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Críticas

THE UMBRELLA ACADEMY S03 – “De Novo?” | Crítica do Neófito

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Como diz o ditado anedótico criado a partir do famoso enunciado de Lavoisier, “na natureza nada se cria, tudo se copia”.

Na cultura pop, então, isso é quase que a regra. Quando se diz, por exemplo, que um filme é do gênero “comédia romântica”, sabe-se, de antemão, que, apesar de personagens com nomes diferentes, tem-se, irremediavelmente (com adaptações no caso de romances homoafetivos), a “mocinha”, o “galã”, o “antagonista do galã”, o climão entre os personagens principais, o inevitável envolvimento dos dois, o mal-entendido que ameaça o amor do casal e o esperado final feliz. É formulaico, é padrão, é repetição; mas quem gosta vai curtir, porque é exatamente aquilo o que se quer ver.

Observa-se tal fenômeno, também (ou talvez principalmente), nas séries televisivas, que sempre seguem um esquema, um formato ou fórmulas específicas tanto no desenrolar de cada episódio, quanto no arco mais amplo da temporada (veja House, O Mentalista etc.). Aliás, algo que chamou a atenção em Game Of Thrones, tornando-a diferenciada a princípio, foi a total quebra inicial de padrões e expectativas, quando, por exemplo, testemunhava-se a inesperada e surpreendente morte de vários supostos protagonistas e a eclosão de situações cujos resultados eram definitivos (como a paralisia de Bran). Pode ser inclusive por isso que o final da série foi considerado tão decepcionante, pois, apesar do “choque” da morte de Daenerys nas mãos de Jon Snow, o epílogo dos “Jogos dos Tronos” foi bem comum e similar ao de outras séries, com o bem vencendo o mal (a derrota dos Caminhantes Brancos foi, paradoxalmente, tensa e anticlimática) e tudo se acertando.

Respiros como Breaking Bad, a primeira temporada de True Detective ou a minissérie The White Lotus, cujos desenvolvimentos e resoluções de roteiro tomaram caminhos inesperados e originais, são raros.

A Netflix, em tese, com maior liberdade criativa, apostou em programas seriados menos convencionais, tais como La Casa de Papel, Stranger Things e The Umbrella Academy, esta última, aliás, em sua terceira temporada, objeto da presente análise.

Foto: Divulgação (tudo como antes no Reino de Abranches!)

Concebida e escrita pelo músico Gerard Way (vocalista do My Chemical Romance) e ilustrada pelo brasileiro Gabriel Bá, The Umbrella Academy, apesar de copiar a clássica estrutura das histórias de equipe de super-heróis, buscou um desenvolvimento diferente, apresentando tanto super-poderes inusitados (tentáculos que emergem do intestino, capacidade de falar e controlar fantasmas), quanto comuns (teletransporte, super-força, telecinésia, magnetismo etc.); todavia, ambos eram abordados de forma diferente, algumas vezes como se fossem verdadeiras maldições e não dons.

As histórias das HQs que originaram esse universo tinham, propositalmente, uma aura de estranheza, de underground e de transgressão, o que a destacou no mercado, como obra fora do mainstream e de grande originalidade.

Sua transposição para o live-action foi muito bem recebida, contando com alto grau de liberdade criativa por parte dos roteiristas que, no primeiro ano da série (2019 – veja nossa crítica aqui), mantiveram-se mais ou menos fiéis à trama do primeiro arco de HQs produzida (A Suíte do Apocalipse), mas se permitindo modificar, acrescentar, alterar ou exacerbar contextos e características físicas e/ou psicológicas dos personagens concebidos por Way.

O mesmo espírito iconoclasta e rebelde da versão em quadrinhos pôde ser apreciado na transposição para o audiovisual, o que agradou muito tanto a crítica especializada quanto o público em geral, com média positiva, das três temporadas, na casa de 86% e 78%, respectivamente.

O segundo ano (2020 – veja nossa crítica aqui) foi, sem dúvida, o melhor até agora, com aprovação de 90% para crítica e público (dados obtidos do Rotten Tomatoes). O contexto do roteiro, situado na década de 1960 e a envolver o assassinato do Presidente Kennedy, questões raciais, a psicodelia do período, a subjugação feminina e homoafetivas, tudo isso embalado no ambiente fantástico das tramas de super-heróis a enfrentarem o fim do mundo, foi realmente envolvente. Ou seja, mesmo partindo do mesmo tema central da primeira temporada (o “fim do mundo”) o desenvolvimento foi melhor apresentado, culminando com um final bastante instigante (com direito à batalha final grandiosa), que parecia fugir da premissa já trabalhada nos dois anos iniciais.

