Connect with us

Críticas

SIMONAL | Crítica do Neófito

Publicado

em

Em Como Nossos Pais, um dos maiores clássicos da MPB, a pimentinha Elis Regina canta, com sua voz inesquecível, este belo verso composto por Belchior: “nossos ídolos ainda são os mesmos, e as aparências não enganam não; você diz que depois deles, não apareceu mais ninguém” (disco Falso Brilhante, Phonogram – atual Polygram –, 1976).

Em tempos de tamanho saudosismo como o que se vive atualmente – seja para o bem ou para mal – é interessante notar o quanto o cinema contemporâneo tem buscado retratar seus artistas musicais do passado recente, seja no âmbito nacional – com Cazuza: O Tempo não para (2004), Somos Tão Jovens (2013, sobre Renato Russo), Tim Maia (2014), Elis (2016), Minha Fama de Mau (2019, sobre Erasmo Carlos) – quanto no internacional, haja vista os atuais Bohemia Rhapsody (2018, sobre Freddie Mercury/Queen) e Rocketman (2019, sobre Elton John).

 Foto: Divulgação

Não que o “gênero” cinebiografia de artista seja novidade nas telonas, mas impressiona a regularidade atual de produções dessa vertente, principalmente aqui no Brasil.

O bom desempenho – comercial e artístico – de tais filmes no cenário nacional estimulam novas produções de mesma estirpe.

Eis, então, que surge o atual Simonal, no qual Leonardo Domingues estreia na direção solo (foi codiretor de A Pessoa é para o que Nasce, de 2005), estrelado por Fabrício Boliveira e Ísis Valverde, que repetem a dobradinha como par romântico de 2013, em Faroeste Caboclo.

Foto: Divulgação

O filme, como se pode deduzir, retrata um recorte de aproximadamente 15 anos da carreira do cantor Wilson Simonal (1938-2000), que fez enorme sucesso no país e exterior na década de 1960, caindo, todavia, num ostracismo artístico a partir do início da década de 1970, haja vista seu temperamento irascível, a prodigalidade de seus gastos e, principalmente, do seu envolvimento com policiais do antigo e temível órgão investigativo da Ditadura Militar o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), que redundou na tortura de seu contador Raphael Viviani (no longa, chamado de Taviani e interpretado por Bruce Gomlevsky).

Foto: Divulgação

Num período em que a classe artística se apresentava como foco de resistência ao regime político opressivo, o envolvimento de Simonal com o sistema vigente, ainda que de forma supostamente ingênua, causou-lhe enorme prejuízo artístico, passando a ser discriminado por todos os canais televisivos e tendo shows cancelados por todo o país.

Nesse sentido, o longa de Leonardo Domingues deve ser analisado por dois ângulos: pelo seu aspecto técnico-formal e pelo seu conteúdo (história em si).

No primeiro aspecto, há muito pouco a se criticar. Esteticamente, o filme é quase irrepreensível! Isso já fica claro na brilhante cena de abertura, concebida num plano sequência formidavelmente bem filmado por Domingues, que coordenou uma centena de figurantes e atores distribuídos por vários espaços, numa coordenação invejável, sem perder a naturalidade nas interpretações ou interações entre personagens (no segundo ato, há outro plano sequência muito bem filmado, no momento em que Wilson Simonal deixa o palco e um plateia em delírio cantando em coro Meu Limão, Meu Limoeiro –  composição de José Carlos Burle, década de 1930 – para ir até um bar tomar um aperitivo antes de retornar e terminar a música).

Em seguida, a história volta no tempo, iniciando-se um longo flashback que, na verdade, é o filme em si.

O esmero da produção continua por meio de uma formidável reconstrução de época, fotografia, figurinos, cenografia, cores, estética e imagens de arquivo.

A direção é dinâmica e elegante (até numa cena de sexo), sem perder ritmo ou fôlego.

Talvez o único senão fique por conta da utilização, muito cedo (no meio do filme) de imagens de arquivo com o verdadeiro Wilson Simonal se apresentando no Maracanãzinho (e mais para o final no famoso dueto com Sarah Vaughan), o que causa certa estranheza, pois, deve-se reconhecer, o excelente ator Fabrício Boliveira definitivamente não é facialmente parecido com Simonal (como Daniel Oliveira era com Cazuza, ou Andreia Horta com Elis Regina); assim, a sobreposição de imagens do intérprete com o cantor real quebra parte da fantasia cinematográfica (nesse sentido, o ator Sílvio Guindande – que, no filme, faz Marcos Moran, um antigo amigo e ex-companheiro de grupo musical de Simonal – lembra muito mais o cantor do que o ator principal, na opinião deste colunista).

