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Críticas

BECKETT | Crítica do Neófito

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John David Washington – filho de nada mais, nada menos, do que Denzel Whashington – apareceu, pela primeira vez no mainstream, numa ponta do icônico filme Malcon X, estrelado por seu pai e dirigido pelo brilhante Spike Lee, no distante ano de 1992.

Talvez ele permanecesse indefinidamente a ser o ator negro coadjuvante, filho de celebridade, sempre a atuar em filmes menores, mas engajados (como Monstro, de 2018, disponível na Netflix).

Mas, então, ele foi chamado para atuar nas cinco temporadas da boa série da HBO, Ballers (2015-2019), estrelada e produzida por profícuo Dwayne “The Rock” Johnson. Ali ele acabou por chamar a atenção do diretor que primeiramente o havia dirigido na vida – novamente Spike Lee – que o colocou como protagonista do excepcional (e oscarizado como melhor roteiro adaptado) Infiltrado na Klan (2018, e que também garfou o Grande Prêmio do Festival de Cannes desse ano). Sua atuação descolada e absolutamente magnética foi mais do que o suficiente para tirá-lo de qualquer sombra que seu pai pudesse projetar sobre si.

Seu próximo trabalho foi mais ambicioso ainda: Tenet, no qual protagoniza o personagem sem nome da complexa trama de espionagem, ficção científica e viagem no tempo, de Christopher Nolan (trilogia atual de Batman). Trata-se de um segundo seguido excepcional trabalho de composição e atuação, que o firmaram de vez como nova estrela hollywoodiana, podendo, inclusive, destacar-se como ator físico, apropriado para longas de ação e policiais.

Foto: Divulgação (John David Washington em dois momentos definidores de sua carreira)

Contudo, John David Washington demonstra querer mostrar talento e versatilidade, não se acomodando a estereótipos. Isso explicaria sua aceitação em protagonizar o filme produzido pela Netflix e dirigido pelo italiano Ferdinando Cito Filomarino, em seu terceiro longa, Beckett.

Se em Tenet o ator vivia um espião sem nome, em Beckett ele é o próprio nome do filme, cujo desenvolvimento se desenrola totalmente sobre o ponto de vista do personagem título, um homem a princípio absolutamente comum, vivendo uma inesperada história de amor com sua namorada April (Alicia Vikander, a nova Tomb Raider) e de férias na Grécia pré-manifestações de 2008. Tudo ia bem até que um acidente de carro não apenas interrompe as férias e a história de amor de Beckett, como também e inesperadamente colocam sua própria vida em risco – não pelo acidente em si! – mas por ele subitamente ser jogado no meio de uma trama kafkiana, em que, perdido em país cujo idioma e geografia lhe são desconhecidas, vê-se implacavelmente perseguido por todos os lados, sem ter em quem confiar, movendo-se tanto por instinto de sobrevivência quanto pela pulsão de morte oriunda do sentimento de culpa.

Foto: Divulgação (do paraíso ao inferno em apenas um dia)

A composição de Washington é cuidadosa, no sentido de dar a Beckett a postura física de um ser humano normal e não a de um policial malandro (como em Infiltrado na Klan) ou a de um superespião com treinamento militar, capaz de derrotar desarmado vários homens de uma só vez em confronto físico (como em Tenet). Beckett demonstra dor e cansaço; corre de forma pesada e desengonçada; luta e foge por puro reflexo e não por habilidade; não percebe o perigo ao seu redor até ser quase tarde demais (mesmo que, como espectadores, seja possível sacar logo de cara alguma das armadilhas em que ele acaba caindo).

Ao redor de toda a trama de perseguição, de luta por sobrevivência e de reencontro com April – seja na circunstância que for – há o entorno político em que os políticos são claramente bandidos, mas menos bandidos do que muitos explicitamente bandidos. Como se trata de um diretor italiano, em filme gravado na Europa, fora dos EUA, o país mais poderoso do mundo não é poupado de críticas, ainda que na figura bastante manjada do funcionário do Consulado norte-americano Stephen Tynan (Boyd Holbrook, de Logan, especializando-se em papeis de moralidade duvidosa).

Foto: Divulgação (a caminho da salvação?)

No entanto, apesar dos méritos acima elencados – aos quais pode-se somar o apuro técnico, a bela fotografia, a incrível trilha de Ryuichi Sakamoto, a trama kafikiana, entre outras coisas – o roteiro, mesmo que buscando complexidade, acaba por exaltar a figura do norte-americano como o herói do mundo, afinal, cabe a Beckett superar seus limites físicos e emocionais para salvar o dia, contando, na “jornada de herói” que empreende, com a essencial ajuda de outra norte-americana, a personagem Lena (Vick Krieps, de Trama Fantasma). Pode-se até argumentar que Beckett necessitava de algum interlocutor naquele universo altamente adverso e periculoso, mas é incrível que, novamente, sejam duas pessoas que falam inglês, que detêm a capacidade de resolver o problema, que envolve, ainda, o sequestro de uma criança grega.

Foto: Divulgação (os anjos e demônios são todos norte-americanos, não importa em que parte do mundo…)

Se no início o esforço de Beckett causa empatia, por ser humano, falível e verossímil, ao final, apesar de toda a aparente fragilidade do personagem, ele acaba parecendo alguém que, apesar de ser alvejado, espancado, esfaqueado, perseguido etc., mostra-se praticamente invencível, lembrando muito o Demolidor da série homônima de sucesso da mesma Netflix. Isso acaba por sepultar qualquer tipo de identificação inicial com o personagem, afinal, para alguém que declara que deveria ter morrido, ele luta com afinco absurdo para se manter muito vivo.

Boa aventura, apesar das incongruências.

Foto: Divulgação (pesadelo que nunca acaba)

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Nota: 3 / 5 (bom)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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