Connect with us

Críticas

SPACE JAM: UM NOVO LEGADO | Crítica do Neófito

Publicado

em

A Canção do Sul – filme de 1946, produzido por Walt Disney – ficou famoso pela irresistível canção Zip-a-Dee-Doo-Dah, na voz do grande James Baskett, ganhador do Oscar honorário em 1949, um ano após sua morte – o que tecnicamente o tornou o primeiro artista negro a “ganhar” a estatueta dourada em Hollywood – e pela união muito bem feita entre atores de carne e osso e personagens animados.

Apesar de ter sido a primeira vez que atores atuavam com animações, A Canção do Sul se destacou nesse nicho, graças ao padrão de qualidade dos Estúdios Disney (nem vamos adentrar na discussão sobre o caráter altamente gregário do filme, que reforçava certos estereótipos racistas da época).

Mas foi certamente com Uma Cilada para Roger Rabbit, dirigido por Robert Zemeckis, em 1988, que a técnica foi elevada a níveis nunca antes vistos, tanto em termos de efeitos e qualidade da animação, quanto no que tange ao nível de interação entre personagens desenhados e os atores de carne e osso. Foi, simplesmente, revolucionário.

8 anos mais tarde, em 1996, alguém teve a brilhante ideia de unir o astro absoluto do basquete, Michael Jordan – além da participação de outros astros da NBA – com os personagens dos Looney Tunes. Surge, daí, a animação misturada com live action Space Jam: O Jogo do Século, no qual Jordan tinha que se unir a Pernalonga e sua turma para um jogo de basquete contra alienígenas (os Nerdlucks), que sugaram as habilidades dos demais integrantes do Dream Team da seleção de basquete norte-americana (Charles Barkley, Shawn Bradley, Patrick Ewing, Larry Johnson e Muggsy Bogues) para decidir o destino dos queridos personagens animados os quais, em caso de perda, seriam levados pelos ets.

Foto: Divulgação (em sentido horário: “O Som do Sul”, “Uma Cilada para Roger Rabbit” e “Space Jam:  O Jogo do Século”)

A cena final da vitória, com os braços de Jordan esticando como o de um desenho animado para alcançar a cesta derradeira, é icônica, além de muito engraçada.

Space Jam: O Jogo do Século fez grande sucesso – faturando 4 vezes o seu orçamento – apesar do roteiro bobíssimo e da atuação sofrível do “melhor jogador de basquete de todos os tempos”. Além disso, sedimentou, no Brasil, a marca da NBA.

Por anos, a Warner Brothers tentou emplacar uma continuação da animação, mas sem obter sucesso, seja porque Michael Jordan se recusou terminantemente em retomar a aventura, seja porque não surgiam mais fenômenos do esporte respectivo ou por pura falta de história que prestasse.

Parte desse problema acabou recentemente, com a ascensão da estrela LeBron James com também um dos mais importantes jogadores da NBA de todos os tempos. Era necessário, porém, convencer o astro esportista a topar a empreitada e de desenvolver uma trama que repetisse a fórmula bem-sucedida do filme noventista sem copiar a mesma história do filme antecessor.

LeBron não só topou a empreitada, como resolveu atuar também como produtor do filme, que sofreu troca de diretor e, apesar de anunciado oficialmente em 2014, só foi concluído no segundo semestre de 2019.

Assim sendo, estreia nesta quinta-feira, 15 de julho de 2021, Space Jam: Um Novo Legado, trazendo LeBron James como uma versão ficcional de si mesmo, Sonequa Martin-Green como sua esposa, Kamiyah; Cedric Joe e Ceyair J. Wright, respectivamente, como Dom, e Darius, filhos mais novo e mais velho do jogador da NBA.

Foto: Divulgação (a fictícia família LeBron do filme)

Darius é habilidoso com a bola avermelhada, para satisfação do pai; mas Dom gosta mesmo é de desenvolver jogos de videogame, criando aquele clichê conflituoso entre pai e filho que, logicamente, será explorado pelo vilão do filme, o qual, como em A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas (veja nossa crítica aqui), trata-se de uma I.A. superavançada (e bastante melindrosa) da Warner, o AI G, vivido por um divertido Don Cheadle (o Máquina de Combate do MCU).

Magoado pelo desprezo de LeBron à sua proposta de união de interesses, AI G rapta o jogador e seu filho para dentro de sua realidade virtual (alguém aí se lembra de Tron?) onde proporá um jogo de basquete cujo resultado definá se Dom voltaria ou não para o mundo real. Como era de se esperar, LeBron terá que recrutar jogadores para formar seu time, tendo que se contentar, novamente, com os Looney Tunes, já que a Liga da Justiça, Harry Potter e King Kong (todos distribuídos pela Warner) não se mostraram muito animados na empreitada, além da estratégia secreta de Pernalonga para recuperar seus amigos para o mundo Looney Tunes, que o haviam deixado para habitarem outros sob sugestão de AI G (que, por sua vez, está desenvolvendo jogadores virtuais superpoderosos a partir do padrão de outros atuais astros da NBA e WNBA e do jogo desenvolvido por Dom).

