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Críticas

HE-MAN – MESTRES DO UNIVERSO: SALVANDO ETERNIA S01 | Crítica do Neófito

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Vive-se um tempo de revisionismo extremo, principalmente no tocante ao que foi produzido e realizado na década de 1980.

E é até natural, ao se considerar que as crianças e adolescentes daquela década – portanto marcadas e formadas naquele período – são as pessoas que hoje se encontram na idade de ocuparem as atuais posições de poder ou destaque na atividade econômica mundial.

A evidente crise de criatividade – que evocamos na crítica de Cruella – também é outro pilar dessa constante e atualmente massiva reciclagem daquilo que foi sucesso nas décadas de 1980-1990.

Alguns desses projetos de releitura são bem-sucedidos, podendo-se aleatoriamente citar, por exemplo, a versão mais sombria de O Mundo Sombrio de Sabrina (2018-2020), a partir do antigo e levinho seriado Sabrina, Aprendiz de Feiticeira (1996-2000).

Já a animação She-Ra e as Princesas do Poder (2018-2020) – releitura do oitentista She-Ra: A Princesa do Poder (1985-1986) – apesar das 5 temporadas, não agradou tanto; aliás, pelo contrário, foi bem criticada por praticamente ter conseguido infantilizar mais ainda a temática já infantil da animação clássica.

Foto: Divulgação (montagem a partir dos cartazes dos programas televisivos)

Citamos, aqui, apenas dois exemplos, ambos da Netflix, de um enorme contingente que hoje abarrota a cultura pop, muito preocupada em conseguir o retorno do investimento na criação de algo que possa ter algo de artístico e, ao mesmo tempo, passível de ser agregado a um produto.

E essa introdução serve de reflexão para o novo resgate que a famosa e já citada plataforma de streaming encabeçou, desta vez da mais que clássica série de desenho animado da década de 1980, que estranhamente, foi produzida, na época, por uma fábrica de brinquedos (a Mattel) com o objetivo de vender produtos (bonequinhos, camisas, bonés etc.).

Claro que estamos falando de He-Man e os Defensores do Universo, que reinou na televisão de 1983 a 1985, teve algumas tentativas de relançamento por outros estúdios na década de 2000, e um horroroso filme live actionMestres do Universo – em 1987.

Foto: Divulgação (à esquerda – acima e abaixo – a animação clássica; no centro, a animação da década de 2000; à direita, o “filme”)

Desta vez, a Netflix resolveu dar a batuta dessa nova animação do “homem mais poderoso do universo” – batizada de Mestres do Universo: Salvando Eternia – ao supernerd Kevin Smith que, claramente, demonstra enorme carinho e devoção pelo material original, sem deixar, em nome dessa reverência, de promover algumas atualizações fundamentais na mitologia e universo dos personagens do desenho clássico.

O trailer da animação comandada por Kevin Smith foi a maior sensação na Semana do Orgulho Nerd, ocorrida em maio deste ano (2021), ofuscando quase todos os demais anúncios da própria Netflix, além de estourado como trending topic absoluto. Mostrando todos os personagens clássicos em belas cenas de ação, numa animação de primeira ao som da irresistível Holding Out For a Hero, na poderosa voz de Bonnie Tyler, o teaser elevou o hype pela estreia do desenho animado lá para a estratosfera! Principalmente quando foi anunciado que não se tratava da releitura do personagem, mas na continuidade direta da saga que foi mostrada nas duas célebres temporadas do século passado.

