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BESOURO AZUL – O DESENHO ANIMADO COM ATORES DE CARNE E OSSO! | Crítica do Neófito

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Confesso que, apesar de me considerar um grande fã e conhecedor de HQs, não sabia da existência do personagem Besouro Azul, até sua aparição na antológica série em quadrinhos Crise nas Infinitas Terras, de 1986, publicada pela DC Comics, no grande restart de seus personagens e cronologia.

O personagem me pareceu simpático, mas não muito mais do que isso. Mal sabia, também, que se tratava de um personagem apenas 9 anos mais novo do que o Superman, tendo sido criado em 1939 pelo misterioso quadrinista Charles Nicholas Wojtkowski (que parece ser um pseudônimo utilizado por diversos criadores, incluindo Jack Kirby, nas décadas de 1930-1940).

Na verdade, em Crises… fomos apresentados à segunda versão do personagem, quando de sua transição da extinta Fox Comics para a editora Charlton Comics, concebida, nos anos 1960, pelo grande Steve Ditko, que alterou boa parte da concepção do super-herói, ao trocar sua identidade secreta (do filho do ex-policial assassinado Dan Garret, para o rico e excêntrico Ted Kord), bem como suas habilidades especiais, que eram pílulas de vitamina e traje à prova de balas para um atleta e artista marcial cercado de bugigangas.

Apesar de alguns traços de originalidade, não era um personagem com grande apelo junto ao público, soando como genérico e, no máximo, como bom coadjuvante. Tanto que seu grande estaria no fato de ter servido de inspiração para a criação do segundo Night Own (ou Coruja), da saga Watchmen, de Alan Moore (que, originalmente, seria feita com os personagens da falida Charlton Comics, recém adquiridos pela DC Comics).

Após Crises nas Infinitas Terras, o personagem ficou esquecido nos escaninhos da sua nova editora, até o ano de 2005, quando Geoff Johns lançou a questionável saga Crise Infinita (continuação direta – e péssimo tributo – de Crises…) e, mais uma vez, sofreu uma radical reconcepção, desta vez imaginada por Keith Giffen, John Rogers e Cully Hamner, os quais colocaram o jovem mexicano-americano Jaime Reyes como o novo alterego do Besouro Azul, cujos poderes, agora, seriam de origem alienígena, por conta de um escaravelho simbionte criado pelos Reach’s, civilização conquistadora de planetas, que guerreou com a Tropa dos Lanternas Verdes milênios atrás.

Foto: Montagem da Internet (as 3 versões do Besouro Azul)

O personagem, desde então, ganhou revista própria e participou de todo grande evento da editora de Mulher-Maravilha e Aquaman, passando até pelos Novos Titãs. Ainda assim, trata-se de um super-herói claramente secundário, de modo que causou certo estranhamento o anúncio de que ganharia uma versão live action para chamar só de sua.

Eis, então, que surge o filme Besouro Azul, estrelado pelo jovem em ascensão Xolo Maridueña, conhecido por encarnar Miguel Diaz, filho de Johnny Lawrence, em Cobra Kai; pela atriz brasileira Bruna Marquezine, no papel de Penny Kord, par romântico do protagonista; e da grandiosa Susan Saradon, encarnando a vilã Victoria Kord.

Com o bom orçamento de 120 milhões de dólares, a direção do longa foi surpreendentemente entregue nas mãos do pouco conhecido cineasta porto-riquenho Angel Manuel Soto, que ficou responsável por tornar o personagem rentável o suficiente para justificar sua continuação no novo Universo DC, que será concebido por James Gunn.

Espertamente, a Warner investiu relativamente pouco para um filme do segmento de super-heróis (muito menos do que os 300 milhões gastos em The Flash, por exemplo); e colocou o peso da responsabilidade do longa nas costas de um diretor e de atores com pouca expressão e que, se conseguirem o prodígio de o tornarem um sucesso (principalmente de público), terão achado a sorte grande; mas caso o filme flope, poderão ser relegados ao ostracismo sem maiores consequências. A única grande estrela da produção – Susan Saradon – já tem carreira sólida o suficiente para temer que um eventual fracasso esporádico arranhe sua longa e bem-sucedida filmografia (enquanto aumenta sua conta bancária em alguns milhões de dólares).

Foto: Divulgação (Susan Sarandon faturando uns milhõezinhos fácil, fácil, além de ajudar os latinos)

Também ciente disso, Angel Manuel Soto opta por um caminho menos usual para uma produção de super-herói: o tom é descaradamente exagerado, expressionista e melodramático.  Nada de minimalismos! As performances dos atores – principalmente no núcleo familiar mexicano do protagonista – são sempre extremadas, seja na alegria, na tristeza ou nas suas interações ordinárias, beirando ao caricato. Se alguém sente dor, urra. Se está com raiva, rosna. Se se descobre apaixonado, suspira. Se triste, faz escândalo. Se tem que gritar, berra. Tudo explícito, sem sutilezas, inclusive com ajuda da mixagem, que destaca todos os sons, dos mais sutis aos escancarados.

