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Livros

Crítica Literária | A Curva do Sonho – Por Konno

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Ursula K Le Guin é a responsável pelo meu livro preferido: O Feiticeiro de Terramar.

 

Dona de uma escrita primorosa, de raciocínios elegantemente duros e, às vezes, ácidos, Ursula é uma grande e premiada autora de Ficção Científica e Fantasia, ganhando prêmios importantes na literatura.

 

Em suas histórias, ela sempre traz questões comportamentais e sociais profundas e atemporais através de planos de fundo fantásticos e inteligentes.

 

Em A Curva do Sonho (The Lathe of Heaven / 1971) somos apresentados à George Órr, um homem que é capaz de alterar a realidade através de sonhos efetivos – um dos vários estágios do sono. Tentando acabar com esse “distúrbio”, com medo do que possa fazer de mal ao mundo e às pessoas, George se droga para não sonhar. O problema é que ele é pego com as drogas, processado e obrigado a ter sessões com um psiquiatra, Dr. Haber.

 

Haber, então, logo descobre os poderes de Órr e começa a usar eles em benefício próprio através de sonhos induzidos por hipnose, tornando o mundo mais agradável para si. E, aparentemente, ele é tão cego ao seu ego que não enxerga seus erros e seus egoísmos; é como se suas escolhas ruins fossem altamente justificáveis em nome de um bem maior (algo que é bom só para ele, mas que sua mente se esforça para esconder tal fato). E isso acaba por piorar tudo para George Órr.

 

Bom, até aqui temos a sinopse, agora vamos efetivamente às minhas impressões: que coisa difícil falar sobre esse livro! Embora não seja tão complicado de ler, A Curva do Sonho talvez seja uma obra que necessite de um pouco mais de reflexão para ser totalmente absorvida. É uma grande parábola sobre pessoas que usam os sonhos ou a força de vontade de outras pessoas em benefício próprio. Como um chefe, ou um governante, ou até mesmo amigos e parentes vampiros.

 

Acho que uma das coisas que incomodam um pouco é que Órr é passivo demais, ele se deixar levar, se deixar controlar e demora muito até tomar uma atitude. Mas depois, mastigando mentalmente melhor essa história, fico pensando se não é realmente assim: você sabe que estão te usando, sabe que está tudo errado, mesmo assim continua lá tomando as mesmas atitudes, inerte, obediente (se você não é assim, parabéns, mas acredito que a maioria já engoliu algum sapo dolorido, não é mesmo?). Todavia, Ursula deixa claro através de uma personagem importante, Heather, que George tem uma fraqueza aparente, só que há nele uma certa resiliência feroz. Ele aguenta tudo com bondade e calma, num poder oriundo de alguém que está muito cansado, mas que continua em frente, com medo de sonhar.

 

E as questões filosóficas sobre: quem sonha, quem muda, o que é bom ou o que é ruim são sensacionais. Trechos incríveis que precisam ser relidos; não porque são difíceis de compreender, mas que são tão belos que você se obriga a ter aquela experiência novamente.

 

No fim, eu recomendo esse livro com ressalvas porque ele não é algo para se divertir, como em Jurassic Park (do qual que soltei minhas impressões recentemente), por exemplo. É uma obra mais profunda, mais calma, que te mostra o quanto é perigoso sonhar demais ou, pior, viver dos sonhos dos outros.

 

Nota (opinião pessoal): A Edição da Morro Branco é linda, brilha no escuro, mas é bem cara. Acho que esse detalhe divertido poderia ter ficado de lado para baratear o título.

 


Escritor, Blogueiro, Desenhista, Capista, Gamer, Leitor, Telespectador e Entusiasta dos Animais (principalmente dos Dogs). Tenho histórias pela Editora Draco, Amazon, Editora Buriti e Editora Nébula. Também trabalho com Marketing Digital e e-commerce. Gostou de um texto meu? Vem conversar comigo!

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