Críticas
BARBIE | Crítica do Neófito
Quem poderia imaginar que a bilheteria mundial de cinema de 2023 ficaria dividida entre uma superprodução séria e brilhante como Oppenheimer, acerca de um grande e dúbio cientista real, e outro filme colorido predominantemente de rosa, caricato e baseado numa famosa boneca?
Bom, na verdade não se trata de “uma” boneca, mas de “a” boneca que, no pós-guerra, revolucionou o mercado de brinquedos infantis (na época, voltada para as meninas), determinando, inclusive, padrões de beleza e reafirmando estigmas sociais. Ou seja, trata-se de um filme sobre a boneca Barbie.
Incrível como o filme repercutiu, desde seu anúncio, primeiras imagens, teasers e trailer! Tamanha expectativa desaguou não apenas na maior bilheteria dos sete primeiros meses de 2023 (com números dificilmente superáveis), como bateu recordes de melhor estreia do ano, de maior estreia de um filme dirigido por mulher, e da segunda estreia mais lucrativa da história, ficando atrás apenas de Vingadores: Ultimato.
Basta uma passeada pelos shoppings para ver a infinidade de pessoas vestidas de rosa – meninas, adolescentes, mulheres, homens, trans etc. – indo assistir ou voltando de uma sessão de Barbie. Salas de cinema lotadas, hype estrondoso, marketing super bem-sucedido, boca-a-boca generoso e ótimas críticas são apenas o resultado lógico de um filme muito bem feito e que entrega exatamente aquilo que se esperava dele.
O acerto também veio na escalação da protagonista da “Barbie estereotipada” (loira, magra, feliz, super-penteada, sempre bem-vestida etc. e tal): a deslumbrante e talentosíssima Margot Robbie, simplesmente perfeita para o papel! Coadjuvada por um elenco de apoio excepcional, não havia como dar errado. Ryan Gosling está ótimo como Ken; bem como Simu Liu (outro Ken); Emma Mackey (Barbie morena), Michael Cera (como Alan, o “amigo do Ken”), Will Ferrell (como o CEO da Mattel), Kingsley Ben-Adir (Ken Negro), Rhea Perlman (no papel da inventora da Barbie, Ruth Handler) e America Ferrera (como Gloria, a mulher que, quando criança, brincava com a Barbie e, depois, com sua filha).
Foto: Divulgação (pois é, meus caros Ken’s! difícil achar uma Barbie que admita ser chamada de sua, não é?)
Junte-se a isso o cenário deslumbrante (como dito, com predominância absoluta dos tons de rosa), a cenografia impecável, o figurino delicioso, a edição precisa, a trilha sonora superapropriada e uma direção segura e inspirada.
Mas nada disso serviria se não fosse o roteiro afiadíssimo da própria diretora Greta Gerwig (Lady Bird, Adoráveis Mulheres), dividido com seu parceiro habitual Noah Baumbach, responsável, por exemplo, pelos roteiros de A Lula e a Baleia (2005), Francis Ha (2012), e História de um Casamento (2019).
E o que este roteiro tem de tão especial para ter se dado tão bem, agradando a uma diversidade incrível de público, críticos e acirrado a ira de conservadores e reacionários dos mais diversos matizes?
Evidentemente, o sucesso não tem uma fórmula precisa (se tivesse, seria garantia para quem a seguisse), dependendo, em grande medida, do imponderável. Porém, há elementos que podem indicar alguma direção de análise.
No caso de Barbie, o roteiro acerta a premissa (tratar a boneca como um arquétipo, vivendo num mundo próprio, a Barbielândia, retroinfluenciada e alimentada pelo mundo real); acerta ao escolher o humor como gênero predominante; acerta no tom do discurso crítico; não tem medo de tocar em temas espinhosos, como patriarcado, feminismo, sexismo, mas sempre com elegância suficiente para ser entendido e apreciado tanto pelo público infantil, quanto infantojuvenil e adulto, de todos os gêneros. Pode-se até alegar que, em alguns momentos, o filme penda um pouco para o melodrama ou para a discursividade excessiva, mas o conjunto fica tão bem estruturado que tais pequenas falhas são absorvidas pelo todo, apresentando um produto final extremamente satisfatório, como experiência cinematográfica e entretenimento. Sabendo ser crítico e, ao mesmo tempo, leve, o roteiro original merece concorrer nas melhores premiações de cinema do ano!
Foto: Divulgação (a terra dos sonhos de muitas crianças)
Ficar tecendo elogios ao filme, porém, é chover no molhado, haja vista a grande gama de críticas positivas que trataram, em minúcias, de cada detalhe da produção (89% no Rotten Tomatoes).
Barbie é, portanto, realmente, um dos maiores acertos de 2023, ano que ficará conhecido pela quantidade enorme de flopadas de Hollywood.
Filme para ser visto no cinema, vestido de rosa e comendo pipoca doce.
Filme para ver ótimas performances artísticas, com atores à vontade e (aparentemente) felizes de estarem ali, vestidos de seus personagens.
Filme para ser curtido, para se divertir e se desligar, por quase duas horas, da realidade opressiva.
Filme que, com muita ironia e inteligência, faz pensar sobre o machismo estrutural, sobre padrões femininos de beleza inatingíveis, sobre capitalismo e, tudo isso, embalado por risos e alto-astral.
Não é perfeito, mas chega bem próximo da excelência.
E, quem nunca pegou e alisou os cabelos de uma boneca Barbie, que atire a primeira pedra!
Foto: Divulgação (aquela piscadela que indica que as coisas estão muito bem!)
Nota: 4 / 5 (ótimo)
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