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Críticas

JUSTIÇA EM FAMÍLIA | Crítica do Neófito

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Em meio à pandemia de vírus respiratório que, aqui no Brasil, já matou quase 600 mil pessoas (até o momento em que esta matéria estava sendo escrita), a Comissão Parlamentar de Inquéritos do Senado Federal, criada para investigar possíveis omissões governamentais na condução da crise sanitária, revelou fortes indícios de que, enquanto milhares de vidas eram diariamente ceifadas – muitas delas por falta de uma vacina que já se encontrava disponível no mercado – alguns inescrupulosos montavam empresas intermediadoras às pressas, combinavam propina e/ou superfaturavam preços de vacinas menos reconhecidas, com o único objetivo de enriquecerem pessoalmente, ao custo de vidas humanas brasileiras.

Algumas das pessoas físicas e jurídicas envolvidas nesse imbróglio, aliás, já possuíam histórico de fraudes anteriores no fornecimento de medicamentos e produtos sanitários para o Governo, mostrando que a prática desonesta de desvio de recursos, fraudes e superfaturamentos envolvendo a saúde dos brasileiros – direito social garantido pelo art. 6º da Constituição da República – era prática corriqueira, o que, infelizmente, faz com o o lema do antigo personagem Samuel Blaustein, da Escolinha do Professor Raimundo – o famoso “fazemos qualquer negócio” – é mais real do que gostaríamos de crer.

Noutro giro, é comum ouvir falar que laboratórios farmacêuticos seguram em seus cofres a fórmula de vários remédios já apropriados ao tratamento de algumas doenças mais graves – como o câncer – mas não o fazem por razões de lucro. Não por outro motivo, o Brasil já quebrou a patente de diversos medicamentos – os chamados genéricos – com o objetivo de baratear o preço final destes para que se tornassem acessíveis à maioria da população.

Eis a realidade da economia capitalista que, sem dúvidas, proporcionou o melhor momento da humanidade até o momento, mas que, evidentemente, é repleta de cruéis (e até desumanas) contradições em sua estrutura!

No mais capitalista dos países – os poderosos Estados Unidos da América – isso é mais real do que nunca. “Graças a Deus” – poderíamos dizer – o Brasil pode contar com o SUS! Na terra do Tio Sam, foi só no governo do Democrata Barack Obama (2009 a 2017) que o mais poderoso Estado Soberano do planeta implementou um sistema de saúde minimamente voltado para aqueles que não têm condição de pagar pelos caríssimos tratamentos médicos de lá, ainda assim, fortemente combatido pelo partido de oposição, os Republicanos, que julgam que quem não teve mérito para alcançar posição sócio financeira para poder se tratar, não teria o direito de tirar daquele que conquistou essa condição pelo seu trabalho honesto.

São discussões altamente complexas, que podem ser tratadas com mais profundidade pelo cinema, seja em documentários (como SiCKO, 2008, de Michael Moore), seja em ficções (como Um Ato de Coragem, 2002, estrelado por Denzel Washington).

Mas o tema também pode servir somente de trama secundária para a história principal, como é o caso deste Justiça em Família, produção da Netflix, dirigida com carinho pelo estreante Brian Andrew Mendoza, e estrelada pelo brutamontes de boa alma Jason “Aquaman” Momoa com a potencial estrela hollywoodiana, Isabela “Dora a Aventureira” Merced.

Foto: Divulgação (programão de família: acampar nas florestas geladas do norte dos EUA!)

No longa, Momoa interpreta o grandalhão Cooper, típico pai de família norte-americano, marido apaixonado da bela Amanda (Adria Arjona), e pai devotado da meiga, mas cheia de personalidade, Rachel (papel de Isabela Merced).

Amanda, porém, sofre de câncer, tratável com uma droga extremamente cara do laboratório de propriedade do hedonista Simon Keeley (Justin “Se Beber Não Case” Bartha), mas que poderia ser disponibilizada no mercado por outra farmacêutica, que acaba aceitando dinheiro do magnata para segurar indefinidamente o lançamento do seu remédio, mesmo que isso represente a morte de todos aqueles que não teriam como pagar pelo tratamento do laboratório de Keeley.

Foto: Divulgação (quanto vale negociar com a vida de alguém?)

Desse modo, Amanda acaba falecendo, numa bela cena em que os atores principais (Momoa e Isabela), com diferente matiz e abordagem, dão um show de interpretação, transparecendo, cada um a seu modo e de acordo com a persona criada para seus personagens, a dor da perda de alguém muito amado. Momoa, inclusive, denota uma sensibilidade meio abrutalhada que chega a ser tocante, nessa sequência que é uma pequena pérola deste pequeno filme.

