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Críticas

INVASÃO SECRETA | Crítica do Neófito

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Ainda me recordo do fim da sessão de Vingadores Ultimato e aquela sensação de catarse e alegria por ter assistido à concretização em live action dos adorados sonhos quadrinísticos juvenis, bem como a tristeza por aquilo representar o adeus não apenas aos personagens de carne em osso que aprendemos a amar – como a Viúva Negra de Scarlett Johansson, o Capitão América de Chris Evans; e, claro, o Homem de Ferro definitivo de Robert Downey Jr. – mas, acima de tudo, por sabermos que uma era do cinema havia terminado.

Mesmo os decenautas mais radicais precisam reconhecer que o MCU revolucionou a sétima arte com sua primeira série espetacular de (irregulares) vinte e dois filmes de super-heróis, os quais, tanto funcionavam sozinhos, quanto integravam um plano maior: a Saga do Infinito (ou das “Joias do Infinito”), que, por sua vez, serviu para a construção de um universo compartilhado, nunca antes visto. Com a enorme evolução dos efeitos especiais, foi possível acreditar que armaduras voadoras, super-soldados, encolhimentos e deuses nórdicos realmente poderiam existir no mundo real. Alguns roteiros foram realmente bons (outros regulares e fracos), mas todos coesos, com desenvolvimento de personagens e boas interpretações (com destaque, mais uma vez, para Robert “I’m Iron Man” Downey Jr.). Sendo assim, no acender das luzes de End Game (Vingadores Ultimato), sabíamos que aquele sonho havia acabado, surgindo a pergunta: E agora? O que pode ser feito a partir daqui?

A resposta veio, primeiramente, com Homem-Aranha: Longe de Casa (2019), ainda na esteira do luto pela fim da saga; seguiu-se Viúva Negra (2021), péssimo tributo póstumo à querida personagem; Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis (2021), abrindo campo para uma nova leva de heróis; Eternos (2021), bastante experimental; e Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (2021), marcado pela introdução pra valer do multiverso ao MCU, graças à participação dos Homens-Aranhas de Tobey Maguire e Andrew Garfield, com seus respectivos vilões… desse ponto em diante, porém, foi só ladeira abaixo, tanto na tela grande (com Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, Thor: Amor e Trovão e Homem-Formiga e Vespa: Quantumania, todos de 2022 e abaixo da crítica, à exceção do mediano Pantera Negra: Wakanda para Sempre), quanto na telinha, cujas séries, em série, mostraram-se extremamente irregulares e despropositadas, começando pela promissora WandaVision (2021); seguindo pela correta Falcão e o Soldado Invernal (2021); as boas Loki e What If…? (2021); a fraca Gavião Arqueiro (2021); a confusa Cavaleiro da Lua (2022); a quase terrível Mis Marvel (2022); e a polêmica Mulher-Hulk: Defensora de Heróis (2022), à qual considero cheia de boas intenções e péssima realização, mas, ao mesmo tempo, a única que se manteve coerente do início ao fim.

Note-se que, só em 2021, foram lançadas 8 produções audiovisuais do MCU, representando, no período de um ano, um terço de tudo o que havia sido lançado na Saga do Infinito ao longo de 11 anos! Somando-se as outras 7 produções de 2022, têm-se 15 lançamentos em dois anos ou, em outra conta, dois terços de tudo o que foi ofertado entre Homem de Ferro (2008) e Vingadores Ultimato (2019).

Se colocarmos neste cesto o sucesso e padrão de qualidade destas chamadas três primeiras fases do MCU, é claro que a pressa em continuar lançando mais e mais coisas estaria fadando aquele universo tão maravilhoso ao fracasso: não seria, portanto, o ecoterrorismo galático de Thanos, o grande vilão que conseguiria acabar com o MCU, mas a ganância de seus próprios executivos!

