Críticas
BORAT 2 | Crítica do Neófito
O britânico Sacha Baron Cohen despontou na mídia inglesa em 1998, por meio dos sketches televisivos do seu personagem homossexual e “especialista” em moda Brüno (que, em 2009, ganharia filme solo). Mas a fama mundial viria com a persona absolutamente iconoclasta, debochada e desbocada, Ali G, principalmente após surgir como motorista e DJ particular de Madonna no clipe da música Music, no ano de 2000.
Foto: Divulgação
No entanto, foi com Borat: O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América (de agora em diante chamado de Borat 1), de 2005, que o ator impressionou meio mundo (provavelmente o mundo todo!).
Pouco conhecido nos EUA, Sacha Baron Cohen se utilizou de Borat – falsamente apresentado como um repórter documentarista cazaquistanês real – para satirizar sem dó nem piedade costumes norte-americanos, como o ridículo de certas práticas religiosas (a sequência do “falar em línguas” é célebre!), o puritanismo aristocrático, o racismo, a xenofobia, o antissemitismo, a homofobia e o chamado jingoísmo (termo cunhado na Inglaterra no final do século XIX, e que significa práticas agressivas de política externa e nacionalismo exacerbado).
Pode-se dizer que o humor de Sacha Baron Cohen parte do lugar onde o humor de Jim Carrey para e o de Adam Sandler gostaria de, um dia, chegar. Ou seja, não objetiva apenas fazer rir e entreter, mas, na mais pura tradição dramatúrgica bilateral de tragédia e comédia, visa – pelo ridículo, frívolo e graça – promover uma visão crítica sobre as hipocrisias sociais. E, com Borat 1, conseguiu isso de forma esplêndida!
Tratava-se, portanto, de um filme de difícil continuação, haja vista o formato de falso documentário (envolvendo situações e pessoais reais) e a fama mundial que o personagem alcançou após o sucesso do longa, não sendo com pouca surpresa o súbito anúncio de que Borat: Fita de Cinema Seguinte (título original: Borat Subsequent Moviefilm: Delivery of Prodigious Bribe to American Regime for Make Benefit Once Glorious Nation of Kazakhstan, agora chamado simplesmente de Borat 2) estava prestes a estrear pela plataforma de streaming Amazon Prime Video.
Aliás, Sacha Baron Cohen brinca logo de cara com a fama de Borat na América do Norte, fugindo dos pedidos de autógrafos e fotos ao enfiar um saco de papel na cabeça para poder andar incógnito pelas ruas. Simplesmente hilário!
Por mais forçado que possa parecer, o fiapo de história ficcional de Borat – o personagem, para se redimir das consequências cívicas do primeiro filme, tem que entregar de presente um macaco ou a própria filha para o vice-presidente norte-americano, Mike Pence – é suficiente para reintroduzir o “segundo melhor repórter do Cazaquistão” em solo estadunidense, justificar seus novos disfarces (como um típico sulista norte-americano com sotaque cazaquistanês, ou um membro da Ku Klux Klan – devidamente trajado – para poder entrar numa convenção republicana), sua inserção na vida de cidadãos americanos reais ou ficcionais, e servir de mote para esculhambar com a cultura machista mundial, o sectarismo partidário, o preconceito irracional, o antissemitismo, as fake News (como “fabricação” chinesa laboratorial do Coronavírus e a não existência do Holocausto), e o negacionismo científico (globalismo e terraplanismo).
Foto: Divulgação
Porém, a mais significativa crítica de Borat se direciona para o falso puritanismo e o sexismo das mais eminentes e poderosas figuras políticas dos EUA, como o Presidente Donald Trump, Mike Pence e o ex-prefeito de Nova Iorque, Rudolph Giuliani, envolvido numa cena verdadeira realmente comprometedora e constrangedora com Tutar, a “filha de Borat”.
E isso nos conduz ao fato de que Borat 2 não seria o filme transgressor e crítico que é se não fosse a companheira de Sacha Baron Cohen em cena, a atriz de origem búlgara, Maria Bakalova, no papel de Tutar.
Foto: Divulgação (Maria Bakalova ao natural e caracterizada, em duas fases diferentes, como Tutar)
A bela e jovem atriz – que tirou grande proveito para sua personagem de ser rosto desconhecido nos EUA – literalmente mergulha de cabeça nas loucuras propostas pelo roteiro a 4 mãos escrito por Sacha Baron Cohen, Anthony Hines, Nina Pedrad e Dan Swimer, sem pudores de ficar completamente suja e humilhada no início do filme a sensual e empoderada no terço final. Tente não rolar de rir com a constrangedora cena no baile de debutantes e a “dança da lua”!
Foto: Divulgação
Com menos escatologia que Borat 1 (apesar da cena citada acima), Borat 2 – que ainda conta com a participação elegante de Tom Hanks zoando a si mesmo – consegue, no entanto, ser mais cirúrgico e mordaz na sua crítica, haja vista tocar em temas tão sensíveis e infelizmente muito reais e presentes na vida de todo o mundo atual.
Após provar seu talento dramático como Eli Cohen na série O Espião, e o irresistivelmente cativante Abbie Hoffman em Os 7 de Chicago (dois personagens tragicamente reais), ficam mais clara as “diferenças criativas” que levaram Sacha Baron Cohen a desistir de viver Freddie Mercury em Bohemian Rhapsody, cuja história claramente se pautou pela visão dos demais membros da banda (dizem que, especialmente, pela de Brian May), revelando-se um filme moralista quanto à homossexualidade e excessos hedonistas de Mercury. As escolhas artísticas do ator inglês demonstram que a arte, para ele, serve como ferramenta de reflexão sobre o mundo e a história, sobre escolhas sociopolíticas, algo que o torna muito mais do que um artista sem limites ou papas na língua, mas muito mais alguém que acredita na força da arte – seja ela comédia ou drama – como meio de salvação da humanidade.
Foto: Divulgação
E o melhor: através de Borat 1 e 2, de forma muito divertida!
Foto: Divulgação
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Nota: 4,5 / 5 (excelente)
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