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Escondido na Netflix

CABRAS DA PESTE | Crítica (tardia) do Neófito

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Que Capitão Nascimento que nada!

O maior herói cinematográfico de ação policial do Brasil mora na (fictícia) cidade de Guaramobim, Ceará, e atende pelo sugestivo nome de Bruceuilis!

Duvida?

Então assista à Cabras da Peste, subestimada produção nacional constante da plataforma de streaming mais famosa do mundo, a Netflix.

Em pouco mais de uma hora e meia de filme, você certamente vai não apenas concordar com este colunista, como vai se divertir horrores vendo essa comédia pastelão que parodia os filmões norte-americanos de duplas policiais, feita com muito coração e estilo.

O destemido policial cearense viaja para São Paulo com a missão de resgatar Celestina, a cabra de estimação de Guaramobim, fundamental para a maior (e única) festa da rapadura do mundo, raptada por um integrante da perigosa quadrilha do misterioso Mão Branca, o maior traficante de “tóchico” do país. Mas, sem se contentar apenas com sua tarefa, o arguto detetive resolve aproveitar a viagem para desbaratar a perigosa organização criminosa!

Foto: Divulgação (Bruceuilis e a “diva” Celestina)

Mas Bruceuilis (vivido com gosto pelo excepcional Edmilson Filho) não faria nada disso sem a ajuda do patétic…, digo, parceiro, altamente organizado,  cumpridor das leis e covard…, digo, “comedido” escrivão da polícia de São Paulo, Trindade (nas mãos do sempre competente Mateus Nachtergaele), que buscava se redimir depois de ter inadvertidamente provocado a morte de um colega, durante missão de infiltração.

E, com essa premissa simplória, tem-se uma deliciosa comédia, que não tem nenhum pudor de reproduzir estereótipos do gênero policial hollywoodiano para tirar o maior sarro deles.

Foto: Divulgação (a “poderosa” força policial de Guaramobim, comandada pela delegada Vitória)

Desse modo, há a “gostosona” policial durona e altamente eficaz, Priscila, no corpo de Letícia Lima; o policial sarado e letal Caíque, vivido por Juliano Cazarré; a coadjuvante simpática e engraçada, motorista de Uber, Josimara (Evelyn Castro); o bandido com cicatriz Raul, interpretado por Leandro Ramos; o político para lá de suspeito Zeca Brito, na composição canastríssima de Falcão; a delegada Vitória, na pele de Valéria “Rossicléa” Vitoriano; e os capangas Rabo de Cavalo (Jéssica Tamochunas) e Ping Li (Eyrio Okura).

Pode-se até se criticar que o filme, fugindo do politicamente correto, reforce certas caricaturas regionais e de minorias, mas seria injusto tal apontamento, uma vez que se trata de uma comédia do tipo pastelão, meio que inspirada em Os Trapalhões (que, sem dúvida, no olhar de hoje, seriam extremamente preconceituosos, machistas, homofóbicos e bullyingnadores).

Foto: Divulgação (a implacável Priscila, descrevendo o plano infalível para pegar o vilão! só que não…)

Cabras da Peste (cuja expressão oriunda do nordeste indica, entre outras coisas, alguém “duro de matar”) busca tirar sarro de tudo e de todos, na linha do humor que tem consagrado Edmilson Filho, protagonista dos dois Cine Holliüdy (2012, 2018) e de Shaolin do Sertão (2016), feitos para parodiar e ao mesmo tempo homenagear o cinema e seus gêneros. Em Saholin do Sertão, por exemplo, a cena final faz clara homenagem às clássicas cenas de luta dentro de ringues – como em Luzes da Cidade (1931), de Chaplin – concomitante à sátira aos filmes de Kung Fu chineses ou da franquia Karatê Kid. Já em Cine Hollüdi, muito da graça vem das legendas que explicam as falas dos personagens, o tempo todo recheadas de expressões culturais e linguísticas típicas, que praticamente parecem criar um dialeto próprio dentro do vernáculo. Ou seja, inserem-se elementos da cultura nacional e regionalizada na estrutura de gêneros cinematográficos específicos, com exploração dos clichês respectivos. A “salada” que sai disso são tais comédias divertidas.

Em Cabras da Peste a paródia está presente nas surpreendentes bem coreografadas cenas de luta; na obrigatória sequência de perseguição de carros (que envolve um caminhão, um carro esporte e uma bicicleta!); na cena de fuga do vilão; na heteronormatividade repleta de testosterona dos “heróis” do gênero; na óbvia sequência de descrição do plano policial; no momento em que os heróis precisam milagrosamente escapar da morte, após a descrição inexplicavelmente verborrágica do bandido; do tiroteio final; e do funeral do policial morto em combate, com direito a canto “gospel” à capela (simplesmente hilário, numa hora que poderia/deveria ser triste). Sobra, portanto, para Máquina Mortífera, Bad Boys, Duro de Matar (principalmente o três), Tocaia, Um Espião e Meio (que já é paródia dos filmes de duplas policiais), 48 Horas, Um Tira da Pesada e outras dezenas de produções do gênero respectivo.

Foto: Divulgação (a famosa cena de campana)

Tudo isso embalado numa produção modesta, mas que soube aproveitar cada centavo do orçamento para cumprir seu propósito de criar aquele universo: fotografia nítida, clara e colorida; boa direção de arte; figurinos adequados; bons (mas limitados) efeitos visuais; e trilha sonora impagável, que vai de Lulu Santos a Adriana Calcanhoto, passando por uma versão inesquecível de Heat Is On – da trilha de Um Tira da Pesada (1984), claro! – e que, em português, virou “Calor do Cão”, na poderosa voz de Gaby Amaranto. Portanto, palmas para o diretor Vitor Brandt!

Foto: Divulgação (haja testosterona)

Não dá, por isso tudo , para assistir a Cabras da Peste com demasiado senso crítico. É preciso fazer concessões, rir de si mesmo (enquanto brasileiro) e da metralhadora de piadas ridículas e divertidíssimas que ele despeja no espectador, para que este desligue um pouco o cérebro exaurido de tanta informação negativa, polarização sociopolítica e notícias desagradáveis que, desde o início desta pandemia de Covid-19 (ou do final de 2018, para alguns, como eu…) têm solapado nossa alma.

Não se trata, em absoluto, de uma pérola da cinematografia mundial, digna de Oscar de melhor filme estrangeiro. Mas cumpre o que se propõe.

Boas risadas!

Foto: Divulgação (e agora?)

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Nota: 4 / 5 (ótimo)


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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