A dança dos Bob’s – saída de Bob Chapek e retorno da aposentadoria de Bob Iger para o comando da Disney (e, portanto, do MCU) – após o sinal vermelho das baixas audiências, críticas negativas e desânimo generalizado dos fãs, criou expectativas de que seria colocado um pé no freio no lançamento de tantas produções, privilegiando mais a qualidade do que a quantidade. E o grande trunfo desta nova fase seria a minissérie Invasão Secreta, a ser estrelada pelo mega-espião Nick Fury (iconicamente interpretado por Samuel L. Jackson), na linha dos filmes de espionagem, mais pé no chão, sombria e violenta.

Foto: Divulgação (cuidado com sua sombra, Nick!)

A estreia, em 21 de junho de 2023, parecia confirmar que, finalmente, a Marvel estava voltando à boa forma, lançando as sementes de uma saga tão potencialmente rica quanto a Saga do Infinito. O primeiro e segundo dos 5 episódios foram, realmente, muito bons, com roteiro intricado, metáforas e subtextos, revelações, alguns eventos chocantes, mistério e a sensação de algo grandioso demais até para o ex-diretor da Shield e criador da Iniciativa Vingadores. Mas a boa impressão estancou com a disponibilização do terceiro episódio, que começou a mostrar algumas fragilidades da trama e do roteiro, degringolando de vez no quarto e quinto episódios.

Ao final, Invasão Secreta se mostrou como apenas mais do mesmo desta(s) fase(s) pós-Ultimato, com bom início e desfecho decepcionante, pretensões não realizadas e a impressão de estar amassando barro, saindo do nada e chegando a lugar algum. A dicotomia entre a elaborada trama e diálogos da primeira metade da minissérie com a (obrigatória) ação de uma produção focada em super-seres pareceu indicar duas equipes de roteiristas trabalhando em salas separadas, tamanha a discrepância entre o que indicava se propor e o que se apresentou!

O tamanho da ameaça inicial (milhões de alienígenas transmorfos misturados à raça humana, com vários infiltrados em postos de comando e influência na execução de planos de domínio global) vai se diluindo e se resolvendo de forma fácil e previsível (para não dizer tola), com cenas que não fazem sentido, como o atentado ao Presidente dos EUA em solo britânico por supostos russos (na verdade, Skrulls), visualmente interessante, mas absolutamente sem lógica. Afinal, como seria possível um ataque por helicópteros, em plena luz do dia, no espaço aéreo inglês, à comitiva norte-americana, passando por cima de todos os protocolos de segurança que certamente existem para tais eventos? Ainda que se leve em conta a capacidade de manipulação interna dos skrulls, haja vista o contexto, a cena é bastante inverossímil. Além disso, para alienígenas que podem assumir qualquer forma, atacar o comboio presidencial com seus tradicionais rostos terráqueos é de uma tolice inexplicável, além de – claramente por questão de economia – todos os skrulls falarem inglês (em qualquer parte do mundo em que estiverem) e manterem, mesmo na intimidade, a sua face humana, apesar de todos ali estarem supostamente lutando por sua identidade racial e “nacional” (uma das metáforas da trama).

O número de skrulls revoltosos também é incerto e claramente se reduz ao longo da minissérie, e o líder do grupo, Gravik (o ascendente Kingsley Ben-Adir), a princípio um estrategista político-militar, altamente idealista e capaz de humilhar Fury, transforma-se num louco violento, lançando à frente das mais comezinhas batalhas e confrontos. O atentado terrorista do primeiro episódio, que mata centenas de inocentes na Praça Vermelha de Moscou, só é explorada de maneira secundária, quando poderia e deveria ser muito mais explorada do ponto de vista político da minissérie. A esperada criação do Superskull prometia muito mais e também tinha potencial para representar uma ameaça muito maior: imagine um pelotão de skrulls, cada um usando um ou dois super-poderes, liderados por um Gravik dotado de todos eles? Mas, ao mesmo tempo, como utilizar algo desse tipo, sem a participação dos outros heróis da Terra?

