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Críticas

A BARRACA DO BEIJO 3 | Crítica do Neófito

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A cultura norte-americana é muito diferente da do Brasil.

Diferença, esta, que se iniciou na própria base histórica de cada uma dessas nações.

Enquanto os EUA – de clima semelhante ao do país de seus descobridores – se formaram a partir do sonho de construção de uma “Nova Inglaterra”, livre de perseguições religiosas, o Brasil (na verdade a América Latina) foi constituído – com seu clima quente e tropical – como colônia de exploração dos primos pobres da Europa (Espanha e Portugal).

Essa diferença de base redundou em concepções de mundo muitas vezes absolutamente distintas, que se refletem em hábitos e costumes sociais diametralmente opostos nos dois países.

Daí a possível dificuldade do brasileiro para entender o núcleo do conflito dramático que permeia esta terceira – e certamente última – parte da franquia A Barraca do Beijo (2018, 2020 e 2021), que gira em torno do amadurecimento pela ida para a faculdade dos jovens personagens, aliás, tema bastante similar (para não dizer praticamente igual) ao de outra franquia de comédia romântica adolescente produzida pela mesma Netflix, a trilogia Para Todos os Garotos que já Amei (também 2018, 2020 e 2021).

Acontece que, enquanto aqui no Brasil, entrar para uma faculdade significa apenas a continuidade natural dos estudos para o jovem que sonha em conquistar melhores oportunidades profissionais na vida – ou simplesmente (em número bem menor) dar vasão a sua vocação – permanecendo na casa dos pais e/ou dividindo seu tempo entre trabalho e estudos; nos EUA, a ida para o ensino superior representa verdadeiro rito de passagem, no qual os jovens, via de regra, saem de suas casas e passam a viver sozinhos dentro ou nas imediações do campus, às vezes em outra cidade ou até estado, a depender do curso pelo qual optaram, e as faculdades em que foram aceitos. Os pais norte-americanos sabem que, desde que engravidam, terão que investir na poupança que garanta a futura universidade dos filhos, os quais, a partir daí, estariam habilitados e incentivados a se independerem dos genitores. É o caso, por exemplo, dos meio-irmãos deste colunista, estadunidenses natos, e que passaram pelo processo que serve de propulsor para a trama de A Barraca do Beijo 3.

Foto: Divulgação (mais uma lista de afazeres)

Assim, o filme se inicia exatamente no ponto em que parou no anterior, ou seja, após a formatura do colégio e logo no início das férias de verão dos EUA, quando Elle (Joey King) tem que decidir entre a faculdade californiana de Berkeley, onde seu amado amigo de infância, Lee (Joel Courtney), foi aprovado; ou em Havard, Massachusetts, onde seu namorado, Noah (Jacob Elordi) já estuda há alguns anos.

Dividida entre o amor fraternal e romântico, Elle, a princípio, decide-se em ir para Havard com Noah, mas, para compensar o amigo Lee, resolve cumprir item por item da lista com dezenas de tópicos que os dois relacionaram na infância como forma de viver o verão mais perfeito de todos os tempos, o que gera os melhores momentos do filme.

Além disso, a protagonista ainda tem que lidar com o fato de a casa de praia na qual passou grandes momentos da infância estar prestes a ser vendida; com o emprego de verão para juntar dinheiro próprio para a faculdade (outro costume norte-americano estranho ao brasileiro médio); com o recém iniciado namoro do pai viúvo há seis anos; com o cuidado com o irmão mais novo; e com o ressurgimento (para lá de conveniente) de Marco (Taylor Perez), seu affair do filme 2.

Foto: Divulgação (perigo: “crush” à vista!)

Postas tais premissas, o filme se desdobra entre momentos de humor leve, romantismo inocente e idealizado e muito draminha adolescente, os quais poderiam ser minimizados a zero com um pingo de bom-senso por parte dos personagens (na verdade, dos roteiristas que conceberam os diálogos e atitudes destes). Afinal, por exemplo, qualquer pessoa minimamente razoável sabe que não parece ser boa ideia manter amizade de perto com o crush recente – surgido num momento de crise de namoro – a quem você beijou na frente de toda escola, ao mesmo tempo em que se tentar acertar com o namorado “traído”. Mas se isso serve para forçar algumas lágrimas e conflitos entre o casal protagonista, por que não, né? E tome diálogos e inverossimilhanças, em situações repletas de coincidências e nas quais qualquer decisão que se tome será ruim para alguém. E isso além de “amigos” que não conseguem entender o problema do outro, e das posturas tão imaturas quanto as de crianças de 6 anos (nada sutilmente metaforizadas no marco da porta com as alturas dos personagens ao longo da infância) etc.

Aliás, até os coadjuvantes – como a amiga de Noah, Chloe (Maisie Richardson-Sellers) – precisam lidar com dramas pessoais.

Bom, até aí, tudo bem. Afinal, a vida real é repleta de problemas e desafios cotidianos e periódicos. O problema é que, em A Barraca do Beijo 3, assim como qualquer bobagem serve para a criação de drama existencial, basta também um mero momento solene ou uma frase de efeito para que a solução (ou redenção) emerja.

Com isso, fica difícil comprar a ideia de jornada de amadurecimento dos personagens, pois, quase todos (os jovens) se comportam como crianças mimadas, enquanto os adultos de forma ausente ou negligente.

O terceiro arco final até tenta surpreender e fugir do lugar comum, mas, tratando-se de uma comédia romântica (adolescente, ainda por cima), nada de muito sério realmente aconteceria e a tentação pelo final feliz transparece forte e reluzente como a bela e ensolarada estrada californiana em que os personagens costumam trafegar, ainda que se possa – com certa boa vontade – atribuir alguma dubiedade sutil a ele.

Foto: Divulgação (Elle entre dois amores)

Seria interessante, pelo caminho que o roteiro foi tomando, que o filme terminasse de forma mais corajosa, o que passaria a ideia de amadurecimento real dos personagens; porém, o caminho mais seguro foi a opção.

Todas essas observações tornam esta nova parte das desventuras de Elle, Lee, Noah e companhia limitada no mais fraquinho dos três filmes da franquia, ainda que os atores se mostrem à vontade e realmente tentando dar consistência aos sentimentos (e sentimentalismos) de personagens 10 anos mais jovens do que eles na vida real.

Em termos técnicos, o filme é muito bonito, otimamente fotografado e muito bem editado e montado. E, se há um aspecto positivo da trama, este se manifesta na atmosfera do longa, que consegue – como a primeira parte da trilogia – despertar certo sentimento de nostalgia na audiência, ao se focar tanto nas decisões que implicarão no crescimento pessoal dos personagens, quanto nas sequências de flashbacks inseridas de forma orgânica durante a projeção.

O filme termina com os já tradicionais erros de gravação e clima de amizade entre o elenco, deixando uma sensação agradável, mas rapidamente esquecível.

Foi legal acompanhar a saga de Elle, do primeiro beijo à faculdade.

E só.

Agora, é bola pra frente!

Foto: Divulgação (as últimas férias de verão antes da vida adulta)

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Nota: 3 / 5 (bom)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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