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Críticas

FREUD | Crítica (tardia) do Neófito

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Sigmund Freud, o pai da psicanálise, é, sem dúvida alguma, uma das grandes mentes da humanidade; alguém para figurar entre os maiores pensadores que o mundo já teve.

Foto: Divulgação

A teoria do inconsciente, do impulso sexual, da libido, do tormento psíquico oriundo da repressão psicológica e as exigências sociais, entre outros estudos, mudaram para sempre a compreensão humana sobre si mesma.

Por mais que muitos, hoje, vejam limitações na metodologia desenvolvida pelo neurologista judeu, nascido na antiga Morávia do extinto império austro-húngaro (hoje República Tcheca) e em algumas de suas teses, é inegável que todo o avanço do entendimento da psicologia humana deve a ele sua base.

Em contrapartida às suas notáveis realizações, as biografias sobre Freud – com destaque para a obra de Elisabeth Roudinesco, “Sigmund Freud na sua época e em nosso tempo” – costumam descrevê-lo como uma pessoa muito tímida, homem rígido em costumes (até um pouco machista com relação a sua noiva e esposa, Martha Bernays), pragmático e firme nas suas ideias, e alguém cuja reconhecida genialidade nunca conseguiu se reverter em sucesso financeiro pleno.

Um de seus livros mais palatáveis, O Mal-estar na Civilização, está mais para um tratado filosófico do que propriamente para um livro médico, sendo uma das obras mais conhecidas e lidas do mundo.

Foto: Divulgação

O fato de o pai da psicanálise ter lidado com tema tão espinhoso e repleto de tabu para sua época vitoriana – a sexualidade humana – além de ter iniciado sua teoria a partir de estudos clínicos acerca da histeria (mal que acometeu inúmeras mulheres sexualmente reprimidas pelo mundo a partir da segunda metade do século XIX até início do século XX), acabou por criar toda uma aura de mistério em torno de sua pessoa. Mistério, esse – infundado ou não – que acaba servindo de base para a série de ficção austro-germânica produzida pelo Netflix, criada sobre o nome e o universo do jovem Sigmund Freud (vivido competentemente por Robert Finster), nos tempos em que trabalhava no Hospital Geral de Viena.

Foto: Divulgação

A série é um primor em termos de cenografia, reconstrução de época, figurino e concepção visual. Além disso, conta com atores dedicados e de ótimo desempenho. Corajosa em sua premissa fantástica (na linha de Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros), a série não se furta a mostrar ou sugerir várias cenas pesadas, como mutilação, estupro (inclusive infantil), violência gráfica, nudez frontal masculina e feminina, optando por um clima quase que totalmente soturno e sombrio, não poucas vezes flertando com o terror. A hipnose, muito utilizada na série como arma, também não é novidade, tendo sido usada no filme Em Transe.

Foto: Divulgação

Sem entrar em detalhes da trama – cujos mistérios são revelados de forma orgânica e até negligentemente no decorrer dos episódios e sem nenhuma grande reviravolta – a história da série se utiliza de vários ganchos da biografia freudiana e de pontos isolados de sua teoria.

Desse modo, o enredo se desenrola na juventude do promissor e questionado neurologista, num período imediatamente posterior ao seu período junto ao renomado médico francês Jean-Martin Charcot, pioneiro na utilização da hipnose como método terapêutico.

Assim, os conflitos de Freud com a cultura judaica e a imponente e tradicional figura do seu pai; a enorme admiração pela mãe (usada na série como a base para sua teoria da repressão sexual); o hábito na cocaína; seu longo e conturbado noivado missivista com Martha Bernays; seus estudos sobre a histeria, tudo é colocado num liquidificador ficcional, ao qual ainda se adicionam o contexto político da época (a anexação da Hungria ao império austríaco e as tensões daí decorrentes), a polêmica vida da realeza austríaca (principalmente do príncipe Leopoldo, interpretado por Stefan Konarske), mais a criação de alguns personagens fictícios, tais como os misteriosos duques húngaros, Sophia e Viktor von Szápáry (respectivamente, Anja Kling e Philipp Hochmair), o inspetor de polícia Alfred Kiss (Georg Friedrich) e a grande estrela da série, a bela e despojada atriz Ella Rumpf interpretando a magnética e intensa personagem Fleur Salomé.

Foto: Divulgação

A trama envolve crimes sangrentos ocorridos nas galerias de esgoto e ricos salões de Viena, tendo por trás uma conspiração política e muita viagem lisérgica! Sim, a série opta por conferir uma carga altamente mística e de suspense no desenrolar de sua história, o que mantém a atenção do público.

Mas o ritmo é irregular. A série – de curtos 8 capítulos – começa bem em seus 2 ou três episódios iniciais, mas vai perdendo força, só se recuperando nos derradeiros dois episódios.

Foto: Divulgação

Há também um certo amadorismo em termos de roteiro: alguns ganchos são simplesmente deixados de lado: o corte no pulso de uma importante personagem é mostrado, mas não ganha nenhum desenvolvimento; a incrível habilidade hipnótica de outra também é subitamente abandonada; o arco da personagem traumatizada pelo ato de violência não ganha conclusão; a história de um incêndio escabroso fica sem explicação; e por aí vai.

No último episódio, há uma conclusão, digamos, satisfatória para o personagem Freud, que o aproxima da pessoa do Freud, deixando, pode ser, uma porta aberta para uma continuação.

É estranho pensar no tímido e genial Sigmund Freud como um atlético detetive nos moldes de Sherlock Holmes, mas o cuidado da produção acaba por conseguir convencer os mais incautos de que isso teria sido possível

Trata-se, em resumo, de mais um bom produto do Netflix, uma estranha mistura de ficção, realidade e teoria psicanalítica, que força a mão em algumas coisas, capricha em outras e deixa uma sensação estranha e inconsciente de que, se houver outra temporada, que seja bem vinda! Mas se não tiver também, está tudo bem!

Foto: Divulgação

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Nota: 3 / 5 (bom)

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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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