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Críticas

BATE CORAÇÃO | Crítica do Neófito

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Os gregos dividiam seu teatro em tragédia e comédia.

A primeira espécie – a tragédia – era considerada a mais nobre do gênero teatral, enquanto a segunda – a comédia – era tida como uma arte mais popular.

Até hoje, há quem torça o nariz para a comédia. Filmes como Chorar de Rir (2019, direção de Toniko  Melo e estrelado por Leandro Hassum), por exemplo, paradoxalmente usam o humor para praticamente depreciar o gênero cômico sobre o qual se apoia, ao mostrar a história de um comediante bem sucedido que só se sentiria realizado e reconhecido como ator “de verdade” se conseguisse estrelar um drama (ou tragédia).

Crê-se que a necessidade de se fazer rir – por meio de gag’s visuais ou situações surreais – supere a mensagem que a história possa carregar em si.

As comédias de Charles ChaplinO Garoto (1921), Tempos Modernos (1936), o Grande Ditador (1940) etc. – usavam o humor como ferramenta para a crítica social ou de costumes. O mesmo pode ser dito de Os Simpsons (criação máxima de Matt Groening) ou de algumas das realizações de Seth MacFarlaneUma Família da Pesada, The Orville – que buscam passar uma mensagem em meio às situações muitas vezes absurdas que são criadas.

 Foto: Divulgação

É muito satisfatório, aliás, quando se constata a ambição da obra de forma orgânica e sutil, em meio aos risos provocados pelas cenas engraçadas. Você sai da projeção com uma ideia martelando sua cabeça, fazendo refletir.

Alguns filmes buscam apenas entreter, apresentando um bem vindo escapismo (por exemplo, Vai Que Cola 2).

Finalmente, há aquelas produções que param apenas na boa intenção, sem conseguir, de fato, disfarçar que o filme era uma mera desculpa para defender um certo ponto de vista (O Candidato Honesto 1 e 2).

O filme em comento, Bate Coração – direção de Glauber Filho e estrelado por Aramis Trindade (Isadora) e André Bankoff (Sandro) – é um típico exemplar de filme que orbita de forma meio difusa entre tais espectros. Pretende-se usar do humor para transmitir uma mensagem bastante crítica, por sinal. Contudo, na ânsia de que essa mensagem chegue ao espectador da forma mais clara possível, muito da técnica cinematográfica acaba por ser negligenciada.

Foto: Divulgação

Desse modo, analisemos primeiramente qual a mensagem que o filme pretende passar.

É digno de sonoros aplausos o filme abraçar a causa da tolerância e da inclusão, principalmente em tempos tão estranhos, polarizados e radicalizados como os atuais. O protagonismo, por exemplo, fica por conta da travesti Isadora (Aramis Trindade), coadjuvada por vários membros da comunidade gay, com destaque para a Madeinusa vivida por Dênis Lacerda (impagável nome “de guerra” tirado da expressão em inglês “Made in USA”), a Cassandra, do ator Ilvio Amaral, e a expressiva Dolores de Mauricio Canguçu. Há uma cirurgiã cardíaca negra (Cláudia), vivida pela belíssima Heloísa Jorge; e uma mulher compreensiva a amorosa – Vera, de Germana Guilhermme – capaz de se casar por amor com uma travesti e de acolher seu filho bastardo. O “galã” da trama, Sandro (na pele de André Bankoff) pouco tem a acrescentar, uma vez que seu personagem é o mais bidimensional de todos (que, reconheçamos, são bastante arquetípicos), praticamente um estereótipo do macho alfa que objetifica a mulher.

Pessoas individuais e casais heterossexuais brancos e “cristãos” convivem em harmonia com gays, transformistas e negros por todo o filme. E isso num momento histórico em que – quase inexplicavelmente – se reacendem discursos discriminatórios, preconceituosos e até sobre pureza racial! Essa mensagem brilha em tons neons o tempo todo do longa. O sexismo demonstrado por Sandro e seu amigo Igor (Paulo Verllings) é retratado de forma caricata na tela, mas, por incrível que pareça, corresponde ao comportamento ainda típico de muito homem no dia-a-dia, merecendo toda a crítica despejada sobre ele ao longo do filme.

Foto: Divulgação

A história utilizada para a veiculação da mensagem é fortemente inspirada na famosa e longeva peça teatral Acredite, Um Espírito Baixou em Mim, levada a cabo por duas décadas pelos já mencionados atores Maurício Canguçu e Ilvo Amaral (que, não à toa, estão no filme); ou seja, Sandro, homem preconceituoso, machista e hedonista sofre um ataque cardíaco fortíssimo, recebendo o coração transplantado da travesti Isadora, que, do plano espiritual, começa a influenciar o hospedeiro do órgão de seu antigo corpo, fazendo-o se interessar por coisas “femininas”.

Bate Coração possui um caldeirão de referências, que vai de filmes como A Gaiola das Loucas (1978 / 1996, e a inesquecível cena do “dedinho”), Ghost: Do Outro Lado da Vida (1990, do qual, entre outras coisas, sai a hilária expressão “são Patrick Swayze”), Do Que As Mulheres Gostam (2001), O Sexto Sentido (1999); a lições oriundas do Espiritismo e do budismo.

Foto: Divulgação

Com tudo isso em mente, a técnica cinematográfica acaba ficando um pouco em segundo plano.

A montagem é um pouco confusa; abuso de close-up’s; cenas em ambientes fechados, o que é uma pena, haja vista o desperdício dos belos cenários cearenses; economia em efeitos especiais (tirando a cena de abertura, utilizando um drone); alguns erros de continuidade (dá para ver a diferença de postura dos atores nas diferentes tomadas de uma mesma cena); pequenas falhas de roteiro, em que se observa o maniqueísmo de certas situações e a resolução “mágica” de certos ganchos (como a trama envolvendo o “perdão”).

Mesmo com essas falhas visíveis, o filme ainda consegue passar uma mensagem interessante e positiva, tanto no âmbito social (com o tema da tolerância, da não discriminação e da doação de órgãos), quanto na esfera pessoal, com recados sobre doação, perdão, recomeços e até – para quem acredita – acerca de espiritualidade (Glauber Filho dirigiu o fenômeno Bezerra de Menezes: o diário de um espírito, de 2008; e co-dirigiu As mães de Chico Xavier, de 2011).

Talvez com um orçamento mais generoso e um diretor mais familiarizado com o tema do humor, o filme funcionaria melhor. Tanto que o longa chega a se dar melhor quando tenta emocionar, do que quando objetiva provocar risos, se olhado de forma geral.

Ainda assim, é um filme agradável, leve e bem interpretado (apesar de algum peso teatral em algumas sequências).

Fica a dica!

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Nota: 2,5 / 5 (regular)

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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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