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Críticas

MATRIX: RESURRECTIONS – “A Volta dos Que Não Foram” | Crítica do Neófito

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Ainda me lembro do impacto que foi assistir a Matrix, quando do seu lançamento em 1999. Tratava-se de uma incógnita, afinal, era um filme de ação com ficção científica dirigido pelos então desconhecidos Irmãos Wachowski (atuais Irmãs Wachowski) e estrelado pelo ator mediano, mas muito carismático, Keanu Reeves, além dos cults Laurence Fishburne e Hugo Weaving, além de outra bela desconhecida, a canadense Carrie-Anne Moss.

Mas qualquer temor que se pudesse ter pelo filme foi logo para o espaço diante do desbunde visual, das magníficas cenas de ação, da inteligência do enredo e do roteiro, do carisma dos personagens, das coreografias de lutas engenhosas, da estética original, e dos efeitos especiais superinovadores.

Nesse sentido, Matrix foi um marco na sétima arte, tornando-se referência quase obrigatória para os futuros filmes de ação, graças à invenção do bullet time; das cenas de ação em câmera lenta (inicialmente utilizadas por John Woo, mas levadas a outro patamar pelas Irmãs Wachowski); no fato de colocar atores comuns em cenas de lutas dignas de Jet Li (que, inclusive, recusou papel nas continuações), além do roteiro inventivo, distópico, focado na “jornada do herói” e repleto de referências de animes, de mangás, da contracultura, do neogótico, do cyberpunk, da literatura e, enfim, do Cristianismo.

O sucesso foi arrebatador, tanto em temos de público, mídia e crítica, quanto financeiramente: Matrix faturou 465 milhões de dólares, o equivalente a 7 vezes do seu custo, de 63 milhões. E é claro que a Warner não resistiria de abrir a barriga da sua mais nova galinha dos ovos de ouro.

O final aberto e cheio de possibilidades do primeiro Matrix ganhou duas continuações: Matrix Realoaded e The Matrix Revolutions (ambos de 2003). Diante do sucesso de concepção e conceito do filme inicial, as Irmãs Wachowski se viram obrigadas a anabolizar tudo nas sequências: das cenas de ação ao roteiro intricado, tudo foi potencializado – mesmo que isso implicasse no estabelecimento de alguns furos de roteiro – com resultados muitas vezes questionáveis. Matrix Reloaded se saiu melhor, por manter o suspense da trama e desdobramentos inesperados; todavia, não há como negar a decepção que foi The Matrix Revolutions, recheado de diálogos ininteligíveis e verdadeiros malabarismos argumentativos para mudar a premissa da história inicialmente concebida e justificar a ação e final apoteótico.

A ideia central do filme de 1999 – evoluída na animação diferenciada Animatrix (2003) – falava da guerra travada entre humanos e inteligências artificiais, à qual estas últimas ganharam, transformando os perdedores em “baterias-vivas” para as máquinas, por meio da inserção mental de todos em enorme simulação de realidade virtual, chamada “Matrix”. Neo, o personagem de Keanu Reeves – espécie de Jesus Cristo daquele universo distópico-cibernético – acabava por descobrir como ler o código fonte da Matrix, passando a controlar aquela realidade e abrindo a possibilidade de ‘acordar’ todos os humanos inseridos naquela simulação virtual.

Foto: Divulgação (o começo, “os meios” e o fim?)

Mas, em verdade, o conceito era de difícil solução: como acordar, conscientizar e fisicamente recuperar todos os humanos de uma só vez (ou aos montes)?

Sendo assim, nos “filmes-sequências”, o mais fácil foi mudar a ideia de “libertar” os humanos da Matrix para “pacificar” a guerra entre estes e as máquinas. Ao invés de ter destruído o temível programa Agente Smith (personagem de Hugo Weaving), Neo o “teria libertado”, transformando-o num vírus de computador a contaminar e dominar toda a Matrix. Para justificar novas coreografias de luta, a capacidade de Neo em ler e controlar aquela realidade foi claramente diminuída e relativizada. E, estranhamente, Neo também teria “poderes” fora da Matrix (o que levou à teoria de muitos de que haveria uma “matrix” dentro da “Matrix”).

Mas o certo é que tudo ficou grande demais, arrogante demais, pretencioso demais, perdendo muito da força do primeiro longa. De qualquer forma, foi dado um fim digno aos personagens e a seus arcos dramáticos, aparentemente encerrando a história.

As Irmãs Wachowski, porém, passaram a sofrer da síndrome da grandiosidade, presas à necessidade de sempre se provarem como grandes cineastas, capazes de criarem universos complexos, ricos e grandiosos; de elaborarem efeitos especiais cada vez mais difíceis e realísticos; de desenvolverem tramas herméticas e permeadas de subtextos filosóficos. Seguiram-se, então, obras como Speed Racer (2008), A Viagem (Cloud Atlas, 2013), O Destino de Júpiter (2015) e a série da Netflix, Sense8.