Em termos de elenco, introduz-se Emilia Clarke, que encarna G’iah, filha do já conhecido Talos (o ótimo Ben Mendelsohn), lá de Capitã Marvel (2019), que inicia a série dividida entre ser uma dedicada soldada ideológica e pessoalmente alinhada à causa skrull ou ser fiel a suas relações familiares, mas termina como apenas alguém a ser utilizado numa batalha futura do MCU (e a atuação da atriz britânica não é lá das melhores também). O maior acréscimo e acerto da produção é a sempre fabulosa Olivia Colman, dando voz e corpo à sagaz, sarcástica e pragmática chefe do serviço secreto inglês (o MI-6), Sonya Falsworth.

Foto: Divulgação (entre dois amores…)

O CGI é digno dos absurdos 200 milhões de dólares gastos na produção (apesar das economias acima indicadas), com uma competente (a absurdamente clichê) cena de luta entre superpoderosos no episódio final. Nesse ponto, aliás, é importante contrastar Invasão Secreta com Oppenheimer, que usou 100 milhões de orçamento para fazer um filme concorrente ao Oscar, com reconstrução de época impecável, roteiro inteligente, figurinos, edição, cenografia, mixagem, efeitos visuais e elenco estelar, enquanto a minissérie da Marvel fica sempre na metade do caminho disso tudo, custando o dobro!

Foto: Divulgação (meu nome é Falsworth; Sonya Falsworth, a serviço de sua majestade!)

Mas, o ponto fraco mesmo de Invasão Secreta é seu roteiro. A princípio, introduz-se o subtexto acerca do tratamento xenofóbico dado pelos EUA aos imigrantes latinos, potencializado pela revelação de que Fury é casado com uma skrull (Varra, interpretada com competência por Charlayne Woodard), devendo grande parte de seu sucesso na inteligência norte-americana ao serviço sujo e silencioso de espionagem e contraespionagem que seus infiltrados aliados skrulls se dispuseram a fazer para ele, em troca da promessa de ajuda para encontrarem um novo lar para si. Fury, mesmo sendo negro e, por isso, tendo sofrido o forte preconceito da sociedade estadunidense (algo que ele mesmo descreve no segundo episódio), revelou-se um patriota ufanista, capaz de sacrificar todos e tudo por seu país.

Não cabe nem ficar arrolando todos os defeitos do roteiro, que além de não se sustentar em si mesmo, desconstrói e não explica vários elementos antes estabelecidos no MCU. Por exemplo, Fury estava na S.A.B.E.R por missão ou por depressão, após o blip? Por que, diabos, a Capitã Marvel não deu nenhuma explicação para os skrulls sobre achar ou não um novo planeta para eles? E por aí vai. A resposta a algumas dessas questões só virão no filme As Marvels, previsto para estrear em novembro de 2023?

Isso, na verdade, é o grande problema do MCU pós Saga do Infinito: ao contrário do que antes foi feito com tanta competência, parece que os executivos da Marvel não faziam ideia do que fariam depois do seu enorme sucesso. Como superar aquilo tudo? Que sagas os quadrinhos teriam a oferecer com tamanho apelo e impacto para serem adaptadas?

De modo que a impressão que fica é a de que o MCU ainda estaria testando o que poderia ou não funcionar melhor: a saga do multiverso, tendo Kang – derrotado pelo Homem-Formiga! – como o grande vilão? Ou seria melhor usar os Skrulls e Krees e sua eterna guerra? Ou seria melhor usar o Alto Evolucionário? Alguma ameaça cósmica da alçada dos Eternos? E o Mefisto (na linha do Dr. Estranho e Wanda)? Ou, quem sabe, Galactus (introduzindo os X-Men)? Ah, tem também o Beyonder e a Guerra Secreta, quem sabe?

Acho que nem Bob Iger sabe!

De modo que Invasão Secreta é o retrato dessa falta de objetivo claro do MCU atual: cheio de potencial que nunca se realiza; perdido entre o legado e a desconstrução do que já foi feito; irregular; enfim, decepcionante!

Que venham os próximos produtos da Marvel!

(será?)

Foto: Montagem da internet do CinePop (vai ser preciso dar o outro olho para o MCU melhorar, caro Nick!)


Nota: 1,5 / 5 (regular)

 


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OPPENHEIMER | Crítica do Neófito

Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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