Foto: Divulgação

Aliás, outro ponto a ser destacado positivamente são os atores, todos muito bons nas suas composições. E, apesar da crítica acima sobre a dessemelhança física entre Boliveira e Simonal, não como não ficar deslumbrado em como o ator conseguiu incorporar os trejeitos do cantor à perfeição, além de proporcionar uma dublagem bastante convincente da voz peculiar de Wilson Simonal (mesma técnica usada por Rami Malek, em Bohemian Rhapsody).

Leandro Hassum, em curta, mas marcante participação, também se destaca como um Carlos Imperial até mesmo sombrio, mostrando a versatilidade do ator para além dos tipos careteiros e caricatos. Caco Ciocler compõem o policial Santana, do DOPS, de forma assustadoramente cruel. Mariana Lima, vivendo a socialite Laura Figueiredo é competente como de usual.

Foto: Divulgação

Lamenta-se apenas o fato de Ísis Valverde, atriz de uma beleza estonteante e sorriso arrebatador, sempre ser levada a cenas muito dramáticas e chorosas, que ofuscam o rosto solar da dedicada atriz, que, no longa, dá vida à Tereza, primeira esposa de Simonal.

O segundo e último aspecto de análise do filme, tocante à história que se conta (roteiro), é que pode merecer alguma crítica mais severa, afinal, ao final da projeção, fica-se com a sensação de que tudo o que foi visto servia apenas de adereço para mostrar o episódio que provocou a queda de Wilson Simonal. A origem humilde do cantor é apenas mencionada numa cena de interação romântica do personagem com sua futura esposa; suas infidelidades são sugeridas rapidamente; o problema com alcoolismo (que culminaria na sua morte, por cirrose hepática) fica apenas subentendido; sua briga com uma poderosa rede de televisão (que lhe causou o primeiro bloqueio midiático, antes mesmo do episódio envolvendo o DOPS) não recebe nem uma menção sequer.

Por um lado, isso poderia ser entendido como uma forma de não subestimar a inteligência do espectador, haja vista a história estar sendo contada por meio da imagem, sem necessidade de didatismos pedantes mediante explicações verbais e descritivas. Contudo, quando se percebe que o longa recorre em diversos momentos a letreiros e fotos de reportagens da época para situar o público historicamente, firma-se a impressão de que faltou algo para a melhor compreensão dos não iniciados ou fãs da obra musical do personagem.

O filme termina com uma cena altamente lírica, que, mudando o ponto de vista da cena inicial, compõe uma bela metáfora com a vida do inegavelmente talentoso artista biografado.

Simonal, portanto, enquadra-se na boa cinematografia nacional, apresentando-se como um diferenciado filme do “gênero” biografia de celebridade, valendo à pena ser assistido.

Foto: Divulgação

_______________________________________________________________

Nota: 3,5 / 5 (muito bom)

_______________________________________________________________________________________________________________________________________

SIGA-NOS nas redes sociais:

FACEBOOK: facebook.com/nerdtripoficial

TWITTER: twitter.com/nerdtripoficial

INSTAGRAM: instagram.com/nerdtrip_

VISITE NOSSO SITE: www.nerdtrip.com.br


Leia outras notícias do Nerdtrip e confira também:

PUBG MOBILE | DJ Alan Walker lança música em parceria com PUBG MOBILE nas finais mundiais do PMCO 2019

CAPITÃO AMÉRICA | Chris Evans pode reprisar o papel de sentinela da liberdade por uma última vez?

BLADE | Wesley Snipes se pronuncia sobre a escolha de Mahershala Ali como “daywalker”

SENSE8 | Crítica (tardia) do Neófito

O CAMINHO PARA CYBERPUNK – APENAS UMA NOITE DE SEXTA | Johnny Silverhand

VIDRO | Crítica (tardia) do Neófito

HOUSE OF X 01 | Os novos deuses mutantes de Jonathan Hickman

C – POP | Well intended love o drama que mexeu com meu coração

BTS | Lil Nas X e RM lançam uma faixa intitulada Seoul Town Road

RUTGER HAUER | Morre o Ator que Deu Vida ao Inesquecível Replicante Roy Batty em Blade Runner

O REI LEÃO | Crítica do Neófito

K-POP | MAMAMOO lança seu MV intitulado ‘Gleam’

KPOP | O grupo sul-Coreano VAV surpreende os fã com novidade

Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

Comente aqui!

Mais lidos da semana