Inicia-se, então, a luta por justiça; afinal, Amanda poderia ter vivido – pelo menos por mais tempo – caso tivesse tido acesso ao medicamento similar ao produzido pelo laboratório de Keeley, que, todavia, sucumbiu à propina para se manter escondico. A única voz pública a favor de regulamentação do mercado de drogas medicinais parece ser a Deputada Federal Diana Morgan (Amy Brenneman), mas que, pouco depois, aparece assinando acordo de cooperação com os poderosos laboratórios.

Evidentemente, a causa de Cooper não prospera no meio jurídico, desesperançando o viúvo, até o surgimento de um repórter com possíveis evidências sobre o esquema lucrativo, mas atentador contra a vida. Esse é o momento em que aparece o frio e preciso assassino profissional Amo (Manoel Garcia-Rulfo), o que introduz o segundo arco do filme e proporciona a mudança de tom, até então quase caído para o drama, para o subgênero filme de vingança (vide nossos comentários sobre Infiltrado, para algumas reflexões a mais sobre esse gênero cinematográfico).

Foto: Divulgação (assassino com ótimo gosto para roupa e nem tanto para carro!)

Momoa, então, incorpora o homem determinado a fazer justiça com as próprias mãos, conduzindo o filme como típico longa de ação e na direção da sua sequência inicial, que abre a produção mostrando o protagonista numa situação complicada, sobre o estádio esportivo de Pittisburgh.

Lutas agressivas e violentas, fugas, armadilhas, trocas de carros e perseguições. Todos os ingredientes típicos dos filmes de ação e vingança estão presentes para contar a simples história ali contada. Momoa interpreta o arquetípico papel do fortão, disposto a tudo pelo que acredita ser “Justiça” e indo longe demais para poder retornar, tudo ao lado de Rachel, completamente impotente e lançada na situação de, além de ter ficado órfã, ver-se desprovida de casa, escola e identidade, dividida entre a fuga para o Canadá ou a vingança do pai.

No entanto, no terceiro e último arco, vem a reviravolta da trama, que tira o filme do esquematismo, jogando luz sobre o roteiro e a direção mediana de Mendoza, mas, principalmente, oferecendo palco para Isabela Merced brilhar e mostrar face completamente diferente da ingênua Dora, a Aventureira (2019), sua primeira protagonista, que a revelou individualmente para o grande público.

Foto: Divulgação (momento ternura entre pai e filha)

A atriz de vinte anos – mas com cara de adolescente – brilha na performance física e emocional de sua personagem, fazendo com que acreditemos que realmente sejam realmente possíveis todas aquelas situações pelas quais ela acaba passando, seja junto ou separada da figura paterna.

Esse ponto de virada do longa faz com que ele se torne mais do que um genérico de ação, para se revelar verdadeira experiência cinematográfica; afinal, o roteiro concebido por Philip Eisner e Gregg Hurwitz só funcionaria na linguagem audiovisual. Nas mãos de um diretor mais experiente e talentoso, o marco de virada poderia ser ainda mais impactante e repleto de camadas, mas, mesmo com as evidentes limitações do cineasta estreante, a reviravolta reacende o interesse pela história. O “antes” e o “depois” desse momento só existem em função dele, com melhor desenvolvimento para o primeiro arco, caindo para o óbvio filme de ação no segundo e terminando algo apressado no derradeiro. Mesmo assim, é agradável de se ver.

A fotografia oscila inteligentemente pela paleta mais acinzentada e mais colorida, ajudando na criação do clima e no desenvolvimento da história. As cenas de ação e luta possuem mais cortes do que ideal, mas passam a ideia do que se quer. O elenco de apoio – como a agente Sarah (Lex Scott Davis) – sai-se bem. Há alguns erros de continuidade (a cicatriz de um personagem muda de lado, na hora que a câmera muda a tomada). Por fim, destaca-se a boa direção de atores e a capacidade de esconder bem o segredo da trama.

Bom entretenimento para o fim de noite.

Mas, apesar de tocar em tema espinhoso e sério e da boa sacada do roteiro, acaba por resumir tudo à ideia sempre enviada pelos EUA de que se a justiça institucional não funciona, nada impede que você resolva tudo na base da porrada!

Até breve, tripulantes!

Foto: Divulgação (“o melhor lugar do mundo é dentro de um abraço”)

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Nota: 3,5 / 5 (muito bom)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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