A estreia ocorreu, conforme anunciado, na sexta-feira, dia 23/07/2021. Muito espertamente, a Netflix – repetindo estratégia aplicada com a penúltima temporada de Lucifer – lançou, a princípio, apenas uma primeira parte da animação, composta pelos 5 primeiros episódios, cada um com aproximadamente 20 minutos. Não demorou nada para que houvesse várias manifestações, dos mais diversos matizes, sobre o desenho animado. Falou-se, por exemplo, em lacração, uma vez que esta primeira parte ficou focada mais na personagem Teela (voz de Sarah Michelle Gellar) filha adotiva de Mentor (voz de Liam Cunningham) e eterno crush de He-Man (voz de Chris Wood), que passa atuar junto a uma amiga negra e tecnológica – com suspeitas de ser namorada – chamada Andra (voz de Tiffany Smith). Também disseram que houve preocupação excessiva com representatividadecomo se isso fosse problema!!! – já que, além da já citada Andra, surge o personagem Grayskull, o primeiro campeão a empunhar a espada mágica e também negro.

Foto: Divulgação (os personagens clássicos em sua nova “roupagem”)

Excesso de purismo (ou seria “conservadorismo”?) à parte, o fato é que esta animação de He-Man é reverente sem ser subserviente ao material original; e atualizadora sem ser descaracterizadora. Quem – como este colunista – curtiu a animação oitentista, suas piadinhas nonsense e lições de moral ao final de cada episódio, vai reconhecer o tom ético da trama; mas a história e a dinâmica foram devidamente equalizadas para os dias atuais. Por exemplo, He-Man finalmente usa sua espada como espada (quem vir verá!). Esqueleto (na excelente dublagem de Mark Hamill) é realmente mal e mortal. Maligna (voz da eterna Cersei, Lena Headley) mantém-se dúbia, oportunista e traiçoeira. Gorpo – mais corretamente Orko (na voz de Griffin Newman) – continua atrapalhado, mas mostra que o duende tem potencial e pode ser útil e perigoso. Os relacionamentos e segredos que permearam a animação de origem têm consequências e desdobramentos nesta nova abordagem.

Não que tudo sejam flores. Algumas soluções de roteiro ainda são bastante primárias e rapidamente resolvem questões que poderiam se mostrar mais complexas, mas, nesse sentido, a produção da Netflix e Kevin Smith se aproxima mais da estrutura narrativa do desenho feito pela Mattel, lembrando suas origens. Mas algumas sacadas foram muito boas, como o novo visual franzino do Príncipe Adam, bastante diferente de seu alterego supermusculoso que, de fato, era a identidade secreta mais mal disfarçada desde a ridícula suposição de que meros óculos seriam suficientes para diferenciar Clark Kent do Superman.

Foto: Divulgação (montagem a partir de imagens do desenho da Netflix®: Príncipe Adam realmente se transformando e o mortal Esqueleto)

A qualidade da animação se destaca por permitir o reconhecimento dos antigos personagens, mas atribuindo a eles mais movimentação, sombreamentos e expressões faciais menos bidimensionais (outra característica do desenho de 1983), além de mostrar que eles podiam mudar de roupa.

Não se deixe enganar! O protagonismo de Teela – ao menos nesta primeira parte – o fato do primeiro Grayskull ser negro, e a crítica ao polarizado dualismo atual (por meio da trama magia vs tecnologia), ao contrário dos reclamões de plantão, é algo saudável e muito bom de ser visto, tendo tudo a ver com a proposta de atualização daquele cativante e incrível universo, criado quase que por acaso pela Mattel, sem conspurcação de sua essência.

Perto de tantas reciclagens mal feitas ou, simplesmente, caça-níqueis, Mestres do Universo: Salvando Eternia é deliciosamente nostálgico e ao mesmo tempo corajoso para corrigir certas incoerências básicas da animação original, revelando-se ótimo passatempo para os novos consumidores e os antigos apaixonados pelo desenho animado.

Deixando excepcional gancho para a segunda parte – ainda sem data anunciada – em que se revela um Esqueleto poderosíssimo e praticamente imbatível, mal dá para esperar escutar de novo o bordão que marcou tantas crianças no século passado: “Pelos poderes de Grayskull! Eu tenho a Força”!!!!!

Foto: Divulgação (o confronto direto entre os arqui-inimigos)

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Nota: 4,5 / 5 (excelente)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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