Não à toa, uma das referências deixada às claras para o estilo de direção de Soto para Besouro Azul, são as conhecidas e pitorescas novelas mexicanas, cuja inspiração é evidenciada pelo fato da novela Maria do Bairro ser a preferida de Nana Reyes, a matriarca da família, vivida de forma divertidíssima pela veterana Adriana Barraza. E tome close no rosto dos personagens, para mostrar sua vilania, seu amor, sua dor e coisas afins.

O núcleo latino é propositalmente arquetípico: família passional e amorosa, composta pela avó sábia (Barraza), pelo pai bondoso (Damián Alcázar), pela mãe superprotetora (Elpidia Carrillo), pelo tio outsider e injustiçado pela vida (George Lopez), pela irmã rabugenta e ao mesmo tempo carinhosa (Belissa Escobedo).

Foto: Divulgação (família unida no amor e na guerra!)

O capanga-vilão da vez – a versão Dínamo Escarlate mais recente do personagem OMAC: O Exército de um Homem Só (criação do mestre Jack Kirby) – interpretado por Raoul Trujillo, é composto para ser, ao mesmo tempo, cruel, maligno e trágico.

Susan Saradon está correta em sua vilania, conseguindo – sem muito empenho, na verdade – transmitir alguma camada de ironia para a bidimensionalidade de sua personagem, cuja motivação é de uma superficialidade preguiçosa.

Xolo Maridueña e Bruna Marquezine, evidentemente, dão de tudo no que pode ser o papel de suas vidas, entregando-se sem reservas a todos os exageros de composição de seus personagens, com destaque para a “nossa” compatriota, cristalinamente muito talentosa, capaz de entregar uma performance segura e apaixonada, mesmo diante das limitações dos roteiristas na hora de escreverem sua personagem e que, com grata surpresa, é fundamental para a trama, dividindo o protagonismo do filme e interagindo de igual para igual com a intimidadora Saradon em várias cenas.

Xolo não faz nada muito diferente do que faz em Cobra Kai, a não ser no quesito timing cômico. No mais, ele nitidamente está disposto a dar seu máximo, mas suas limitações dramatúrgicas às vezes ficam incomodamente visíveis, com gritos e expressões de ira que lembram as caretas da época do expressionismo alemão.

Foto: Divulgação (agarrando a oportunidade com unhas, dentes e garras, não é, Xolo?)

Voltando rapidamente ao núcleo mexicano é importante destacar o fato de um blockbuster norte-americano respeitar que uma avó imigrante insista em falar no seu idioma natal, bem como boa parte da família Reyes, algo normalmente difícil de ser ver nas produções do Tio Sam. A representatividade de se ter um núcleo imigrante como protagonista é louvável, mas a retratação da família – caricata e exagerada – pode acabar reforçando certos estereótipos construídos sobre a comunidade latina dos EUA.

O roteiro é bastante simples e repete várias fórmulas desse já estabelecido gênero de filmes, mas é gratamente bem fiel às premissas de sua fonte de origem, sem, contudo, ser-lhe subserviente. Há boas cenas de ação, CGI competente, ritmo frenético, mas quase todos os combates se passam à noite, provavelmente para poupar recursos. Os poderes do herói também parecem muito com um amálgama entre o Homem de Ferro com o Homem Aranha do MCU. A ambientação numa cidade fictícia – Palmera Springs, corruptela de Palm Springs – também reforça o tom de farsa e irrealidade da história.

Foto: Divulgação (eu era apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no bolso…)

Unindo tudo isso que já foi escrito, a sensação é a de que o longa emula a estrutura básica das animações da DC, em que tudo acontece rápido; as coincidências convenientes integram a dinâmica da construção da história sem qualquer pudor (como o improvável personagem gênio da tecnologia estar no local certo na hora certa); cada personagem é aquilo que se vê, desprovido de ambiguidade; há pouco senso de perigo real e o encaminhando do roteiro é previsível.

É, portanto, um filme realmente divertido, apesar do limite para o deboche em algumas cenas e decisões criativas. Difícil saber, mesmo com as até agora suas muito boas avaliações, se Besouro Azul – que certamente não integrará o panteão dos melhores ou inesquecíveis filmes de super-heróis – conseguirá se justificar, se pagar e/ou se desdobrar em continuações e continuidades, tendo nova oportunidade de se provar.

Quem, porém, realmente merece outra chance no mercado do entretenimento estadunidense, é Bruna Marquezine que, mesmo estando bem mais magra do que o senso pessoal estético deste colunista curte, continua linda e interpretando como gente grande.

Esperar para ver!

Até a próxima viagem, tripulantes!

(e prestem a atenção na participação especial de outro amado super-herói bastante peculiar no filme e nas cenas pós-créditos!)

Foto: Divulgação (ah, já vai embora?)


Nota: 3,5 / 5 (muito bom)

 


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Sou um quarentão apaixonado pela cultura pop em geral. Adoro quadrinhos, filmes, séries, bons livros e música de qualidade. Pai de um lindo casal de filhos e ainda encantado por minha esposa, com quem já vivo há 19 bons anos, trabalho como Oficial de Justiça do TJMG, num país ainda repleto de injustiças. E creio na educação e na cultura como "salvação" para nossa sociedade!!

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