual (cansado) olheiro do Philadelphia 76ers, obrigado a viajar boa parte do ano pelo mundo afora na garimpagem de novas estrelas para a NBA, o que o afasta da amada família, formada pela filha Alex (Jordan Hull) e pela esposa Teresa (Quenn Latifah).

Sandler consegue transmitir todo o peso de um profissional talentoso, apaixonado pelo esporte no qual atuou até um acidente e no qual ainda trabalha, mas que teve que passar anos fazendo e desfazendo malas em hotéis e aeroportos incontáveis. Com a postura física arqueada e olhos caídos, denota a culpa pela ausência da família e a frustração de não ter seu talento como especialista em basquete devidamente reconhecido.

Quando as coisas pareciam que iam mudar, o destino apresenta uma inesperada reviravolta para que tudo permaneça como sempre. Isso traz enorme desesperança para o resignado Stanley e sua família, até que, em novo giro de 180 graus, ele conhece, quase que por acaso, o jogador espanhol (também fictício) Bo Cruz (vivido com comovente esforço pelo real jogador profissional Juancho Hernangómez), verdadeiro prodígio do basquetebol.

Foto: Divulgação (Sandler e um “grande” ator)

Começa, a partir daí, a saga ao estilo Rocky Balboa – só que, ao invés de luvas, com bolas nas mãos – para lapidar aquela joia bruta em reluzente diamante, contra tudo e contra todos.

E tome cenas de treinamentos quase humanamente impossíveis, de superação pessoal, de reveses e pequenas conquistas, tudo como manda o figurino de filmes do gênero e com ótimas tomadas de jogadas, enterradas e cestas belíssimas. Uma verdadeira declaração de amor ao basquete, é preciso reconhecer (não à toa, um dos principais produtores é o astro LeBron James, que recentemente viveu a si mesmo no fraquinho Space Jam: Um Novo Legado, e aparentemente foi mordido pelo bichinho de Hollywood).

Boa fotografia, cenografia e figurino, além da direção segura e competente de Jeremiah Zagar, que foi capaz de não mascarar as cenas que envolvem partidas de basquete, contando, para tanto, com ótimas coreografias levadas a efeito por vários jogadores profissionais em papeis fictícios ou vivendo a si mesmos, o que acaba se tornando outra atração para o filme.

Todavia, os méritos param por aqui.

O filme consegue prender com a arquetípica história de Pigmaleão, do Davi contra Golias, mas é muito direcionada aos amantes do esporte em questão e bastante esquemática. A interpretação magnética de Sandler garante os melhores momentos do filme, porém, obscurecendo, no processo, seus colegas de cena, como Queen Latifah, que parece não ter encontrado o tom certo de sua personagem, ora apaixonada e apoiadora do marido, ora decepcionada e crítica pelas decisões deste. O “vilão” Vince Merrick (vivido por Ben Foster) é muito clichê, bem como Kermit Wilts, o fictício antagonista do protagonista, também interpretado por um jogador profissional, Anthony Edwards, armador do  Minnesota Timberwolves.

Juancho Hernangómez, o “Daniel San” (ou Creed) da referida produção, consegue até soltar algumas lágrimas em certo momento do filme, mas sua limitação interpretativa é patente, o que fez com que os roteiristas – sabiamente – cortassem suas falas ao mínimo possível, criando, para o personagem, uma personalidade tímida e arredia, marcado por muitas dificuldades financeiras e pelo sonho impossível de se tornar jogador profissional.

Com isso, seguindo a cartilha padrão do processo de superação do personagem, temos o típico início complicado; o acerto do caminho; as dificuldades que se multiplicam; a crise final, capaz de por tudo a perder; e o indispensável plot twist que muda todo cenário quando prestes a degringolar. Isso não é spoiler, quando se entende o gênero de filme ao qual se está assistindo.

Resumindo-se, como já dito, a uma declaração de amor ao basquetebol, Arremessando Alto é boa diversão, que vale à pena pela atuação realmente tocante de Sandler e boas cenas de disputa esportiva. E só!

Certamente não será também desta vez que o ator de Esposa de Mentirinha levará a estatueta dourada para casa, mas sua atuação até vale a indicação, pois, desta vez, em momento algum vê-se o comediante na tela, mas um verdadeiro e dedicado ator.

Sem dúvidas, uma bela cesta de três pontos para Adam Sandler!!!

Foto: Divulgação (cadê minha indicação ao Oscar?)

 


Nota: 3 / 5 (bom)

 

 

 

 

 


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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