A terceira temporada (2022) estreou rodeada de grandes expectativas do público, ansioso para ver a disfuncional família de super-seres formada por órfãos adotados e treinados (com requintes de crueldade) por um alienígena disfarçado, colocada em confronto direto com a The Sparrow Academy, equipe que lhe tomou o lugar em outra linha temporal.

Foto: Montagem cortesia do site “Série Maníacos” (passarinhos e guarda-chuvas em confronto)

Mas, a expectativa de uma trama diferente vai, logo no primeiro episódio da terceira temporada, por água abaixo. Ou seja, a The Umbrella Academy, na verdade, estaria mais uma vez diante da ameaça não apenas do fim do mundo, mas o de todo o universo! E tome viagem no tempo, brigas em família, ameaças, brigas em família, algum romance, brigas em família, desencontros, brigas em família… bom: bastante brigas em família, a ponto de lembrar a famosa série global A Grande Família.

Nenhum tema social relevante é visto neste terceiro ano. A história – apesar de envolver o fim do universo – é tremendamente doméstica, centrada única e exclusivamente nos dramas pessoais dos personagens, os quais, em verdade, já haviam sido explorados o suficiente nas duas primeiras temporadas. O avanço da história se dá apenas no contexto subjetivo. Klaus (deliciosamente interpretado por Robert Sheehan) por exemplo, finalmente parece ter dominado parte de seus poderes, assim como a agora traumatizada Alison (a bela Emmy Raver-Lampman) descobriu que seu poder funciona mesmo sem a frase “ouvi um rumor”. No mais, Cinco (o ainda inacreditável Aidan Gallagher) se mantém como um dos mais complexos personagens (o velho no corpo de um adolescente).

Foto: Divulgação (“essa família é muito unida e também muito ouriçada…”!)

Para além disso, a transição de gênero real de Ellen Paige (que vivia a Vanya) para Eliot Paige (agora Viktor) é tratada de forma natural e orgânica, o que é facilitado pelo fato de o universo de The Umbrella Academy envolver aquele já comentado certo grau de estranheza e morbidez. Não que a transição de gênero seja, em si, estranha ou mórbida; mas o fato daquele universo aceitar alto grau de caos – como o corpo macacóide de Luther, o chimpanzé humanizado Pogo (vivido por Adam Godley), a namorada manequim de Cinco, ou a mãe-androide, Grace (Jordan Claire Robbins) – torna a mudança de gênero algo perfeitamente aceitável e até mesmo trivial. Ao mesmo tempo que isso contribuiu positivamente para a causa dos transgêneros, o fato daquele universo ser tão simpático a elementos incomuns faz com que a transição vivida pelo ator/personagem perca um pouco do seu impacto. Mas isso é a opinião de alguém que não tem lugar de fala nesse assunto, de modo que o tema foi abordado pela sua relevância e não pela bandeira da causa.

Os efeitos especiais ganharam um evidente plus nesta temporada, principalmente na visualização da destruição total do universo; em compensação, as tomadas a céu aberto foram evidentemente restringidas, dando-se preferência aos ambientes fechados, principalmente dentro da mansão Hargreeves (sede tanto da Umbrella quanto da Sparrow) e do exótico e misterioso Hotel Obsidian (nos quadrinhos, a prisão interdimensional, Hotel Oblivion), onde se passa a maior parte da ação, com direito a nojentas baratas de gosma verde.

Os atores, obviamente, estão mais à vontade em seus personagens, com algum destaque para Justin H. Min, que precisou mudar totalmente o tom de seu personagem Ben.

Os novatos da Sparrow AcademyAlphonso ou Número Quatro (Jake Epstein); Jayme (Cazzie David); Marcus ou Número Um (Justin Cornwell); Fei (Brine Oldford) e a lindíssima Sloane (Génesis Rodriguez) etc. – saem-se bem em seus papeis, apesar de, alguns casos, tratar-se mesmo de participação do que uma atuação propriamente dita. São, na verdade, escada para a velha The Umbrella Academy.

Foto: Divulgação (uai? série errada??)

De modo que, tirando toda a reflexão social e histórica da segunda temporada, um meio de temporada meio arrastado, e até mesmo com uma luta final bastante anunciada, mas sem maiores consequências, este terceiro ano de The Umbrella Academy termina de forma melancólica e repetitiva, lançando os heróis disfuncionais para outra linha temporal alternativa e novamente complicada (que, de novo, deve envolver a destruição do mundo!). Mesmo representando um pequeno spoiler, pode ser interessante vê-los aparentemente sem poderes numa próxima quarta temporada, mas, na verdade, o que seria bom mesmo, seria uma mudança de ares, algo que realmente mexa as estruturas da série, que está apenas copiando a si mesma, cada vez mais com cópias menos nítidas e desinteressantes.

Que venha o próximo ano!

Foto: Divulgação (entendo a sua indignação, Número Cinco!)


Nota: 3 / 5 (bom)

 

 

 

 

 

 

 

 


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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