Todas essas obras audiovisuais – escritas, produzidas e dirigidas pelas Wachowski – são espetaculares em termos de concepção visual, reconstrução de época, efeitos visuais e especiais e sequências de ação de tirar o fôlego. Mas todas pecaram pelos roteiros excessivamente complexos para o chamado “grande público” (A Viagem, O Destino de Júpiter), ou muito estilosos (como Speed Racer). Sense8 até foge dessa estética grandiloquente e era uma série estupenda, mas a temática adulta, inclusiva e tremendamente progressista assustou público, parte da crítica e produção, encontrando fim tristemente melancólico.

Foto: Divulgação (para quem gosta de filme “cabeça”, use dois capacetes!)

Eis que, para o espanto de muitos, foi anunciado que as Wachowski retornariam ao universo de Matrix para um quarto filme: Matrix: Ressurrections¸ 22 anos após o primeiro filme e 19 anos depois do fim da franquia. Lily resolveu participar apenas como produtora, deixando a claquete inteiramente nas mãos de Lana.

E as perguntas que imediatamente surgiram foram: Matrix: Ressurrections vale à pena? Tinha história para contar? Foi convincente em trazer Neo e Trinity 20 anos depois? Os atores – Keanu Reeves (57 anos) e Carrie-Anne Moss (54 anos) – ainda aguentariam sequências de luta e ação como quando estavam na casa dos 30?

Bom, depende…

O filme é bom, muito bom. Tem visual deslumbrante, efeitos especiais magníficos, atores ainda em ótima forma, muita nostalgia, sequências que impressionam e uma justificativa coerente (no contexto daquele universo) para o retorno de Neo, Trinity e Morpheus.

Foto: Divulgação (os novos e os não tão novos assim que, apesar de velhos, estão também novos… ah, você entendeu!)

Mas também é fraco, bem fraco. O visual é, naturalmente, muito igual (e obviamente fiel) ao que se viu na trilogia inicial. Não há nenhum efeito especial “inovador” como os de 20 anos atrás. Keannu Reeves está claramente envelhecido e, como teve que manter em grande parte o mesmo visual barbado e cabeludo de John Wick – cujo quarto filme ele também gravava praticamente simultaneamente a este quarto Matrix – além de não ser lá um “grande” ator, dava a impressão de, às vezes, estarmos vendo o mesmo assassino implacável só que em outra roupagem. Carrie-Anne Moss, todavia, pareceu remoçada e tão ou mais bonita que sua versão jovem. Jada Pinkett Smith retorna como uma Niobe totalmente envelhecida, sob toneladas de maquiagem mal feita. Os novos atores – Yahya Abdul-Mateen II (como um Morpheus “diferente”), Neil Patrick Harris (o “terapeuta” de Neo), Jonathan Groff (como o “chefe” de Neo) cumprem bem seus papeis. Mas, se cabe algum destaque, este vai para a lindíssima Jessica Henwick no papel de Bugs. Há, ainda, participações de atores da saudosa Sense8, o que é muito bacana.

O roteiro – cujos detalhes não serão descritos, para evitar spoilers – é exageradamente autorreferencial. A cada 15 minutos de filme tem-se alguma citação visual ou textual dos filmes anteriores. Mas, o que mais chamou a atenção deste colunista, foi o quase explícito tom parodial que Matrix: Ressurrections faz da própria franquia. Há referências jocosas dos exageros estilísticos a que se permitiu e da necessidade constante de se produzir sequências e reboots, face à falta de criatividade (e coragem) dos estúdios. A presença de Neil Patrick Harris – o eterno Barney Stinson da humorística How I Meet Your Mother – reforçam a atmosfera de quase galhofa – ou, para ser mais condescendente – de maior leveza desse longa. A coerência também foi pras cucuias, como diria minha vó. As pessoas saem da Matrix – com musculatura atrofiada por nunca ter sido usada – e já conseguem ficar de pé, abraçar e beijar, contrariando o conceito desenvolvido no primeiro filme. A volta de certo personagem, com rosto novo, é totalmente incoerente e quase que apenas um fan service.

Foto: Divulgação (não é “Sessão de Terapia”! É Matrix mesmo!)

De modo que a nostalgia é boa, mas acaba se mostrando o calcanhar de Aquiles da obra. Reforça o quanto o primeiro filme foi bom e inovador e, por conseguinte, o quanto os outros dois forçaram a barra. O ponto mais positivo deste novo longa é o protagonismo que, a certa altura, Trinity adquire, empoderando a “mocinha” para um lugar de fala mais relevante. Afinal, por que o messias nunca pode ser uma mulher?

Lily Wachoswki disse, em 2015, que a ideia de uma continuação da franquia de Matrix era “particularmente repulsiva”. Se não chegava a tanto, certamente, porém, não era realmente uma ideia tão boa assim. Claro que o filme merece ser visto; mas está muito longe de ter o impacto de seu antecessor de 1999. Tem mais gosto de comida requentada, como aqueles restos da ceia de Natal que se guarda na geladeira para comer no dia seguinte. É comida de bom gosto e saborosa, mas não deixa de ser mais do mesmo.

Quem estava com saudades de Neo – que “ainda sabe kung-fu” – e companhia limitada – mesmo com rostos novos – certamente vai gostar muito de reencontrar seus personagens queridos. E, espero, pela última vez! Não porque seja ruim revê-los, mas… já deu, né?

Foto: Divulgação (para esse visual, uma colher de sopa de formol todas as manhãs)

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Nota: 3,5 / 5 (muito bom)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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