O resto é bastante clichê mesmo e dá para imaginar o resultado de tudo.

Foto: Divulgação (Don Cheadle se divertindo como vilão AI G no maravilhoso mundo virtual que domina)

Em termos técnicos, Space Jam: Um Novo Legado é belíssimo em termos de efeitos visuais e especiais, bem como no padrão da animação, da melhor qualidade. São tantas informações visuais que chega a ser difícil acompanhar tudo, mas no bom sentido. Em dado momento, os Looney Tunes ganham forma 3D, com resultado bastante satisfatório. A fotografia é clara e nítida. O ritmo é bacana, principalmente no segundo arco, quando a ação passa a ocorrer dentro do computador, predominando a animação.

No arco final – o do esperado jogo – a Warner mete uma penca absurda de personagens sob sua circunscrição como plateia, sendo divertido tentar pescar o máximo de easter eggs que o poderoso estúdio inseriu ali para os iniciados.

As virtudes, porém, acabam por aí.

O filme peca bastante em dois quesitos fundamentais: no roteiro e na direção.

No primeiro tópico, apesar de a trama conseguir ser diferente da do longa de 1996, no ponto de partida, em termos de desenvolvimento, forma e ponto de chegada é apenas reciclagem do que já havia sido feito, com alguns detalhes emocionais a mais, decorrentes do conflito entre LeBron e Dom.

A direção oscila, conseguindo apresentar sua história, mas sem cativar o espectador verdadeiramente, mesmo contando com desenhos animados tão icônicos. Aliás, não dá para saber o quanto tais personagens continuam relevantes para as novas gerações, mas a opção por mantê-los em suas características mais clássica (o Pernalonga sacana ainda está muito contido, para o gosto deste colunista) é até acertada, apesar de não conseguir ser muito engraçada de verdade no final.

Mas o ponto fraco fica, realmente, nas atuações, principalmente do protagonista, LeBron James. Além de não ser nenhum Robert DeNiro, o astro do basquete ainda tinha que interpretar grande parte de suas cenas sozinho, diante de uma tela verde. Se tal situação é desafiadora para atores do porte de Ewan McGregor (que reclamou horrores de tal técnica quando gravou seus filmes de Star Wars), o que pensar de um esportista se aventurando no mundo cinematográfico? LeBron consegue ser até mais expressivo do que o velho Jordan, mas ainda assim suas expressões mais dramáticas são quase caricatas de tão fracas. Não por acaso, sua melhores caras e bocas se dão quando retratado na forma de desenho animado…

Foto: Divulgação (a versão animada bem mais expressiva do astro LeBron James)

E olha que a versão exibida para a imprensa foi, infelizmente, a dublada, que dificulta perceber nuances no timbre de voz dos atores originais. Se isso ajuda na identificação dos personagens animados – cujas vozes da dublagem clássica foram preservadas – por outro lado faz com que se perca muito das sutilezas empregadas pelos artistas em sua própria língua. Ah, e não que LeBron consiga realizar tal proeza!

Don Cheadle, apesar de ter declarado aos sete céus o tédio que sentiu na gravação de suas cenas, parece ter se divertido com a vilania de seu personagem, dando show.

Cedric Joe está correto com seu Dom, mas é perceptível algum desconforto em ter que atuar com telas verdes ou atores menos capacitados.

Outro destaque de atuação pode ser visto em Sonequa Martin-Green, que passa bastante verdade na pele de Kamiyah.

O final edificante é bastante previsível.

Em suma, Space Jam: Um Novo Legado é filme nitidamente voltado para as crianças, apesar de contar com alguns personagens com mais de 80 anos de existência. Tenta vender a ideia de conciliação entre a atividade física e os jogos virtuais e, de quebra, apresentar a NBA para um novo público consumidor. Nenhum outro tema mais relevante é tratado. Afinal – devem pensar seus produtores – é apenas entretenimento.

Para fechar, pode-se dizer que Space Jam: Um Novo Legado é um filme divertido, para ser visto em família, mas rapidamente esquecido.

Foto: Divulgação (a versão 3D do Pernalonga)

PS.: uma cena em especial, envolvendo a aparição de Michael Jordan, é divertidíssima

_______________________________________________________________________________________________________________________________________

Nota: 3 / 5 (bom)


SIGA-NOS nas redes sociais:

FACEBOOK: facebook.com/nerdtripoficial

TWITTER: https://twitter.com/Nerdtripoficia3

INSTAGRAM: https://www.instagram.com/nerdtripoficial/

VISITE NOSSO SITE: www.nerdtrip.com.br


Leia também:

MANHÃS DE SETEMBRO | Crítica do Neófito

Dia do Rock e o Powermetal | Lista de indicações para este dia por Cristiano Konno

VIÚVA NEGRA – Filme se torna o NOVO ROCKY 4 – Crítica do DON GIOVANNI

O Poderoso Chefinho 2: Negócios Da Família | Trailer Divulgado

 

Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

Comente aqui!

Mais lidos da semana